
Era uma série que me estava a passar ao lado. Vi o anúncio, mas não me senti atraída para assistir, confesso. Contudo, em conversa com amigas, ouvi comentários muito positivos relativamente a “Coisa Mais Linda”, produção brasileira disponível na Netflix.
A série vai na segunda temporada, e eu decidi então dar-lhe uma oportunidade. “Vou só ver o primeiro episódio para entender o conceito”, disse para mim mesma. Mas nesse mesmo dia acabei por ver três. Fiquei presa à história, passada no final da década de 1950 no Rio de Janeiro, e às mulheres que a protagonizam.
Agora, sou eu quem recomenda “Coisa Mais Linda” ao expor 7 motivos.
1. AS PERSONAGENS
É impossível não sentir empatia por estas mulheres. Maria Luíza (Maria Casadevall) é a protagonista desta trama. Uma mulher que sofre uma grande desilusão e decide que está na altura de seguir o seu próprio caminho e encontrar uma identidade esquecida em detrimento dos outros. Fiquei cativada pela força com que enfrenta as adversidades, por fazer de tudo para não perder a esperança e pela alegria jovial que recupera e que demonstra a grande vontade que tem em sentir-se viva.
Ao lado desta protagonista forte, encontramos outras três mulheres impressionantes, cada uma à sua maneira. Adélia (Pathy Dejesus) é uma figura que representa a classe mais desfavorecida e que é capaz de tudo para tornar a vida da filha melhor. Lígia (Fernanda Vasconcellos) é a mulher que tem uma aparente vida perfeita mas que esconde submissão e tenta mascarar a prisão em que sente viver. Thereza (Mel Lisboa) é o sinal dos novos tempos que luta por mudança e igualdade, muitas vezes chocando os outros, mas sem se incomodar com tal.
Um grupo que parece improvável mas que conquista o público rapidamente.

2. A AMIZADE
Para vencer, nenhuma mulher deve pisar outra mulher. É isto que se sente ao assistir a “Coisa Mais Linda”. As personagens provam que é na união que mais facilmente atingem os seus objetivos e alcançam conquistas impressionantes. As diferenças que existem entre as personagens não é impedimento para a criação de ligações. Elas complementam-se e são mais fortes juntas. Uma lição que importante e que nos mostra que juntas somos mais fortes. E que ter uma amiga por perto é sempre muito importante, quer seja para festejar quer para partilhar lamentos.

3. O GUARDA-ROUPA
É impossível não ficar impressionada com o guarda-roupa da série. Verônica Julian, responsável por este departamento, fez uma pesquisa minuciosa sobre a moda dos finais de 1950 e inícios de 1960 para fazer este trabalho soberbo. Desde vestidos luxuosos e visuais mais casuais, dá vontade de trazer algumas daquelas peças para a atualidade e juntá-las aos nossos visuais.

4. AS PAISAGENS
Ai, o Rio de Janeiro… As praias, a vegetação, o morro, a cidade. Numa época em que estamos impedidos de viajar devido à pandemia provodada pelo novo coronavírus, ver estas imagens é um verdadeiro regalo. Quase que se sente o calor e os cheiros da Cidade Maravilhosa enquanto vemos a série. E que bom que isso é!
5. A MÚSICA
“Etéreo”, diz Maria Lúiza (Maria Casadevall) na primeira vez que ouve Bossa Nova no Rio de Janeiro. E tal como ela também o público se sente contagiado. Os ritmos que combinam a alegria do samba com o swing e nostalgia do jazz ajudam a transportar para dentro desta história e ambiente carioca. Uma banda sonora pefeitamente escolhida e que em muitos momentos faz ter vontade de dançar.

6. A ATUALIDADE
Sim, é uma série de época. Sim, trata de muitas questões pertinentes para a altura. E sim, fala de temas que continuam a ser importantes nos nosso dias. É verdade que muitas questões foram, felizmente, ultrapassadas. Contudo, passadas décadas, existem outras que continuam a existir nas nossas vidas.
Também nós lidamos com desgostos, também nós lidamos com as expetativas familiares, também nós lutamos para sermos levadas a sério, também nós sentimos que este é um mundo de homens, também nós nem sempre somos compreendidas, também nós mascaramos tristezas, também nós queremos ser felizes.
Ver estas mulheres faz-nos pensar sobre a nossa vida e sobre o que podemos e queremos melhorar.

7. O QUE É O FEMINISMO
Ainda há quem tenha dúvidas sobre o que é o feminismo e “Coisa Mais Linda” ajuda a perceber o conceito. A procura destas personagens pelas mesmas oportunidades dadas aos homens demonstra que não se pretende uma inversão de poder no que toca aos géneros. Trata-se sim de uma luta por igualdade. E igualdade não significa que há alguém com mais importância ou poder. Significa sim que todos são iguais.
Ao longo da trama, é revoltante ver como estas mulheres, dotadas de grandes capacidades, são muitas vezes vistas como inferiores. São mal-vistas se querem ser independentes, recebem menos por funções iguais, são incentivadas a serem submissas e a serem donas de casa, são colocadas em situações de abuso, são vistas como inferiores. Isto só para dar alguns exemplos. E é a luta contra tudo isso que é aqui representada.
Agora, estamos a falar de questões que só exisitiam há cerca de 70 anos e no Brasil? Não! Estamos a falar de problemáticas que ainda hoje nos afetam ou que devem ser recordadas para valorizarmos o caminho já trilhado e que nos levou a algumas conquistas.
Ver “Coisa Mais Linda” é entender que o feminismo não é uma moda ou mania. É necessário.