A Confiante
Faz tudo como a Voz do Além manda e fica frustradíssima quando em vez da casa da sua amiga vai, sabe Deus como, parar a um descampado onde Judas perdeu as botas. Sente-se traída, jura que nunca mais vai ligar aquilo e que da próxima vez vem de Uber/ pede ao primo Zé que a traga/ apanha um táxi/ estuda o caminho antes de sair/ usa o método tradicional de meter a cabeça fora da janela e perguntar.
A Certinha
Qual é o problema? Segue as indicações e em dez minutos está lá (em dez minutos está em todo o lado, até em Nova Iorque). Nunca se enganou e raramente tem dúvidas.
A do Contra
“Viro aqui à direita? Como viro aqui à direita? Não viro nada aqui à direita, conheço um caminho muito mais rápido que não é nada por aqui.” Põe sempre GPS mas acaba sempre por seguir por outro caminho. Regral geral demora metade do tempo e fica o resto do dia satisfeitíssima a pensar como conhece bem a cidade e que estas apps são todas para totós. Nem se sabe muito bem para que liga aquilo, é mesmo só para ter a satisfação de ganhar à tipa. Quem é que ela acha que é.
A Paniquenta
“Viro à direita? Ó raios! Mas qual direita? Já nesta direita? Mas é sentido proibido! Na rotunda saio na terceira, mas é na terceira contando todas as saídas ou na terceira sem contar com aquele carreiro de cabras, a entrada do parque e o beco sem saída? Becos sem saída contam? O que é que ela disse agora que eu estava distraída? Ai por aquela rua não vou, tenham lá paciência, que o meu carro não cabe ali.”
A Rebelde
De repente decide ser uma alma livre e seguir na vida por onde lhe dá na real gana. Problema: não avisa a rapariga nem desliga a coisa, e a pobre vai o resto do caminho transtornada a dar-lhe constantemente percursos alternativos que nunca são seguidos. Devia haver uma altura em que a menina do GPS atirasse a toalha ao chão e a amuasse, ‘pronto Maria Amélia, está tudo acabado entre nós, se não fazes nada do que eu digo vou desligar’. Mas não. Coitadinha. Uma app não tem sentimentos. Também era o que faltava.
A Calma
Quer ir para o Largo do Totó mas aparentemente o GPS não sabe onde isso fica ou destrambelha a meio e desata a espingar em todas as direções. Esta não se enerva. Encosta, recentra, vê se escreveu bem o nome da rua e retoma o seu caminho. Ou então dá folga ao GPS e entrega-se à Vontade Divina.
A Dependurada
Todas as ajudas são bem-vindas. Esta além de GPS precisa de Tradutor de GPS, e então leva a mãe/amiga/namorado/tio António ao lado com o GPS na mão a repetir em dupla o que a Voz do Além diz. A Voz do Além diz ‘Na Rotunda, tome a segunda saída’ e o Pendura ‘Não ligues, é para ir em frente’, a Voz do Além diz ‘Na rotunda, tome a terceira saída’ e o Pendura explica ‘Atão agora viras na última’, a Voz do Além diz ‘Daqui a 600 metros, tome a saída à direita’ e o Pendura explica ‘atão vais virar mas não é nesta, é só na outra a seguir’, a Voz do Além diz ‘vire à direita’, o Pendura repete ‘Atão viras à direita’. Mesmo assim ainda consegue enganar-se. Adenda: Geralmente os Penduras, sejam quem forem, têm uma imensa propensão para serem a) aquelas pessoas que indicam o caminho com a mão, b) pessoas que não distinguem a esquerda da direita c) bullies que pertencem ao grupo Do Contra e sabem sempre outro caminho muito melhor, o que dá aquela cena de ir a Voz do Além a gritar-lhe uma coisa e o Pendura em estereofonia a ordenar outra. Resta saber em que santo confiamos mais. Escusado será dizer que, se a coisa dá para o torto, a culpa é sempre de quem vai ao volante, que ‘é uma enervadinha’. Isto também dá discussões conjugais do estilo ‘se não confias em mim não sei para que é que me pedes ajuda, da próxima vez vou aqui calado e está o assunto arrumado’.
A Envergonhada
Tem a coisa ligada mas no silêncio, para ninguém perceber. Não gosta de dar parte de fraca e assumir que não sabe o caminho, nunca lá foi ou não tem bem a certeza onde fica. De vez em quando deita um olho ao ecran do telemóvel, o que é um perigo.
A Forreta
Só não tem a certeza de uma parte do caminho, por isso pára a meio para ligar o GPS durante 5 minutos para poupar dados. Escusado será dizer que até chegar aí já se enganou, ou pior, engana-se na recta final e acaba num descampado de terra batida, sem rede e com três rafeiros alentejanos a persegui-la aos uivos pela charneca.
A Virgem
Sabe vagamente que tal coisa existe mas nunca se rendeu à tecnologia. Mas a verdade é que também nunca vai a nenhum sítio que não saiba onde fica e onde não tenha já ido 45 vezes. Afinal, quem é que precisa de GPS para ir buscar os miúdos à escola?