
Peopleimages
Descontando o tempo que nos tomam necessidades básicas como comer e dormir, passamos dois terços da vida a trabalhar, afirma a psicóloga espanhola María Jesús Álava, a autora de ‘Trabalhar sem Sofrer’ (Esfera dos Livros). Demasiado tempo para gastar em angústias e conflitos. “As pessoas trabalham hoje muito mais horas, debaixo de mais pressão e com menos gente. (…) As pessoas queixam-se, sobretudo, de muita pressão, de não serem valorizadas, de não terem tempo para a vida pessoal e de conflitos com os colegas.” Falámos com a autora e descobrimos as suas soluções para estes problemas.
Livre-se dos ladrões do tempo
“Em Portugal e Espanha temos uma produtividade baixa. Passamos, em média, mais uma hora no trabalho que os nossos homólogos europeus, mas perdemos muito tempo”, diz a psicóloga. “Estudámos empresas onde os funcionários saíam às sete da tarde e percebemos que, com uma melhor gestão de tempo, poderiam sair às quatro. Em lugar de diminuir, a produtividade aumentou.” Eis algumas soluções eficazes:
Simplifique: não perca tempo com perfeccionismo desnecessário;
Livre-se dos ‘colas’ que vêm meter conversa; combine, antes, um café com eles no tempo livre;
Realize listas de tarefas e prioridades;
Fixe horários de começo e final de reuniões de trabalho para que não se estendam indefinidamente;
Atenda apenas telefonemas urgentes;
Feche a caixa de e-mail e marque uma hora para ler e responder;
Fixe sempre uma hora de saída; se não o fizer, as tarefas arrastar-se-ão;
Seja pontual.
Não se deixe envenenar pela inveja dos colegas
É uma das principais queixas nos consultórios espanhóis, segundo a psicóloga. “Sobretudo em empresas muito competitivas, onde há gente ambiciosa, que não se importa de mentir ou armadilhar outros para alcançar objectivos. Gera uma insatisfação tal na pessoa que a sente, que o organismo está sempre sob tensão e tem um desgaste tremendo”, afirma a psicóloga. “As pessoas que sentem inveja desenvolvem doenças e é das coisas que mais dificilmente se cura. Não invejam o que os outros têm; invejam que sejas feliz, e isso não se compra. O invejoso deixa a sua felicidade nas mãos dos outros, essa é a sua grande tragédia.” Ao lidar com um invejoso:
Não responda a provocações;
Controle as emoções;
Não responda às perguntas que não quer responder;
Não modifique a sua forma de agir e trabalhar, mesmo que a pressionem.
Aprenda a desligar quando sai do emprego
“O stresse é a segunda causa de baixa na Europa. Está provado que produz enxaquecas horríveis, úlceras e dores de estômago e outras reacções fisiológicas adversas. O stresse baixa as defesas imunológicas, e há mesmo quem desenvolva processos de cancro depois de etapas de stresse intenso”, oberva María Jesús. Para bem da nossa saúde, vida profissional, pessoal e sanidade mental, reforça a ideia de que é preciso desligar assim que saímos do emprego:
Não leve preocupações de um sítio para outro. Se não conseguir fazê-lo, não terá energia mental para resolver questões importantes;
Há outras áreas da sua vida tão ou mais importantes que o trabalho; divirta-se e aproveite-as ao máximo;
Não chegue mais cedo ou saia mais tarde do emprego por sistema.
Não espere que o chefe lhe dê valor
“É lógico gostarmos que ele o faça, mas não devemos esperar isso para nos sentirmos bem”, aconselha a psicóloga. “Poucos são os chefes que sabem valorizar as pessoas com quem trabalham. Muitos subiram na carreira, mas isso não significa que saibam dirigir pessoas. Temos de nos sentir bem em função da nossa autovalorização, mesmo que tenhamos um chefe mal-educado, agressivo e que nunca nos dá valor.” Somos ensinados desde pequenos a esperar pelo reconhecimento alheio para termos autoconfiança. “É um dos grandes erros da educação: o nosso bem-estar não pode depender dos elogios dos outros ou estaremos sempre nas mãos deles.”
Treine a assertividade
Dizer ‘não’ por sistema retira-lhe credibilidade profissional. No extremo oposto, estão as pessoas que não conseguem negar nada que lhes peçam. Essas são ‘carne para canhão’, segundo María Jesús: “Depressa terão chefes e colegas que os identificam e se aproveitarão disso. Não saber dizer ‘não’ é estar nas mãos dos outros.” Para evitá-lo, precisamos de assertividade. “Uma pessoa assertiva escuta muito, observa bastante e estabelece com cada pessoa as estratégias de comunicação adequadas. Quando dizemos um ‘não’ lógico e coerente, é impossível rebater os nossos argumentos. O importante é que seja claro e contundente, mas não agressivo.” Olhar nos olhos, com ar sério, evitar expressões como ‘não insistas, por favor…’ são truques aconselhados.
Quando é hora de mudar…
“Está na hora de sair da empresa quando nos humilham, quando tentam que renunciemos aos nossos valores ou quando há uma grande diferença entre aquilo que a empresa diz e faz, que promove grandes injustiças. Mas sempre tentando estar bem connosco próprios antes de irmos trabalhar noutro sítio.”