Marie Curie é uma mulher muito inspiradora. Foi a primeira a receber um Prémio Nobel, a primeira pessoal a ser distinguida com dois, e a única mulher que, até agora, alcançou este último feito. Conquistas feitas numa época em que a presença feminina no meio académico era de pequena dimensão e na qual uma mulher tinha de estar constantemente a quebrar barreiras e a provar o seu valor. Radioativo, realizado por Marjane Satrapi e protagonizado por Rosamund Pike, é o filme que chega aos cinemas no próximo dia 3 de setembro e que homenageia a Curie.
Já tive a oportunidade de ver o filme. Fiquei muito curiosa, tendo em conta a admiração que nutro por Marie Curie e pela forma pioneira como se destacou no campo científico. Admito que esta produção tem algumas falhas. O argumento tem falhas, a narrativa não é sempre fluída, existem momentos mais fantasiosos que são desnecessários, sente-se falta de um maior foco em certas questões e, no geral, ficou aquém do que esperava. Ainda assim, há 5 motivos pelos quais deve assistir a este filme.
1. Relembrar Marie Curie
Nunca é demais enaltever figuras que desafiaram convenções e alcançaram o que muitos julgavam impossível. Marie Curie é uma referência. Como profissional e como mulher. Marie Curie foi capaz de grandes feitos em diferentes áreas, mas também abriu caminho para que outras mulheres trilhassem os seus caminhos no meio científico.
Através do seu trabalho, procurou sempre o bem maior, preocupando-se com os usos nefastos que as suas descobertas poderiam ter se entregues a mãos com intenções menos nobres. Contudo, também sempre acreditou que não patentear essas mesmas descobertas poderia fazer com que outras as desenvolvessem para o bem da população. Esta crença na humanidade e na vontade de progresso e ajuda ao outro é admirável.
2. A atuação de Rosamund Pike
Já deu provas em outras produções de que é uma atriz de grande talento, e aqui volta a não falhar. A atuação de Rosamund Pike como Marie Curie é bonita de se ver. A atriz realmente dedicou-se a este papel. Sente-se que é a cientista e física polaca que está a ali a ser representada. A cada momento. Desde os momentos mais arrogantes e insolentes até à expressão de desgostos devastadores.
O olhar e as pequenas expressões de Rosamund Pike são, muitas vezes, o suficiente para se entender a mensagem do momento. Torna-se muito fácil criar empatia com a personagem e com a figura histórica.
Deixo ainda uma nova à fantástica caracterização feita à atriz. Afinal, vê-mo-la a representar Curie em diferentes fases da sua vida e a forma como o processo de envelhecimento foi feito é realista e orgânico.
3. Conquistas no feminino
Falar em Marie Curie é falar em empoderamento feminino. Ficou para a história pelos seus muitos feitos, mas também pela forma como inspirou e abriu portas a outras mulheres. E fez todo este trabalho académico enquanto cuidava da casa e educava as filhas.
Ver este filme é relembrar que uma mulher é capaz de tudo a que se dedica. Que não é o sexo fraco. É recordar a luta que aconteceu e que nos fez termos os direitos que atualmente temos.
4. A história de amor
É impossível não se ficar rendido à relação entre Marie e Pierre Curie (interpretado por Sam Riley). Não sei onde termina a realidade e começa a ficção no que foi retratado, mas a forma como o amor dos dois foi apresentado é inspiradora.
É sempre enternecedor ver dois supostos inaptados a encontrarem-se, descobrirem-se e a entregarem-se um ao outro. É o que acontece aqui. Duas pessoas que se dedicaram ao amor pela ciência que se encontram e veem um no outro um igual em todos os campos. Tornaram-se colegas, companheiros e amantes. O amor, respeito e carinho que nutrem um pelo outro é evidente, mesmo em momentos mais tensos.
5. O impacto das escolhas
Ao longo deste filme, assistimos a várias consequências que a teoria da radiotividade provocou. Do melhor ao pior. Marie Curie foi acusada de ter criado um veneno, de provocar morte. Mas ela não tinha ainda conhecimento de tudo o que o radio poderia provocar. O que este filme mostra é que os piores feitos acontecem quando temos noção da destruição que podemos provocar, e ainda assim seguimos em frente.
Ver como a radioatividade foi usada para provocar dor, e até como espetáculo, quando já se conhecia os seus perigos, demonstra que somos nós que muitas vezes estamos de poder de escolher. Se queremos fazer o bem ou o mal. Quer seja com uma bomba, quer seja de uma outra forma.
Este filme homenageia uma mulher fantástica. É sobretudo sobre Marie Curie. Mas julgo que a mensagem que podemos tirar é de que, tal como ela, devemos sempre tentar escolher o que for melhor para nós, para quem nos rodeia e para o mundo. As consequências dessas escolhas podem ter efeitos incríveis.
Radioativo chega aos cinemas no dia 3 de setembro.