*artigo publicado originalmente em abril de 2015
“O currículo é uma ferramenta de marketing pessoal que tem de transcrever quem sou e provocar em quem está a lê-lo vontade de me conhecer”, lembra a especialista em gestão de recursos humanos, Laura Acciaioli. É preciso abandonar a ideia de que ele é um documento mais ou menos estanque, que vamos atualizando de vez em quando com mais uma experiência de trabalho. Ele tem de se adaptar ao tipo de funções que quer seguir, à profissional que quer ser – não àquela que foi.
– “Fazer um currículo é contar uma história”, lembra Laura. “Não pode ter uma estrutura pouco lógica, erros de português ou andar a saltar de assunto em assunto.” De preferência, não deve ter mais de duas páginas – a menos que tenha uma experiência profissional mesmo muito sumarenta.
– Os modelos padronizados nem sempre são os melhores. “A maior parte dos currículos que tenho visto vêm no modelo de Europass. Não é o meu preferido porque torna as pessoas todas iguais e formatadas.” Até pode parecer uma vantagem, mas para Laura não é. “Um profissional de RH vê 200 ou 300 currículos e quando aparecem todos no mesmo formato é meio caminho andado para os começar a ler todos na diagonal.”
– Dê-lhe o tom certo. “Somos mais conservadores neste aspeto mas, conforme o tipo de empresas ou funções a que a nos candidatamos, o currículo pode ser escrito de forma mais ou menos descontraída e criativa.”
– Cative nas primeiras linhas. Faça com que a pessoa que lê o currículo queira saber mais sobre si e chamá–la para a entrevista. Em menos de 10 linhas, para além de dizer o que faz, diga mais sobre quem é como pessoa, aconselha Acciaioli. “No início do documento, faço um resumo pessoal, um parágrafo ou dois que descrevem o candidato e que têm que agarrar o leitor. Mais do que as habilitações ou experiência de trabalho de um candidato, as empresas procuram pessoas que se encaixem na equipa. Tipicamente, os motivos que levam um colaborador a sair prendem-se com incompatibilidades com a chefia ou colegas, ou incapacidade de se adaptarem ao tipo de cultura. Neste parágrafo inicial posso dizer que gosto de trabalhar em estruturas mais rígidas ou mais flexíveis; se gosto de tarefas de rotina ou se prefiro ter sempre novos projetos, se trabalho melhor sozinha ou em equipa. Há pessoas que escolhem fazer isto no início para não perderem tempo com entrevistas de emprego em empresas onde não se encaixam.” Pode abster-se de o fazer, se prefere ser chamada por todo o tipo de empregadores.
– Que mais-valia dei às empresas onde trabalhei? Dar esta perspetiva valoriza qualquer currículo, mas a maioria das pessoas não o faz, observa Laura. “Na descrição de cada experiência profissional deveríamos quantificar a mais-valia que representámos para essa empresa. O que é que eu fiz que levou a empresa a ganhar ou poupar dinheiro, que simplificou e economizou tempo, em termos de processos de trabalho?” Tarefas ou iniciativas que não lhe parecem importantes podem fazer toda a diferença.
“Há dias fiz um currículo para uma rapariga de 20 e tal anos. Quando lhe perguntei quais as mais-valias que tinha dado à empresa onde tinha colaborado antes, disse que não tinha nada de grande valor. Uma das realizações que lhe pus no currículo foi o registo de entrada de correio que ela criou e que poupou horas de pesquisas. Este tipo de coisas, das mais simples às estratégias que se refletem em milhões de euros, têm que lá estar.”
– Você não é só aquilo em que trabalha. Cada vez mais, os empregadores têm em conta os interesses extralaborais dos candidatos. Depois da experiência profissional e habilitações, fale de alguns dos seus outros interesses. Mostram-na como uma pessoa ativa e empenhada. “Experiências de voluntariado contam muito, sobretudo para quem procura trabalho lá fora.”