Muitas foram as pessoas que lhe disseram que o seu esforço era em vão, mas Alexandra Cunha nem por um segundo pensou em baixar os braços. Às vezes desanima, mas basta um passeio na praia para recuperar o ânimo. “É importante mostrar ao cidadão comum que ele também pode e é capaz de intervir. Muita gente ainda pensa que só meia dúzia de eleitos pode fazer alguma coisa. Na Liga para a Proteção da Natureza mostramos que qualquer pessoa pode fazer-se ouvir, pode agir e melhorar o ambiente que a rodeia”, explica. E dá o exemplo do Projeto Life Habitat Lince Abutre, que decorre na zona de Mourão, Moura e Barrancos, no Alentejo, Vale do Guadiana e serra do Caldeirão, no Algarve.
Quando começaram os trabalhos, em janeiro de 2010, os proprietários de terras, caçadores e moradores mostraram-se desconfiados, mas depressa perceberam que era importante que todos se sentassem à mesma mesa para em conjunto definirem estratégias. Esta filosofia de cooperação tem sido uma constante nos projetos da LPN. “É importante que a informação chegue corretamente às pessoas para desmistificar a ideia de que os ambientalistas são uns chatos”, comenta, ela que há mais de 10 anos aí trabalha como voluntária.
Nos últimos anos, tem notado que as pessoas se mostram mais sensíveis às questões ambientais. Até os políticos a ouvem com outra atenção. Mas ainda há muito a fazer e, para começar, os portugueses devem fazer-se ouvir.
Alexandra Cunha sabe do que fala, pois também é investigadora científica no Centro de Ciências do Mar, na Universidade do Algarve. Os projetos profissionais que abraça passam sempre pela conservação do meio ambiente e apelam à participação de todo o tipo de pessoas. “Na Liga, gosto muito da intervenção, das reuniões com políticos e grupos de interesse, em que é preciso expor as nossas razões e tentar mostrar caminhos alternativos.”
Como vive em Faro e a LPN fica em Lisboa, é via Skype que os assuntos se tratam. Agora é a construção de barragens que a preocupa, em especial a do Tua, que põe em risco todo o ecossistema daquela zona transmontana, afetando de modo irreversível a vida das populações. E a gestão dos recursos pesqueiros também lhe dá que pensar. Continua, portanto, o ritmo de trabalho intenso.