É uma mulher que conquistou áreas muitas vezes vistas como masculinas. Naomi Novik formou-se em Ciência de Computadores e começou por trabalhar na criação de jogos de vídeo. Gostava do que fazia, mas a paixão por histórias falou mais alto. Especialmente por aquelas que tinham elementos mágicos e dragões!

Tornou-se escritora e é atualmente um dos nomes mais reputados no género fantástico. Venceu o prémio Nebula para Melhor Romance e o prémio Locus para Melhor Romance de Fantasia. Vive em Nova Iorque com o marido e a filha. Em Portugal, o seu livro publicado mais recentemente é “Coração Negro” (saiba mais aqui), inspirado no folclore polaco, mas foi em 2008 com a série “Téméraire”, inspirada nas invasões francesas (saiba mais aqui), que se deu a conhecer aos leitores nacionais. 

Recentemente, Naomi Novik visitou Portugal e conversou com a Activa. Confessou-nos que já há muito que queria conhecer o nosso país e que tinha ficado encantada com o Poço Iniciático da Quinta da Regaleria, em Sintra. “Vai aparecer no meu próximo livro”, garantiu, inspirada. Uma conversa onde demonstrou simpatia, humildade, paixão e agradecimento pelo carinho do público que já conquistou em redor do globo.

Como se sente enquanto mulher que é tão reconhecida na literatura fantástica?

É curioso pois, durante a minha juventude, todos os escritores de fantasia que lia eram mulheres. Foram elas que me conquistaram  o coração. As pessoas falam muito de J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis, que foram os pais do género, mas houve uma grande vaga de mulheres que dominaram a fantasia numa certa altura. Por isso nunca senti que este fosse um género masculino.

É preciso não esquecer que as origens da fantasia estão nos contos de fadas. E os contos de fadas eram histórias contadas por mulheres enquanto estavam a trabalhar. Tinham as mãos ocupadas e queriam entreter as crianças.  

O que é preciso fazer para se distinguir neste género?

Género é uma palavra que define uma organização numa livraria. É um conjunto de livros que reúne características que são apreciadas por alguns leitores. Se o género existe, então é porque os leitores querem continuar a apostar neste tipo de histórias. Nunca se consegue ótima arte sem boa arte, e nunca se consegue boa arte sem má arte. O primeiro livro de alguém nunca será o seu melhor. É preciso escrever mal primeiro para aprender a fazê-lo bem. E é preciso escrever muito. Deste modo, os géneros podem ajudar a criar boa arte, desde que o escritor não se deixe controlar pelo imputo de vender, de agradar ao que pensa que lhe é esperado. Pensar nas vendas não cria boa arte. Este é um dos perigos dos géneros, pensar que é preciso criar sempre da mesma forma para que as pessoas comprem. 

Sente essa pressão?

Não. Muito porque escrevi fanfcition durante 10 anos antes de começar a fazê-lo de forma profissional. Comecei por prazer, a escrever para mim.  Mesmo hoje, escrevo para mim. Tenho a preocupação de transmitir bem as minhas ideias e intenções, de modo a que os leitores percebam a minha paixão. Esse é um grande desafio. Preocupo-me com a experiência do leitor, mas coloco-me em primeiro lugar no processo criativo. 

Mas ainda assim o feedback do leitor é importante, certo?

Sim. Tenho uma equipa de beta readers, um grupo de pessoas de confiança que leem o que escrevo antes de ser publicado. A opinião deles é importante, de forma a perceber se entenderam as minhas ideias, que me ajudam a fazer de uma história a melhor versão dela.

Uma grande amiga minha não gostou de um dos meus primeiros livros e eu aceitei. Tenho de perceber que nem todos os livros são para todas as pessoas. Aceito as opiniões que me são dadas, mas não me posso esquecer de ser fiel a mim própria. 

Qual a principal preocupação na criação de uma história?

Quero que as minhas personagens tenham vida. Não quero que sejam fantoches que existem apenas para passar um statement. Por isso, coloco-me dentro de cada figura, de forma a dar-lhes motivação, alma. Tento perceber, mediante as situações com se deparam, o que iriam verdadeiramente fazer. Nunca sei como vai desenrolar um dos meus livros quando o começo a escrever. Tudo tem que fluir naturalmente para ser mais verdadeiro. É a parte do trabalho de que mais gosto. Não é fácil, mas também não deve ser. 

“Coração Negro” foi o seu último livro publicado em Portugal. Como surgiu este conceito?

Andava a trabalhar com histórias de dragões quando, um dia, me sentei e escrevi as seguintes palavras: “O nosso dragão não devora as raparigas que leva”. Trata-se de uma frase que evoca as lendas de dragões que exigem sacrifícios. Este foi o início. Mas depois surgiu a questão do porquê. Foi então que entendi que ele não era um dragão verdadeiro, que era um feiticeiro. Mas também era um monstro. Foi assim que defini esta história: escrevi frases soltas, levantei questões e respondi-as. 

Existe nesta história uma forte componente mitológica da europa oriental.

Sim. Inspirei-me nas histórias que a minha mãe de contava da Polónia, de onde era originária. Os meus pais viveram a ocupação nazi e a Segunda Guerra Mundial. Eu cresci nos EUA, por isso a vida que eles tiveram é muito distante.  Para mim, a Polónia é a terra dos contos de fadas, um sítio onde se encontra bruxas no meio da rua, onde seres fantásticos nos dão demandas. Tentei recriar aquela sensação da infância que mistura o real com o que não é real. Onde a esperança está sempre presente. Sou uma otimista e tento passar isso para as minhas criações, mesmo quando os ambientes são mais negros. 

E como é criar uma protagonista para este mundo?

Queria que fosse uma mulher forte. Não queria que ela agisse como um homem para ser heroica. Muitas vezes é isso que acontece com as personagens femininas. Levei-a a encontrar a sua força de uma outra forma. Além disso, ela cresceu num meio que não a inferiorizou, numa comunidade que sempre a respeitou. Como tal, tem um maior sentido de união para com as pessoas da aldeia onde cresceu e, por isso, dá o seu melhor para as ajudar. Ela representa as mulheres que conheço, que são heroínas sem terem que imitar os homens. 

Qual o seu método de trabalho?

Tento escrever todos os dias, mesmo que não seja o que efetivamente tenho de escrever. Tenho um limite de palavras por dia, mas não procuro estabelecer grandes regras.

É fácil conjugar a escrita com a maternidade?

Não. Ter filhos quebra a rotina, há momento em que o processo criativo é prejuficado. Mas ela vai para a escola, e nessas horas tenho tempo para trabalhar. E nem sempre a minha cabeça quer trabalhar nessas horas. Mas ao mesmo tempo, sei que não teria escrito “Coração Negro” se não tivesse uma filha. A maternidade abre uma nova realidade, dá-nos novas experiências. Este livro é muito sobre ligar-me às minhas origens e de passar a história dos antepassados à minha filha. 

O que mais gosta de ler?

Enquanto consumidora de histórias sempre procurei fantasia, ficção científica ou romance histórico.  Para mim, são todos géneros que nos tentam levar para outro mundo, outro tempo. O que importa é a jornada e a forma como a história está construída. 

Chegou há poucos dias a Portugal. Qual a apreciação que faz do que viu?

É um país que sempre quis visitar! Há uns anos vi uma fotografia do Poço Iniciático, da Quinta da Regaleira, e senti que tinha de estar naquele local. Senti que já o conhecia. Adorei! Vou inspirar-me nele no próximo livro. Também gostei muitos de pastéis de nata. Quero levar alguns para casa para o meu marido e filha. E as pessoas são muito calorosas. Está a ser ótimo. 

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