
1 – Os Adicionadores
A vida no Facebook é uma alegria: nunca se está só. Quando damos por nós, fomos adicionadas a todos os grupos à face da Terra: o Grupo dos Amigos das Pessoas Só Com Um Olho, o Grupo das Pessoas que Não Gostam de se Levantar Cedo, o Grupo das Grunhos Que Acreditam Mesmo que O Mundo Vai Acabar Antes de Dezembro Para Não Terem de Comprar Presentes, etc, etc, etc. E o mal é que podem adicionar-nos sem ai nem ui, sem a nossa assinatura, piscar de olhos, vontade expressa ou sinais de fumo, e depois a pessoa tem de perder parte do seu precioso tempo, quando podia muito bem estar a postar fotos de passarinhos, a desadicionar-se! Não gosto de grupos! Não me adicionem! Não gosto que me peguem no braço!
2 – Os Inspiradores
A propósito de não gosto que me peguem no braço, também já não há paciência para citações e frases inspiradoras, principalmente quando de autoria errada. “Se você fizer o bem, será sempre recompensado – Fernando Pessoa”. Quando se diz que é óbvio que nem aos 5 anos o pobre do Fernando Pessoa escreveu tal lugar-comum, respondem ofendidos “Como é que eu sei, não li tudo o que ele escreveu!”. Ora bolufas. Não é preciso ler tudo o que ele escreveu para perceber imediatamente que tal coisa não escreveu de certeza… O mais dramático é que toda a gente adora. Quanto mais lamechas, mais ‘partilhas’. Suspiro.
3 – Os Anjos na Terra
Ó meninos: anjinhos e florinhas e pores do sol… Está bem, pronto. Se vos faz felizes… Seja tudo pela felicidade alheia…
4 – Os Jogadores
Ver alínea1). Tal como não gostamos de ser ‘adicionados’, também não gostamos que nos convidem para jogar isto ou aquilo. Se quiserem uma partidinha de Scrabble ou sueca lá em casa depois do trabalho, serão muito bem vindos.
5 – Os Divulgadores
Geralmente, são auto-divulgadores. Claro que o Facebook também serve para isso. Mas há pessoas que só dão um ar da sua graça para se autodivulgarem. Atenção ao meu livro que sai dia 15, atenção ao meu blogue, atenção à minha página, atenção a mim. Grrr.
6 – Os Espetadores
Não é a versão novo acordo de ‘espectadores’, são mesmo espetadores, que passam a vida a espetar coisas no nosso mural: piadolas, fotos, os blogues deles, o que for. Versão pesadelo: os que, cheios de boa vontade, postam aquela fotografia absolutamente horrenda que nos tiraram ontem. Não é por mal. É mesmo por amor. Mas lá que estamos mal estamos. E depois não podemos apagar-nos para não a ofender… Pessoal: o mural é de cada um. Se eu quiser ‘partilhar’, vou à vossa página e roubo. Obrigadinha e (não) voltem sempre.
7 – Os Partilhadores
Não há segundo da vida deles que não ‘partilhem’. Este sou eu a levantar-me, aqui estou eu a tomar um copo na praia, esta é a minha Cátia Vanessa na piscina, agora vou ali comer e já venho, que fome que eu tenho, agora já comi, que fome que eu tinha, aqui fica a foto do meu prato… Suspiro. Façam um self-edit à vida, please.
8 – Os Pombinhos
A foto de perfil deles não é uma pessoa, são duas. Estão sempre bem: afinal, estão com o amor da sua vida. “Ai meu queridinho, gosto tanto de ti, somos tão felizes juntos, obrigada por tudo o que me dás, vamos ser felizes juntos até aos 345, não vamos, meu fofinho kiducho?”. Podiam agradecer-se mutuamente em privado, mas não, toda a gente tem de ser testemunha do seu amor. Enfim, pelo menos alguém está feliz. Antes assim.
9 – Os Pais Babados
É a versão fofinho kiducho em pai ou mãe. Toda a gente gosta de ver fotografias de crianças engraçadas, principalmente se acompanhadas de histórias igualmente engraçadas, mas há quem não faça mais nada na vida a não ser postar fotos dos seus rebentos nas mais variadas indumentárias e situações…
10 – Os Identificadores
Olá, Catarina Fonseca, você foi identificada na fotografia de Paulo Jorge E lá estamos nós e as nossas olheiras e o nosso olho estrábico e os nossos pneus ao lado dos músculos do Paulo Jorge e da barriga rasa da namorada do Paulo Jorge e da amiga da namorada do Paulo Jorge, e além disso ninguém tem nada que saber que eu fui à praia com o Paulo Jorge. Grrrrr.
11 – Os Egocêntricos
O país pode passar por revoluções, atentados, golpes de Estado, mas eles nunca se desmancham: as fotos são sempre deles, deles em pequeninos ao colo da mãe, em grandes ao colo do Zé Manel, em médios sózinhos, deles em várias fases da sua existência, das coisas deles, dos eventos deles, dos filhos deles, das pantufas deles, enfim, mais uma vez, o Facebook também é para isso, mas às vezes enjoa.
12 – Os Fantasmas
Eles andem aí, pois andem, mas ninguém dá por isso porque ninguém os vê. Não põem ‘likes’ para não se comprometerem, não escrevem nada no mural de ninguém ‘porque depois não estou para passar o dia a receber notificações’ e nem piam porque o chefe depois pode dizer que eles passam a vida no Faceboook. Escusado será dizer que o ‘quintal’ deles é um deserto, e que só sabemos que eles lá andam quando nos encontram e nos atiram um palmadão nas costas e dizem ‘Então lá tenho visto as tuas coisas no Livro das Trombas’, como quem diz, ‘Se eu tivesse a tua vida, também era o que faria, meu bacano, mas a mim pagam-me para trabalhar’. E há quem diga mesmo isto.
13 – Os Preguiçosos
São a versão ligeiramente acima dos Fantasmas. Estes lá vão semeando uns ‘likes’, assim o suficiente para não serem desamigados, mas comentar que é bom, tá quieto…
14 – Os Infelizes
O mundo é negro, as pessoas são más, o Benfica, nem é bom falar no Benfica, chefe é qualquer coisa que o Zuckerberg não deixa dizer aqui, e a Troika tirou-nos tudo, até o sol, porque não sei se sabem que este ano não há verão para ninguém… Pronto, amigos, a gente já sabe, o mundo é cruel, tomem lá um ombro amigo e não se fala mais nisso.
15 – Os Crípticos
‘Estou feliz! Heheheh’. ‘Vou de férias para parte incerta’. ‘Estou a divertir-me mas não digo com quem’. ‘Ai acabo de ter uma notícia fantástica, lol’. ‘Olá alegria! Vocês sabem porquê’. Sabemos? Não! Não sabemos! Que nervos! Digam-nos, senão ficamos todos com aquele sentimento desconfortável de que fomos expulsos do clube e ninguém nos avisou…