Foto Pexels/Julia Cameron

Já sei: estão a ler isto e a pensar imediatamente “Ah, aquele ‘ó mãe, tem calma!’” Foi, não foi? Ou ‘espera lá, já vou’. Ou o silêncio, que é a pior resposta de todas. Ou… Pensámos em todas vocês e em todos esses momentos em que nos tiram do sério e pedimos ajuda SOS a quem mais sabe. Será que conseguimos pôr as respostas em prática?

Tem calma!

Foi o Top 1 indiscutível de toda a fúria materna. O que mais nos irrita é que nos digam ‘tem calma!’ quando estamos calmas e eles é que estão enervados! Depois é que deixamos imediatamente de estar. Calmas. Às vezes acho que fazem de propósito e que o objetivo é precisamente tirar-nos a dita calma.

Sofia Ferreira – Pais e filhos vivem com ritmos, estímulos, objetivos e prioridades diferentes e é esse desajuste que leva a que estas respostas existam. Dizer: ‘Neste momento é importante para mim que (arrumes o quarto, ponhas a mesa, ponhas a toalha a secar, a roupa no cesto…). Vai ser mesmo bom vermos o resultado final! Vamos a isso? Precisas de ajuda?’

Já ouvi’ ou ‘Já vou’

É outro clássico, como muitas mães confirmaram. Só pensar nisso já nos põe os nervos em franja. Dizem isto inevitavelmente quando lhes pedimos mil vezes para fazer alguma coisa que não lhes apetece fazer, e quanto mais chamamos, menos respondem. É óbvio que já ouviram, a ideia é, quando é que isso vai ser aparente nas suas ações? E claro que eles dizem ‘já ouvi’ ou ‘já vou’, mas quando se trata de pedirem alguma coisa aos pais, aí já tem de ser tudo imediatamente, não esperam por coisa nenhuma. Somos todos mais parecidos do que pensamos.

S.F. O ‘já vou’  ou ‘já ouvi’ significa que os pais ou estão a repetir várias vezes a mesma ideia,

e não estão a obter resultados (sendo importante mudarem de estratégia), ou estão a chamar,

sem se deslocarem ao local, com um tom de voz zangado ou ameaçador. Se experimentarem uma abordagem mais direta, calma e próxima, podem conseguir resultados mais eficazes.

(Silêncio)

Olham para o telemóvel e nem levantam a cabeça. Pai ou mãe ou ET é conduzido à sua condição de invisibilidade. Isto, a) É genuíno: não ouvem mesmo. b) Dá jeito: pode ser que, fingindo que não ouvem, o ET desista de tentar contactar a Terra. c) É das poucas ocasiões em que exercem o seu poder e têm os adultos na mão. Problema: quantas vezes os adultos não fazem a mesma coisa…

S.F. A questão é mesmo essa! Quantos adultos estão desconectados do momento e ligados

à tecnologia, com a desculpa de que têm que responder a um e-mail de trabalho ou que estão

a resolver um problema urgente (mesmo quando não trabalham no INEM)? Que tipo de modelo estamos a ser? Vamos primeiro refletir sobre isto. Depois pensamos na resposta que queremos.

Sei que estás a trabalhar, mas…’

Ligam a toda a hora para o trabalho e escolhem a dedo as alturas piores. Não sabem resolver nada sozinhos (achamos nós e dá-lhes jeito a eles). E quando ligam para terem alguém que fale com eles enquanto estão a ir a pé para qualquer lado?

S.F. A maior parte das vezes, atendemos porque não confiamos neles para resolverem os seus problemas, porque os habituamos a responder de imediato, porque estamos numa fase em que muitas vezes, em vez de educar, queremos seduzir os nossos filhos, dando-lhes tudo o que nos pedem. Até mesmo o nosso tempo de trabalho ou de repouso. Será que o problema é deles ou é nosso? Podemos perguntar se é urgente? Se a resposta for não, dizemos que falamos depois. Se insistirem, firmeza no NÃO!

Espera só um bocadinho, que tenho de acabar de ver este filme/jogo’

Principalmente quando há uma tarefa ingrata à espera, como pôr a mesa, fazer os TPC ou arrumar o quarto. E os outros que esperem. Enfim, coitados, nós às vezes também fazemos isso e a verdade é que não deve ser agradável ter de seguir os ritmos de outra pessoa.

S.F. As regras e as rotinas estruturam as famílias. É importante que sejam claras e do conhecimento de todos. Se entendem que não é aceitável esperar que acabem um jogo ou filme que estão a ver, podem fazer um pré-aviso, que os ajude a regularem a sua atividade, dando-lhes a possibilidade de escolher se querem arriscarficar com a atividade a meio…

Ó mããããããeeeeee!’

Gritado do outro lado da casa, em vez de se levantarem e virem ao pé de nós dizer o que querem. Variante ainda mais irritante: e quando nos mandam um SMS?, ou nos ligam do telemóvel?, estando na mesma casa…Que não é o Palácio da Ajuda!

S.F. O que fazer? Muito fácil! Devolver o SMS ou a chamada ou ir até junto dos filhos dizendo: ‘Respondo a pedidos feitos a menos de 1 metrode distância e com um abraço primeiro’. Não sóa sua casa não é o Pálácio da Ajuda como já não estamos no tempo dos reis…

O que é o jantar?’

O mais irritante é que nunca perguntam isso ao pai… Tantos anos de feminismo e ainda estamos nisto.

S.F. ’O jantar é surpresa, para quem não ajuda a prepará-lo! Queres ajudar-me? No fim de semana podíamos elaborar uma ementa para os próximos dias, procurar receitas novas, comprar os ingredientes e surpreender a família e amigos.  Assim não precisavas de fazer esta pergunta e sabias sempre o que é o jantar.’

Não pode ser tudo como tu queres’

O que é uma grande verdade. Mas claro que nenhuma mãe gosta que lhe atirem assim as verdades à cara. Desafio: não se deixar manipular pelas ‘lógicas adolescentes’.

S.F. ’Verdade! Mas também não pode ser tudo como TU queres… Falamos sobre isso?’ Tem de haver critério na escolha das batalhas. Em alguns domínios podemos ser mais flexíveis, mas noutros temos que ser fiéis àquilo em que acreditamos e às regras que estabelecemos, utilizando firmeza com afeto.

Não sou tua criada’

Também não gostamos que nos digam isto porque é francamente injusto, e no fundo elas sabem: não estamos a tratá-la ‘como criada’ (é engraçado como estas terminologias antiquadas aparecem do nada quando menos se espera). Somos uma família, temos que nos ajudar todos uns aos outros, mas às vezes parece que é um caminho único e que só as mães é que têm de ajudar e as filhas de serem ajudadas…

S.F. É fundamental dar responsabilidades ajustadas às idades. Todos podem e devem contribuir para a organização e realização de tarefas em casa. Fazer um quadro com as rotinas e os responsáveis semanais por cada uma delas pode ser uma ajuda. Também pode dizer: ‘Sabes que no século XXI é fundamental trabalhar em equipa. Treinamos isso cá em casa’.

O quê, não sabes isso?’

E depois tiram-nos o telemóvel para nos ensinarem qualquer coisa. Claro que isto parece muito educativo, os filhos também têm de sentir que ensinam qualquer coisa aos pais, mas era giro se não nos tratassem como desgraçadinhos ou australopitecos que saíram agora da savana e nunca viram um telemóvel à frente.

S.F. Pode responder: ‘Não sei isso e não sei muitas outras coisas! Ainda bem que sabes, porque assim posso aprender contigo! Conta-me o que sabes sobre esse tema’.

Isso é tão cota…’

A propósito de qualquer coisa, uma palavra que usámos e não é cool, uma expressão, um gesto. Irrita-nos que nos achem ainda mais parvas do que somos, mas pronto, faz parte da arrogância própria da idade.

S.F. Cada geração tem as suas características e particularidades, seria estranho se assim não fosse. Usar o humor pode ser um bom recurso e este comentário pode ser um bom ponto de partida para conversas que contribuam para as pessoas falarem de si e conhecerem-se melhor.

Já não há papel higiénico’

Claro que nem lhes passa pela cabeça irem buscá-lo… Isto quando não ficam muito caladinhos e deixam os rolos vazios a enfeitar a casa de banho, ou as embalagens de leite sem pinga no frigorífico, ou as toalhas molhadas no chão…

S.F. ’Da próxima vez não te esqueças de ir buscar ou de escrever na lista do supermercado!’ Dá trabalho mas é importante não fazer tudo por eles, não os substituir nestas pequenas tarefas, e perguntar: ‘O que vais fazer para que da próxima vez isto não aconteça?’

Bfffff…’

Quando ‘bufam’. Porque não lhes apetece sair, porque lhes apetece sair, porque não querem fazer isto ou aquilo… Há uma altura em que bufam por tudo e por nada. Os adultos também bufam mas as crianças bufam com muito mais sentimento. Ah, e reviram os olhos. É o revirar dos olhos que nos mata.

S.F. Se fez o que a mãe pediu, apesar de contrariado, devemos valorizá-lo: ‘Estou mesmo contente que tenhas vindo comigo fazer este programa! É muito bom poder contar com a tua companhia/ajuda’. Noutras situações, pode ser indicativo de um desconforto real e nessa ocasião pode dizer: ‘Percebi que tens alguma coisa para dizer. Vamos conversar?’ Só estando próximose podem reconhecer os sinais.

Já estragaste o meu dia’

Há quem seja mestre na chantagem emocional e então saem pérolas destas. Convenhamos que é preciso ser-se mesmo muito bom. Tira-se-lhes o chapéu.

S.F. ’Se estragar o teu dia é educar-te, então foium dia bem estragado!’ Embrulha.

E hoje, vamos fazer o quê?’

Nós tínhamos duas opções: ou inventávamos qualquer coisa com que nos entretermos ou passávamos secas monumentais. ‘Hoje, eles não sabem entreter-se’, queixam-se as mesmas mães que lhes atiram para o colo um iPad sempre que se aproxima uma ocasião de stresse.

S.F. ’Quais são as tuas sugestões? O que gostavas de fazer?’ Envolva-os nas decisões da família, da casa. Dê a escolher, lance desafios que passem por atividades de exterior, contacto com a natureza, culturais, desportivas ou de serviço social, em que o iPad não acrescenta nada.

Mas a mãe do João deixa!’

Outro clássico, que era talvez mais ouvido na nossa geração porque os pais hoje quase todos deixam tudo, mas continua a ter um lugar no top. A resposta, igualmente clássica, ‘mas o João não é meu filho’ também continua a fazer sentido, ou não?

S.F. Sim, não aceite comparações, porque de facto não fazem qualquer sentido. Mas depois também não compare as notas dele com as dos colegas, com o irmão mais velho, com o mais novo, com o primo que é o melhor do mundo…

E 5 atitudes imediatas a tomar (em vezde explodir)

1. Pense – Não dê logo a primeira resposta que lhe vier à cabeça.

2. Respire fundo – Pense por que é que isto está a acontecer. Fome, sono, tédio, imaturidade, ciúmes…

3. Ponha-se no lugar dele – O que é que gostava que fizessem consigo?

4. Não tome necessariamente a atitude mais fácil – Se os dois se pegam por causa do iPad, se calhar o melhor é não haver iPad para ninguém… No momento custa mas depois compensa.

5. Não tome a reação como uma ofensa pessoal – Veja para além do seu ego.

Claro que os pais também dizemcoisas irritantes!

Também temos as nossas frases-gatilho, que põem qualquer criança furiosa.Ora vejam:

Porque eu quero’ – Ok, às vezes é oque funciona melhor. Mas que enervaos miúdos, enerva.

Se não comes o bife também não comes a sobremesa’ – Não só irrita os mais pequenos como é contraproducente. A sobremesa não deve ser uma recompensa.

Quando viermos para baixo’ – Isto é dito sempre que se passa por uma montra e se pede qualquer coisa. Os miúdos sabem muito bem que não vai haver ‘para baixo’ nenhum…

Não tens idade para perceber isso’- Há uma regra muito simples: se tem idade para fazer a pergunta,tem idade para ouvir a resposta.

Esta casa não é um hotel’ – Isto ainda é dito aos adolescentes, geralmente por pais abespinhados com falta de atenção. Enfim, eles são cada vez mais independentes mas continuam a fazer parte da família.

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