A página de facebook ‘A Criada Malcriada’ começou sem pretensões no final de 2012. Uns rabiscos divertidos, de autoria anónima, satirizavam a relação entre uma patroa queque e a sua criada. Os desenhos tornaram-se virais e a criada chegou a editar um livro este aano (A Criada Malcriada, editora Objectiva). Do autor sabe-se apenas que é tradutor, e que aceitou falar com a ACTIVA através da senhora e da criada.
Então, o natal como é?
Eu acho que não há ninguém que não odeie o Natal. Há é pessoas que disfarçam melhor do que outras. Não é? O Natal tem a receita perfeita para o desastre: uma noite inteira em que temos que ver aquelas pessoas todas que passamos o ano inteiro a evitar, tipo a Mãe, o marido, os filhos e, bom, toda a gente. Uma canseira. Depois, o que se come no Natal, é absolutamente pavoroso. Uns bichos horrendos, tipo bacalhau e peru. E tudo cheio de couve e batata e essas coisas que os pobrezinhos usam para disfarçar a fome.
Há sempre os presentes…
Bom, vamos começar por quebrar um dos mitos natalícios mais duradouros de sempre: claro que é muito melhor receber que dar. Dar é aquela maçada que se tem que fazer para poder receber. E é por isso que toda a gente odeia os presentes de Natal. Gasta-se uma pilha a comprar presentes para dar (e umas coisas giríssimas) e recebe-se lixo embrulhado em papel – e com laçarote. Não é de subir paredes? Esse lixo divide-se em várias categorias: as pessoas que dão presentes que gostariam de ter, as pessoas que dão presentes com os quais tencionam ficar («lembra-se daquele livro que lhe dei de presente no Natal? Tem que mo emprestar!»), as pessoas que dão presentes péssimos a achar que são óptimos, as pessoas que dão presentes óptimos sem querer e, finalmente, as pessoas que compram todo o lixo de uma vez, mandam embrulhar e depois tiram à sorte a quem hão-de dar. Sim, como eu. Por isso, receber presentes de Natal ainda é menos emocionante que ler um livro do José Rodrigues dos Santos.
E o natal das criadas, como é?
É um pesadelo, pelo menos para mim. Desde que há essas séries de televisão tipo Downton Abbey, ficam imenso à espera de passar o Natal connosco e de comer o que sobra da mesa e depois convidávamos todos para virem cá a cima beber um porto e assim. É um serviço péssimo que prestam às coitadas, porque cá em casa não há nada disso. Mas dou-lhes presentes, claro, não sou um monstro. Este ano vou dar-lhes a 13ª edição do meu livro de etiqueta Se Não Tem Nada de Bom a Dizer, Pelo Amor de Deus, Não Diga Nada, no caso de terem perdido os que lhes tenho dado nos outros anos todos. Não sou o máximo de magnânima? Eu acho.
Qual é o segredo para aguentar o natal?
Como é segredo, vou ser críptica (adoro ser): é transparente, levemente amargo e vem numas coisas de vidro, em doses de 70 centilitros. E não se esqueçam: a moderação é inimiga da perfeição.
E desejos para 2014?
2014? Que 2014? Não me diga que é essa coisa petit bourgeois de ter a mania de dividir as coisas em horas e dias e meses e anos e assim… Poupe-me.
E a Criada, o que deseja para 2014?
Olhe menina, eu ia cair na esparrela de pedir que fosse melhor do que este ano que acaba, mas é o que faço sempre e parece que é sempre pior, raça dos anos! Por isso, olhe, se for igual a este, já não vai nada mal! Ah, e que a a Toica, ou Tóina, ou lá como se chama o raio da mulher se vá embora de Portugal, que eu não percebo nada de política, mas isto está que não se pode.