A atriz e encenadora Graça Lobo morreu hoje aos 85 anos de ‘causas naturais’.
Irreverente assumida (“só as mulheres podem ser irreverentes, os homens quando são irreverentes são ordinários”) e amante da liberdade, a sua educação passou pelo colégio inglês St. Julian’s e pelo Liceu Francês Charles Lepierre. Entre os 15 e 18 anos viveu num convento em Dublin, onde diz ter passado os melhores anos da sua vida, ao ponto de ter querido ser freira. Aos 19 foi hospedeira de bordo de uma companhia aérea colombiana, em Bogotá, onde se encontrava no contexto da sua missão de conhecer novos povos.
De regresso a Portugal, era ainda aluna do Conservatório Nacional quando se estreou na Casa da Comédia, em fevereiro de 1967, nas ‘Noites Brancas’, de Dostoiévski. Com 50 anos de carreira, passou pelo Teatro Estúdio e pelo Teatro Experimental de Cascais, entre outros, fundando a Companhia de Teatro de Lisboa em 1979, onde levou a cena James Joyce, Harold Pinter, Samuel Beckett, Noel Coward, Alan Ayckbourn, Miguel Esteves Cardoso, entre muitos outros autores.
O espetáculo ‘Cartas Portuguesas atríbuídas a Mariana Alcoforado’, que levou a cena na temporada de 1979-1980 do Teatro Nacional D. Maria II e do São Luiz, subiu também ao palco de vários teatros lá fora, em cidades como Tóquio, São Paulo e Nova Iorque – as cidades “com tudo à porta” de que tanto gostava…
A sua vida e carreira é contada no documentário ‘Graça Lobo Dois Pontos’ (2006), dirigido por Frederico Corado, onde se descreve como “uma mulher que gosta muito de teatro, que é atriz, que é mãe, que é vaidosa, que é simples, que é estudiosa, que gosta de viajar, que gosta das outras pessoas, que é amiga, que é solitária… Uma pessoa com muitos lados, uma pessoa não é só uma coisa, uma pessoa é várias coisas e são essa várias coisas que eu sou, algumas contraditórias, que não são apreendidas por toda a gente – nem por mim, às vezes…”.