Há gente que tem o seu quê de polvo. Estende os braços (curiosidade: as lulas é que têm tentáculos; polvos têm braços) a distâncias inimagináveis, é capaz de alcançar e enrolar coisas que ninguém imagina para o que lhe dá jeito – ou para furar bolos – e tem o condão de largar tinta preta, que deixa o ambiente pesado num raio de quilómetros. Estes polvos de duas pernas carregam atrás de si uma nuvem negra e como não são felizes (não sei se os polvos verdadeiros são felizes, mas viver com medo de acabar à lagareiro, num soberbo arroz ou em salada é para deixar qualquer um deprimido) inventam o que for preciso para deixar os outros no mesmo estado. Entre as pessoas polvo e os polvos a sério existem algumas diferenças:
– Polvos verdadeiros são caladinhos, ninguém os ouve…já as pessoas polvo falam muito, muito, muito. Para o que não devem: o mexerico, a provocação, a graxa, a calúnia, o insulto, ou mesmo para o que não lhes convém. Se for preciso usam um braço para agarrar um telemóvel, outro para mandar SMS num segundo aparelho, outro para abrir quantas janelas de chat haja com gente disponível para lhes ouvir as queixas e a peçonha, e mais um para abrir a janela e insultar quem passa na rua. Polvos têm oito braços, pessoas polvo têm oito bocas. Não sabem guardar um segredo, privacidade não lhes diz nada e até contra si próprias são traiçoeiras, porque muitas bocas a falar ao mesmo tempo…todos sabemos que dá asneira. E algumas pessoas polvo falam alto – um luxo a que os polvos não se podem dar, para não serem descobertos.
– Polvos verdadeiros só largam tinta em legítima defesa. Pessoas polvo conspurcam tudo porque sim, pelo mero prazer de contagiar quem está ou de sabotar a felicidade alheia.
Por fim, a semelhança:
– Polvos verdadeiros são moles, pessoas polvo também…deixam-se levar por tudo o que lhes digam (e que por sua vez, transportam para despejar noutra parte) desde que quem fala lhes dê atenção e aplauda. Essa é outra coisa que as pessoas polvo adoram: aplaudir quem lhes possa potencialmente interessar para “lhes dar o tentáculo” (nem que detestem o orador em causa) e ser aplaudidas, de preferência por outros polvos, que é para as palmas serem muitas.
Felizmente eu, que até sou apreciadora deste molusco, tenho o bom senso de evitar as pessoas polvo. Contra estas, é uma pena que não se possa, sem mais aquelas, invocar Chtullu, o polvo-mor da mitologia de Lovecraft: tínhamos o caos e a destruição por uns dias, mas ao menos o mundo ficava limpo. Cthulhu R’lyeh! (Tentar não custa…)
Autoria: Imperatriz Sissi