Não se mostre desapontada
É a primeira regra. Mesmo que tenha andado durante dois meses a apregoar que gosta é de chá e lhe tenham aparecido com uma cafeteira, agradeça e faça o seu melhor sorriso. Não é hipocrisia, é pensar nos sentimentos dos outros.
Não seja muito expansiva (para o mal, evidentemente). Escusado será dizer que deve evitar um grito de horror, mesmo que lhe apeteça muito. Também não tem de exagerar e dizer que era mesmo aquilo de que precisava quando desembrulhar mais um paninho da loiça com uma rendinha à volta, mas de um sorriso simpático toda a gente é capaz.
Evite a ironia. Um sorriso simpático é um sorriso mesmo simpático, não vale fazer aquele meio-sorriso sarcástico em frente do avental e largar uma graçola do género: “ai mas que giro, este ano todos vocês me querem na cozinha…” Por outro lado, também não é preciso exagerar de modo a que a pessoa ache que você adorou o elefante de massa vestido de bailarina e daí em diante passe a dar-lhe todos os natais elefantes de massa “para fazer coleção”.
Ah, e quando lhe oferecerem um presente, não o guarde no bolso para desembrulhar mais tarde, exactamente na noite de 24 em frente da sua árvore, embora lhe possa apetecer. De bom tom é abrir o presente na presença da pessoa que o ofereceu.
Passe bem
E quando se recebe um presente e… se guarda na gaveta para se oferecer a alguém no próximo Natal? Pois é, toda a gente diz que nao se deve fazer, mas como toda a gente faz, já agora que se faça bem feito. Afinal, também uma técnica ‘sustentável’ e anti-desperdício.
Primeira coisa a ter em conta: avaliar se o presente pode ser passado adiante. Se tiver em mãos chocolates fora de prazo ou um frasco de perfume a dizer ‘Edição Especial 2022’ é óbvio que não vai poder oferecê-lo no Natal de 2023. Partindo do principio que isto não acontece, passa-se à etapa seguinte: verificar se embrulhado no cachecol que se pretende passar a outro, ou no fundo do saco, não ficou esquecido um cartãozinho a dizer: “Querida Sara, este cachecol é para ficares quentinha todo o ano; da tua prima Irene.” Deve ainda verificar se o presente nao é personalizado.
Próximo passo: substituir o papel de embrulho. Já que não se gasta dinheiro no presente, pode sempre investir-se no embrulho. Aquela ideia do ‘vou abrir muito devagarinho que depois nao se nota’, é mentira, nota-se sempre, papel velho percebe-se à légua. Pronto, é uma técnica anti-sustentável mas já está a ser circular quando reoferece (há sempre uma desculpa para tudo).
Na altura de oferecer, é imperativo que os dois elos da cadeia (quem ofereceu e quem vai receber a seguir) não se conheçam. Se vai dar a camisola às riscas verdes e castanhas, que recebeu da tia Odete, à sua sogra, corre o risco de a sua tia Odete entrar em sua casa qualquer dia e dar de caras com a Maria Amélia ataviada com a camisola às riscas. Para não lhe acontecer isto (ou pior, para não oferecer o presente à própria pessoa que lho ofereceu…) não se esqueça de pôr nalgum canto a indicação de quem a recebeu. Ah, e também convém não dizer: ‘se quiseres podes trocar’…
Depois disto tudo, não está condenada ao fogo do inferno. É legítimo, se tiver à-vontade com a pessoa, abrir o jogo. Imagine que tem uma amiga, sabe que ela gosta de chá, e acaba de receber uma latinha da avó Júlia. Pode perfeitamente dizer que lhe ofereceram mas que não bebe chá e que lhe passa porque sabe que ela gosta. Já agora, convém não acrescentar: “Eu até o cheiro me enjoa, mas tu lá sabes…”