Adaptado do livro homónimo escrito por Aravind Adiga, “O Togre Branco” é um filme que está a dar que falar. Disponibilizado na Netflix desde dia 22 de janeiro, conta a história de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que pretende escapar da pobreza e alcançar fortuna.
Uma história que acontece numa Índia com uma economia efeverescente, mas também com desigualdades sociais gritantes. E é este contraste que mais fortemente marca toda a película. Assim como o humor cínico muitas vezes presente.
O protagonista deste filme é hipnotizante e imprevisível. Apesar de os seus objetivos serem explícitos desde o início, os meios que encontra para os tentar alcançar muitas vezes surpreendem. Além disso, esta é também uma jornada que transforma Balram. A ambição inocente dá lugar a uma quase obsessão que muitas vezes nos faz duvidar se o jovem não estará no limiar da loucura. É difícil tirar os olhos de Balram, no desejo de o entender, de perceber o que está por trás de cada gesto. Mas tal não significa que este seja um protagonista herói e valoroso. Não. Balram torna-se o que precisa de se tornar para conquistar o que tanto quer.
O aspeto mais forte de “O Tigre Branco” é mesmo a crítica que é feita. Temos o contraste evidente entre Balram e a sua família com castas mais abastadas, mas existem muitas outras discrepâncias que são apresentadas ao longo do decorrer da ação. Se por um lado vemos os luxos em que vivem as famílias mais afortundas, por outro assistimos, mesmo ao lado, a pobreza, a desnutrição, a falta de conhecimentos e de oportunidades de uma grande parte da população que parece ter aceitado esta condição. Uma cultura de servidão que nos pode parecer irreal, mas que está a existir, neste exato momento.
Mas as desigualdades não existem só entre quem tem dinheiro e poder e quem não tem. “O Tigre Branco” fala também do papel da mulher na sociedade indiana e na submissão que é esperada. Este fator está bem representanto pela personagem Pinky (Priyanka Chopra), uma mulher que cresceu nos Estados Unidos da América e que regressa à Índia já em adulta com o marido, Ashok (Rajkummar Rao). É quase revoltante assistir a alguns momentos em que Pinky é desconsiderada e tratada com desprezo. A evolução desta personagem acaba por ser algo inesperada, devido a algumas circunstâncias, mas acaba por transmitir de uma mensagem de empoderamento.
Admito que houve um ponto no filme que não funcionou muito bem para mim. É que a história parece estar a ser narrada de três formas diferentes. Temos o tempo da ação, mas também uma voz off de Balram que nos transmite algo mais para além daquilo que vemos. Contudo, esta voz surge através da leitura de uma carta e também com a quebra da quarta parede, dirigindo-se diretamente ao público. Preferia que tivesse sido escolhida apenas uma forma de se ouvir esta voz. A junção pode tornar-se confusa e parece-me que fez com que nenhuma voz tivesse a força que realmente poderia alcançar.
“O Tigre Branco” é um filme que não passa despercebido. Pela história, pelas personagens, pelo tom, pela crítica a algo tão real. Uma produção que merece destaque, com atores que fazem um trabalho impressionante.