Assistir ao espetáculo de improviso (Quase)amento é uma experiência única. Literalmente. Isto porque cada sessão conta uma história diferente e irrepetível, com base nas experiências de dois membros do público.
“Quem é que é solteiro?” é a pergunta que serve como ponto de partida para Telmo Ramalho e Mário Bomba escolherem aleatoriamente as estrelas da peça. De seguida, os atores fazem uma breve entrevista aos selecionados (nome, idade, profissão, virtudes, defeitos, etc.) para ficarem a conhecê-los um pouco melhor. Na noite de domingo, 6 de março, a honra recaiu sobre Carlos e Patrícia, a minha melhor amiga.
Ele tem 33 anos, é ator, faz crossfit via Zoom “com o Salgueiro” e, no que diz respeito a hobbies, gosta de motas, de ler e de viajar, especialmente se envolver glamping. Na escapadela mais recente, fez-se à Estrada Nacional 222 com a ex-namorada, Mariana, e os dois tiveram uma grande discussão porque ela adormeceu na tenda e falhou um programa giro que tinham combinado na noite anterior. “Perdemos um dia de praia”, lamenta-se Carlos. Quanto a ódios de estimação, admite que é uma espécie de nazi da ortografia e, como tal, a fala e a escrita com erros são deal-breakers num potencial envolvimento amoroso.
Ela tem 31 anos, trabalha num restaurante, é mãe de duas crianças pequenas e adora cozinhar — é uma grande apreciadora de comida mexicana —, sendo que também gosta de fazer caminhadas e de viajar. Quando questionada sobre as suas maiores qualidades, deixa claro que se orgulha de ser “uma pessoa desenrascada” e, acrescentei eu, a pedido do Telmo, tem um sentido de humor maravilhoso. A Patrícia não é fã de andar de mota, exceto a parte de usar um casaco de cabedal e tirar o capacete, deixando os cabelos fluir ao sabor do vento, ou de indivíduos que a empatem (na cozinha ou na vida). O último livro que leu chama-se “Oops… que disparate”.
Será que esta história de amor teria pernas para andar? Telmo e Mário passam a explorar essa possibilidade ao encarnarem personagens com as mesmas características dos ‘pombinhos’.
O enredo
Começamos por ver o momento em que Carlos compra uma tenda super, hiper, mega futurista da Quechua. Este T0+1, afinal, tem várias divisões, incluindo uma garagem e um quarto para crianças. Lá dentro, tudo é inteligente, desde a sanita que arremessa dejetos sabe-se lá para onde, a não ser que o cliente invista no pacote boomerang, ao fogão de lona, cuja placa cerâmica está ligada a um sistema de despertar sem igual: se algum dos hóspedes adormecer, o eletrodoméstico projeta tachos e panelas na direção dessa pessoa. Uma das muitas referências feitas à dorminhoca Mariana durante o espetáculo.
Antes de abrir cada fecho que dá acesso a um novo compartimento da tenda, Carlos faz burpees (provavelmente, é uma das Dicas do Salgueiro). Já com a nova aquisição em mãos, ruma ao Douro, onde continua a ter sessões de treino com o enérgico PT que, nesta improvisação cómica, gosta de abreviar palavras. “Malta, por hoje tá feito. Não se esqueçam de meter a prota”, aconselha, divertindo a plateia.
Enquanto isso, ainda em Lisboa, Patrícia prepara-se para sair da casa da mãe, Odete, que se mostra reticente. Aliás, fica tão nervosa com a possibilidade de deixar de ter a filha e os netos por perto que vai alternando entre os sotaques lisboeta, portuense e castelhano só porque sim. Entre um “coño” e outro, surge um senhor que quer à força toda ser o patriarca da família e, além de opinar, encarrega-se de levar as caixas para a carrinha conduzida por Cláudia (yours truly), agilizando a mudança.
A caminho da casa nova, numa Ford Transit com uma buzina que muda consoante o mood, Patrícia é surpreendida com um desvio até ao Douro. “Amiga, tu precisas de viver um bocadinho”, diz a condutora, entusiasmada com a aventura que aí vem.
E viveram felizes para sempre?
Como não podia deixar de ser, Carlos e Patrícia conhecem-se no Vale do Douro e sentem-se imediatamente atraídos um pelo outro. Com um empurrãozinho de Cláudia, marcam um jantar (fajitas de frango acompanhadas por mimosas de morango) na tal tenda futurista, durante o qual a tensão sexual é de cortar à faca. E é aqui que a peça fica em suspenso.
“Quem é que acha que esta relação vai dar cento? Vamos por palmas para o sim”, dizem Telmo Ramalho e Mário Bomba, que recebem um silêncio ensurdecedor como resposta. “Vocês são uns românticos incuráveis. Nem uma pessoa bateu palmas, nem os próprios”, brincam. Por vontade do público, o jantar acaba com o ex-futuro casal a brindar ao facto de cada um ir para seu lado.
Este relacionamento não deu certo, mas a peça é um verdadeiro sucesso e arranca gargalhadas do início ao fim.
____________Informações Úteis____________
Morada: Boutique da Cultura | Avenida do Colégio Militar, 1500-187 Lisboa
Próximas sessões: domingo, 13/03, e segunda, 14/03, ambas às 21H30
Preço dos bilhetes: 9 euros, disponíveis no portal BOL
A experiência retratada neste artigo aconteceu a convite da marca e o texto reflete a opinião pessoal dos autores.