
franckreporter
Pensar em relações abusivas significa, por norma, imaginar cenários de violência física ou verbal. Contudo, nem sempre é assim. Existe um tipo de relação abusiva mais que comum, e cujos sinais de alarme podem começar de forma “leve”, mas que aumentam gradualmente, quase sem nos darmos conta. Falamos dos relacionamentos dominados por atitudes coercivas.
“Quando as pessoas pensam em relações abusivas, por norma, pensam no que mostram mais na televisão, abusos físicos. Mas isso ignora todos os outros tipos de abuso“, refere a terapeuta familiar e de casal Sara Stanizai. A coerção e o controlo são as formas de abuso mais vulgarmente negligenciadas, já que parecem não ser tão graves com outro tipo de violência. Mas que, a longo prazo, podem mesmo fazer um dos membros do casal sentir-se anulado ou sufocado.
Quer seja a pressão para ter relações sexuais sem preservativo, quer seja o controlo sobre os nossos gastos financeiros, sobre a nossa atividade nas redes sociais, várias são as “versões” deste tipo de abuso, que pode danificar o nosso bem-estar, auto-estima, ou mesmo o nosso desempenho familiar.
A questão é que, muitas vezes, as pessoas que são abusadas desta forma, não descrevem o relacionamento em tais termos, pelo menos ao início. “Elas sabem que algo não está bem na relação, mas pensam ‘bem, ele nunca me bateu’“, afirma Beth Hassett, CEO da organização contra a violência doméstica WEAVE.
E o problema principal é mesmo a atitude da outra pessoa, inicialmente: podem ter ações exageradas de amor, através de presentes ou surpresas, por exemplo, mas que, com o passar do tempo, se podem tornar num controlo excessivo. “Começa com ‘claro, quero que tenhas amigos e preocupo-me contigo’, depois passa a ‘não gosto desses amigos, mas podes estar com eles’, em seguida para ‘vais mesmo ter com eles e deixar-me aqui?’, e, por fim, ‘como te atreves a ir ter com eles de novo? Proibo-te!‘”, explica Stanizai.
O resultado? Isolamento social, afastamento de família e amigos, e maior dependência do companheiro. E quanto mais mostrarmos dependência do nosso parceiro, mais satisfeito ele ficará. O controlo das finanças, ao sugerir, por exemplo, para sairmos do nosso trabalho, de modo a que ele fique responsável por nos sustentar, ou sexual, através de uma tentativa de fazer tudo à sua maneira, são outras formas comuns de abuso.
“Muitas vezes, dizem ‘não quero que mais ninguém te magoe, por isso é que vejo as tuas redes sociais’ ou ‘estou apenas a tentar cuidar de ti, por isso é que tens de estar em casa às x horas. Mas nós ajudamos as mulheres a ver que estas são evidências do desejo de o parceiro ter poder sobre elas. Não é apenas amor, ou preocupação ou inveja. Não é saudável”, revela Ruth Glenn, CEO da National Coalition Against Domestic Violence.