“Trabalhar com outras pessoas não é fácil, implica passar muitas horas a conviver com colegas com quem não se tem forçosamente afinidade ou até de quem não se gosta.” Teresa Rosa é Psicóloga Clínica na área laboral há vários anos e garante que este é um problema central em todas as organizações. “Grupos coesos, em que as pessoas estão satisfeitas, produzem mais. A agressividade, visível ou latente, tem custos, não só laborais como pessoais, pois as pessoas ‘descarregam’ também em casa, no marido e nos filhos e, no limite, acabam com problemas familiares, que se vão repercutir também na empresa”.
Dos insultos ao isolamento..
Já passou por isto?
Nem sempre é fácil definir a agressividade no local de trabalho. Há comportamentos óbvios, como a violência física e verbal (materializada em ofensas como ‘parva’, ‘burra’ e outros do género), mas também formas mais sub-reptícias de hostilidade . É oc aso de comportamentos sistematicamente ofensivos, humilhantes ou cruéis , feitos numa tentativa de sabotar o seu trabalho (por exemplo, um colega esquecer-se, de forma recorrente e propositada, de lhe passar informação vital, ficar com os créditos do seu trabalho ou roubar-lhe clientes).
São episódios que, isolados, teriam pouca importância, mas que, repetidos de forma continuada (num mínimo de seis meses), podem transformar-se em assédio moral, que permite já agir judicialmente. Os trabalhadores mais novos e as mulheres estão particularmente sujeitos a este tipo de atitudes porparte de superiores ou colegas.
No limite, pode chegar ao terror psicológico, quando a vítima é sujeita a uma estigmatização e isolamento permanentes (‘colocada naprateleira’ e esvaziada de funções), numa atitude que viola os seus direitos. É uma táctica usada quando as empresas querem despedir alguém e não têm razões legais para o fazer.
Um chefe autoritário
Patrões agressivos são autoritários e, geralmente, não são sensíveis a argumentos racionais. Pressionam os empregados, dão-lhes mais trabalho do que seria possível concretizar e, depois, enfurecem-se quando osobjectivos não são cumpridos. “É muito difícil chefiar”, diz a psicóloga Teresa Rosa. “É que não basta ter formação teórica para gerir conflitos, é preciso uma grande dose de auto-conhecimento. Se o chefe não se conhecer a si próprio, osseus valores e limites, não vai ser eficaz nesse aspecto. E pode mesmo causar danos enormes aos trabalhadores: há pessoas completamente destruídas, com aauto-estima diminuída, porque esta é uma relação de poder, desigual à partida”, explica.
*Se você é chefe, lembre-se que é fácil aos seus subordinados perder o respeito por alguém que sistematicamente é injusto. Um superior que não tem a consideraçãodos seus empregados irá, com certeza, perder informações e ideias que poderiam beneficiar o seu trabalho. “É difícil às pessoas terem consciência destas coisas na hora e fazerem o ideal: respirar fundo e contar até mil em vez deperder a cabeça”, alerta a psicóloga Teresa Rosa. “Não é à toa que as empresas investem cada vez mais na formação de chefias, afinal, uma equipa motivada é uma equipa mais produtiva”.
*Se é subordinada , é normal que, no momento da agressão, se sinta intimidada, assustada, humilhada ou, no mínimo, embaraçada. Mais tarde podem surgir sentimentos de raiva e frustração. É quando pensa “mas porque é que não disse isto ou aquilo?” Não vale a pena pensar nisso. De qualquer forma “é sempre melhor falar com o chefe mais tarde, quando ele se tiver acalmado – nessa altura poderá tentar confrontá-lo, defender-se ou esclarecer algum mal entendido”, explica a psicóloga. Sempre de forma calma e ponderada, é claro, ou corre o risco de perder a razão. Também nunca deve ceder à tentação de se “vingar”, sendo agressiva com os colegas. Nãose coíba de procurar ajuda especializada quando sentir que a situação a está a afectar demasiado. Em casos extremos pode sempre recorrer aos mecanismos legais, sindicatos, comissões de trabalhadores.
Subordinados fora do controlo
Muitas vezes o subordinado não é agressivo de forma directa para com o seu chefe, mas de forma passiva. Isto pode passar por coisas tão irritantes como esquecer-se de fazer certas tarefas de propósito, chegar sempre atrasado, levantar obstáculos, tendo uma atitude negativa constante. O objectivo é frustrar os superiores e enfurecê-los. “Geralmente isto acontece como reacção a uma agressão anterior ou a situações que são consideradas injustas,como promoções ou prémios que não lhe são atribuídos.”
*Se você é chefe, não caia na armadilha da agressão como retaliação. Tente conversar e perceber as razões que podem estar por detrás daquele comportamento por parte do seu subordinado. “A agressividade pode gerar um ciclo vicioso, mas cabe aos chefes dar espaço às pessoas para manifestar o seu descontentamento em vez de perpetuar o ciclo”, alerta Teresa Rosa.
* Se é subordinada , lembre-se que ser agressiva só lhe dá satisfação /sensaçãode poder no curto prazo. Com o tempo, vêm as dúvidas e os sentimentos de culpa. Além disso, uma pessoa sistematicamente agressiva vai ter sempre de sepreocupar com as reacções defensivas das pessoas que agride, o que implica estar sempre alerta e é muito desgastante. E acha que assim é que o seu chefe a vai promover? Antes pelo contrário…
Colegas invejosos
Não é muito diferente das rixas escolares! Basicamente acontece quando um colega age de forma prepotente, é verbalmente agressivo ou boicota o seu trabalho, mobilizando contra si um ataque cerrado. “A competição e o desemprego crescentes são factores que tem influência este tipo de comportamento. Os conflitos são mais prováveis em alturas de promoções ou atribuição de prémios, sobretudo quando alguns sentem que há injustiças”, lembra a psicóloga.
Lidar com um colega agressivo consome inevitavelmente muita energia e origina situações de stress. Está sempre a pensar o que ele vai fazera seguir! Ao fim de algum tempo, as hipóteses de se encarar isto com alguma sanidade mental são diminutas porque o seu equilíbrio psicológico é afectado e isto interfere no seu rendimento profissional. Pior ainda é quando o seu trabalho está dependente das prestações dos colegas que o marginalizam. Só vale a pena tentar resolver a questão quando os ânimos estiverem mais calmos. Nessa altura, se o quiser confrontar, lembre-se que o deve fazer de forma ponderada. A agressividade apenas gera mais agressividade. De qualquer forma “o melhor é tentar não levar as coisas demasiado a sério, rir-se e recorrer ao humor”, aconselha Teresa Rosa.
Se você é a agressora, pense nas razões pelas quais é agressiva, vejaexactamente o que despoleta a sua raiva. Desta forma, tem mais probabilidadesde se controlar. Anda cansada? O cansaço também torna as pessoas mais irritáveis.O exercício feito de forma regular é um escape para a tensão e para aagressividade latente. Inscreva-se num ginásio e frequente-o de frequência à hora de almoço.