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– Qual a principal dificuldade das pessoas das pessoas quando se vêem desempregadas?
É, claramente, combaterem o desespero que se instala após terem esgotado a sua rede de contactos natural. Há um vazio que se apropria da pessoa e que a faz gradualmente fechar-se em si mesma. O envio de CVs e as idas às entrevistas passam a ser um ritual penoso e um pouco sem sentido (nestes tempos em particular) que conduzem a sérios problemas de auto-estima e estados depressivos.
-Como manter a motivação quando se sabe que nestes meses é ainda mais difícil encontrar emprego?
“A vida ensina-nos a importância de dois movimentos básicos: agarrar e largar. Basta olhar para as mãos de um bebé acabado de nascer e vê-lo a agarrar e a largar o polegar da mãe. O movimento ativo de agarrar, ou tentar ir atrás das oportunidades, precisa do outro que é o de aceitar a espera como um momento necessário. Numa vertente mais ativa a sugestão é aproveitar o tempo para desenvolver mais competências. Não tanto técnicas mas em outras áreas. Para que isto resulte as ações devem ser feitas de forma consciente, tendo em mente o objetivo de encontrar um emprego com determinadas características. Sem essa consciência podemos estar a fazer uma coisa até útil (exemplo: dar grandes passeios em BTT) mas inconsequente. Usando o mesmo exemplo, podemos querer trabalhar uma dificuldade em persistir em tarefas que exigem muito esforço, característica fundamental para o trabalho de topógrafo que ambicionamos e, nesse caso, os tais passeios de BTT vão ajudar-nos a adquirir esses comportamentos e são úteis para manter a motivação na procura desse emprego”.
– Como combater a desmotivação quando já se está à procura de emprego há meses (ou anos) e há a tentação de simplesmente desistir ir para a praia?
A praia pode ser a melhor receita! Não é o cruzar os braços, mas como disse atrás aceitar o momento de esperar. Com um bom bronzeado e uns passeios determinados à beira-mar pode recuperar-se a autoestima. Uma prancha de surf pode ajudar a desenvolver skills de maior flexibilidade. A longa espera, infelizmente em Portugal é cada vez mais uma realidade, e é uma situação que provoca grande ansiedade e desespero, até podendo avançar para patologias sérias de depressão. Outra boa solução é a pessoa encontrar atividades que gostava de ter feito ou em tempos fez. Podem ser coisas muito simples, mas são habitualmente muito satisfatórias. Recuperar o prazer nessas atividades e fazê-las pensando que é um aproveitamento da oportunidade de estar nessa situação pode ser altamente transformador.
– Algumas pessoas podem sentir-se culpadas por ir para a praia. Faz sentido oferecer-se umas ‘férias’?
Sim! Sim! Descansar e suspender o problema é meio caminho andado para que se criem as condições e surjam as oportunidades. Não é tirar 3 meses de férias (até pode ser) mas assumir esse tempo possível de férias para recuperar energias, como um tempo vital para o processo. As pessoas tendem a desenvolver muitos mecanismos recriminatórios que não são positivos. De que serve eu passar os dias a ler as mesmas oportunidades de emprego nos jornais e a enviar dezenas de CVs quando já me sinto exaurido e sem esperança que algum deles tenha sucesso? As férias são o momento de parar, recuperar energias e começar de novo.
– Será ou não boa ideia aceitar um trabalho temporário (típico de verão, por exemplo) numa área que não tem nada a ver com aquela em que se procura emprego?
Um trabalho temporário pode ser extremamente importante até para se ganhar mais autoestima e recuperar o ritmo de trabalho. Por vezes esse “temporário” acaba por se revelar o sonho que a pessoa procurava (quantas vezes). É uma atitude de aceitação e de experimentalismo que é uma das chaves para uma vida preenchida. Num desemprego de alguma duração, aceitar um trabalho assumidamente temporário pode ser o suficiente para inverter um ciclo de medo para um novo ciclo de confiança. Uma vez no ciclo de confiança, então sim as mudanças positivas são muito mais fáceis.
– E valerá a pena apostar nas substituições de pessoas para férias (pelo mesmo motivo)?
Neste caso a pessoa vai temporariamente fazer algo para o qual tem competências e motivação natural. Pode ser de facto uma nova oportunidade de recuperar a sua auto-estima e uma vez no ativo abrirem-se novos cenários durante esse período.
– Qual é o principal erro que os desempregados tendem a cometer?
Deixar de sonhar. Esse é “o” erro. Sem sonho torna-se difícil traçar um rumo, conquistar, persistir, energizar, celebrar e construir e sonhar mais ainda. O sonho “comanda a vida” já dizia o António Gedeão e é fundamental que uma pessoa numa situação de desemprego não cometa o erro de deixar de sonhar. Este é o combustível que alimenta tudo. Para uma pessoa desempregada é também “a” oportunidade de entender o seu propósito de vida e mudar de rumo se o que levou até aí não o levava a lugar nenhum.
– Que estratégia aconselha a quem está a procurar emprego? O que faz a diferença?
Um empregador quer mais do que uma pessoa competente para a função. Quer alguém que faça a diferença, até (e acima de tudo) nas pequenas coisas. Alguém que tenha energia, capacidade de persistência e resiliência, que saiba pensar, esperar, colaborar e com uma atitude construtiva. A estratégia passa por mostrar quem se é para além da função e dos conhecimentos técnicos.
– A baixa autoestima pode dificultar muito essa procura. Que conselhos dá a quem se encontra nesta situação?
Sonhar novamente! Reavaliar o rumo. Investir em si. Combater a tentação de se fechar sobre si próprio. Estar com amigos. Aproveitar o tempo para hobbies. Fazer trabalho de voluntariado. Tratar da sua saúde. Apaixonar-se pelas coisas boas que lhe acontecem. Aceitar o tempo para desfrutar. Procurar oportunidades para agir.