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©Nash Does Work

À conversa com Rui Miguel Abreu sobre a cultura portuguesa, nomeadamente sobre a música eletrónica que se faz por cá, acabámos por descobrir muito sobre este género musical e a sua relevância no nosso paronama cultural contemporâneo. A conversa começou por esse mesmo tópico e o jornalista da Blitz desvendou que a evolução da música eletrónica, em Portugal, tem sido tremenda e dramática, no bom sentido,

“Em vinte e tal anos deram-se passos de gigante. Portugal foi sempre um país muito tradicionalmente dominado, acho eu, pela música rock por um lado, pela melancolia do fado, por outro. As festas normalmente tinham um caráter religioso e até aos anos de 74 a música servia para protestar ou para fingir que nada de mal se passava . E, então, a nossa tradição musical nunca esteve muito ligada à pista de dança”.

Contudo, o jornalista da Antena 3 contou que, a partir dos anos 90 ,começaram-se a sentir algumas alterações nesse aspecto, dado que a qualidade dos produtores e das editoras que operam nesta área fez com que a atenção do público para com esta música começasse a crescer. Hoje há festivais dedicados especificamente à música eletrónica – como é o caso do Lisboa Dance Festival – e a percepção internacional daquilo que se faz em Portugal é notória e reconhecida, como são exemplo os Buraka Som Sistema e os Batida, entre outros.

“Diria que o panorama cultural nunca esteve, nem nunca gozou de tão boa saúde, e nunca foi tão entusiasmante como é agora. Vivemos num presente muito excitante”, confessou.

Para o jornalista, aquilo que faz um bom músico eletrónico é o mesmo que faz um bom músico de qualquer outra área. Para Rui Miguel Abreu, durante muito tempo um bom tema eletrónico talvez não fosse tão bem encarado enquanto produto musical, porque havia aquela ideia ou mito de que, para se fazer música eletrónica, era preciso carregar só num botão.

“Quando se vê, por exemplo, um produtor que é músico também, como é o caso do Dj Ride ou o Moullinex, e a forma como eles têm crescido ao longo dos anos, percebe-se que, tal como num guitarrista, ou num pianista, a formação é continua e ao longo de toda a vida; ninguém aprende a carregar no botão power de uma maquina e já está. Portanto, o que faz um bom produtor de música eletrónica é a imaginação, é a criatividade, é a originalidade, é a capacidade de trabalho, no fundo, são caracteristicas que se podem aplicar a qualquer músico de qualquer área musical”.

Rui Miguel Abreu diz que existem várias formas de distinguir os vários tipos de música eletrónica, mas as principais são o padrão rítmico e a velocidade rítmica, mas existe, num todo musical, um conjunto de regras que, a par dos instrumentos e das ferramentas que se usam, determinam se uma música é hip pop e a outra é tecno ou house e por aí fora.

“Às vezes pensamos: então, mas se os instrumentos que se usam no metal e no rock alternativo são os mesmo, iguais – baterias guitarras, baixos -, porque que um é uma coisa e o outro é outra?” Até é difícil de se explicar a uma pessoa que não seja entendida no assunto, mas há diferenças e óbvias!”

Uma das coisas que distingue o rock alternativo do metal são o tipo de letras e os assuntos que se abordam nessas mesmas letras, como também o tipo de imagem associada. São distinções e técnicas que se aplicam, igualmente, à música eletrónica.

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©Nash Does Work

Ora, se a ópera foi, no seu auge do século XIX, a música popular por excelência, que se ouvia e consumia maioritariamente, hoje, a música eletrónica é, entre outras, como a Pop, provavelmente, a música popular por excelência.

“Talvez seja mais fácil não se odiar a música eletrónica pela simples razão que se apresenta em todo o lado. Ligamos a televisão e ouvimos música eletrónica como banda sonora dos anúncios, no meio do telejornal, nos filmes, nos festivais de verão. Ou seja, a sua presença é tão grande que nem se dá por ela”.

Rui Miguel Abreu diz que não podemos odiar uma música sem sequer conhecê-la, aliás, não há ninguém neste mundo que ‘odeie’ música porque a música faz parte do ser humano como uma arte de apreciação e de socialização, apenas existe falta de conhecimento. Contudo, estas novas gerações estão de ouvidos mais abertos e já não existem aquelas ideias de tribos, como haviam na escola, onde haviam os betinhos, os surfistas, o metálicos…

“Hoje em dia quem liga o spotify ou quem ouve musica do youtube, começa pelo Drake e de repente está ouvir a Taylor Swift, ou os Metallica, ou os Radiohead, Norah Jones, e para estes públicos é muito normal andar entre géneros”, remata.

É o que se nota nos festivais de hoje, onde os miúdos abraçam com a mesma intensidade e força o Dj que terminou a noite como a banda de rock que abriu o festival, e isso, para o jornalista, é muito importante porque deixou de haver barreiras, deixou de haver essa noção de identidade musical, para passar a ser um todo, para podemos dançar e gostar de tudo.

O jornalista referiu que em Portugal ainda há muito por onde crescer, mesmo um festival como Lisboa Dance Festival tem ainda muita margem para percussão, mas realça:

“Está aparecer, pela primeira vez, uma geração, que nunca ouviu um outro tipo de música a não ser esta, e que vai inventar novos géneros, novas maneiras de dançar”.

Por isso, nas Talkshows do festival, é importante a partilha e a promoção de discussões entre os músicos e os vários participantes, porque dali vão surgir novas ideias, novos caminhos, novas maneiras de encarar este género musical.

No fim, a música sempre foi um motor de celebração. Para Rui Miguel Abreu, é “como uma ‘cola’ social que nos define como sociedade”.

“Qualquer coisa que nos faça sair do sofá e sair para fora das redes sociais, é super positiva, e a pista de dança tem quase uma dimensão utópica, somos todos iguais, estamos todos no mesmo plano horizontal, temos todos o mesmo tamanho, estamos todos ao mesmo ritmo. Por isso, há ali quase uma dimensão politica no ato de dançar, porque dançar pode ser resistir também, e ultimamente o mundo anda agitado com problemas de ordem social, econômica, politica, e de repente olhamos para o lado e estamos a dançar ao lado de uma pessoa que tem uma cor diferente da nossa, uma religião diferente, nacionalidade diferente, e tem uma língua diferente, mas mexe-se da mesma maneira e isso ensina-nos qualquer coisa sobre o mundo, portanto, se calhar a musica de dança vai salvar o planeta.”

Rui Miguel Abreu falou ainda sobre as redes sociais e comentou que as pessoas, hoje em dia, as valorizam de forma errada.

“Esta refeição vale a pena, não pelo que ela me está a saber no palato, mas porque vou poder fotografá-la e partilhá-la; estas minhas férias servem para as fotografar para mostrar aos meus amigos, e parece que a mesma coisa acontece com os concertos: já não basta estarmos lá e estarmos a desfrutar, temos que mostrar ao resto do planeta que estamos lá.”

O jornalista continuou ao referir que existe um lado perverso desse gesto – devido ao esforço de estarmos de comentar para o resto do planeta, estamos, ao mesmo tempo, a excluir-nos da experiência.

“É um paradoxo estúpido que as pessoas ainda não superaram”, comenta. “Acho que as pessoas vão aprender isso naturalmente, a verdade é que ainda estamos todos a aprender a lidar com esta realidade. Acho que todas as pessoas que tiveram todos os minutos com o telemóvel no ar, perderam qualquer coisa de importante que se passou em cima do palco”.

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