Sabe o que o seu filho bebe quando sai com os amigos? Quais as quantidades de álcool ou as misturas que faz? Se não sabe deveria saber. Os danos podem ser irreversíveis.
Se na década de 70 os jovens começavam a beber álcool por volta dos 18 anos, hoje em dia a média de idades ronda os 13, 14 anos. Os adolescentes apelam à condescendência dos pais para poderem sair com os amigos recorrendo à velha máxima “se os meus colegas podem por que é que eu não posso?”. Os pais querem impor limites mas muitos têm dificuldade em dizer “não”. Se pensa que a lei protege os seus filhos do consumo de álcool nas saídas à noite está enganado. Não é preciso ter 18 anos para comprar bebidas com relativa facilidade. Numa típica noite lisboeta na zona de Santos, antes da meia-noite, já dois jovens tinha bebido meio garrafão de vinho branco com gasosa e uma sangria de um litro. Ainda a noite era uma criança, como eles. Para Tiago, o importante é beber e logo se vê como a noite termina.
“O máximo que me aconteceu foi ir parar à esquadra ou ao hospital. Numa das vezes ligaram para o meu pai e ele foi-me buscar, da outra vez não, fui de ambulância.”
Episódios aos quais não dá demasiada importância e que não impedem Tiago, ainda menor, de voltar a sair à noite de garrafão na mão.
Isabel e Tomás têm 15 anos. À sexta e ao sábado à noite têm por hábito sair para Santos ou para o Bairro Alto. Os pais têm conhecimento. Quando os encontrámos tinham na mão copos de meio litro de cerveja. Sendo menores, a pergunta era óbvia e a resposta estava na ponta da língua.
“Em todo o lado, literalmente em todo o lado. Vou a um bar peço uma cerveja e vendem-me ou peço a um amigo meu para comprar. Eles não fazem assim grandes restrições, conseguimos beber uma cerveja ou outra sem problemas. Arranjamos sempre alguém com 18 anos que consiga comprar.”
Miguel, 17 anos, confirma que não é sequer uma preocupação comprar álcool quando vai sair com os amigos. “Acho que é mais ou menos à vontade, vendem mais ou menos à vontade. Eu já bebi várias cervejas e um ‘shot'”.
Não é só a idade com que os jovens começam a criar hábitos de consumo de álcool que é motivo de alerta. A forma compulsiva com que se relacionam com a bebida é ainda mais preocupante. “Binge drinking” é a expressão utilizada para descrever o consumo excessivo de álcool num curto espaço de tempo por quem procura a chamada “pedrada” rápida. A ideia de divertimento, de estar com os amigos, de beber socialmente perde-se.
Fábio Costa conhece bem esta realidade. Aos 14 anos começou a sair com os amigos e uma noite sem álcool não era noite. Em pouco tempo, o que procurava era beber para “apagar”.
“Até passar para o absinto foi rápido. Porque o absinto era forte, era o mais forte que havia, era mesmo para ficar ‘down’, era mesmo até cair.”
O álcool passou a prioridade, a escola ficou para trás e o que era hábito aos fins de semana passou a rotina diária.
“A primeira vez que entrei em coma alcoólico tinha 15, 16 anos. Comecei a beber copos de penálti e depois lembro-me de cair. Só me lembro do hospital, de estar a soro. Não me lembro de mais nada.”
Se à idade cada vez mais precoce juntarmos o consumo de álcool desmedido, o “cocktail” é explosivo. As consequências para a saúde dos jovens podem ser irreversíveis.
Está comprovado que o consumo de álcool por menores provoca uma diminuição da massa cinzenta, afeta o desenvolvimento da zona frontal do cérebro, tem implicações nos níveis de atenção, de memória e cria instabilidade emocional.
Um adolescente que inicie um consumo de álcool aos 13 anos e que beba com frequência tem uma forte possibilidade de desenvolver dependência alcoólica aos 18 ou 19 anos. Razões de sobra para que os pais reflitam sobre os limites e os conselhos que dão aos filhos. Neide Urbano, pedopsiquiatra no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, defende que a prevenção começa em casa. “Os pais devem passar aos filhos a ideia de uma cultura do saber beber pelo prazer e não pelo objetivo da embriaguez”.
No próximo “E se fosse consigo?” um jovem visivelmente embriagado prepara-se para entrar no carro com a namorada e conduzir. Os protagonistas são atores mas a cena acontece na realidade. Será que alguém está disposto a intervir?