Rita Montez

Tu não começaste no turismo mas no jornalismo…

Na verdade, eu fazia jornalismo de turismo, por isso já estava mais ou menos dentro do ramo, e decidi aproveitar precisamente aquilo que tinha aprendido. Sempre quis ser jornalista porque achava que ia salvar o mundo, mas cedo percebi que isso não ia acontecer. Por isso quando fiquei desempregada voltei-me para aquilo que tinha.

Que era uma casa de família, em S. João da Ribeira, em Rio Maior…

Eram várias casas de família, na aldeia onde nasceu o poeta Ruy Belo. Aliás, a mãe dele foi professora da minha mãe. Eu sempre fui muito ligada aos meus avós maternos, era aqui que passava as férias, eram daqui as minhas melhores memórias. Aqui tinha aquela sensação de liberdade, de calor, de ter os pés na terra. Era o meu colo e o meu porto de abrigo. Mais tarde tive a sorte de ficar com estas casas. E quando saí da ‘Visão’ não fazia a mínima ideia do que ia fazer. Tinha o plano de, se tudo corresse mal, ir servir cafés para as Caraíbas (risos). Depois pensei num rojeto de passeios pelas aldeias do país. E depois surgiu a oportunidade de ficar com estas casas da minha avó.

Estavam em bom estado?

Era um conjunto de 6 casas: a casa principal de família, onde os meus avós se casaram, estava em bom estado, e depois havia mais 5 pequenas onde viviam várias famílias nos anos 50 quando aqui havia uma fábrica de concentrado de tomate. Comecei por recuperar uma das casas, e depois fui recuperando toda as outras, a pouco e pouco.

Não tiveste medo de entrar num negócio por conta própria?

Havia quem me dissesse que nunca ninguém viria para São João da Ribeira, mas eu sempre acreditei que tinha muita coisa para dar. Afagámos chão, recuperámos a cozinha, pusemos algumas janelas, deitámos uma parede abaixo, refizemos a casa de banho. E assim que abri essa primeira casa, já tinha alemães a bater à porta e foi uma loucura. Foi e continua a ser.

Que tipo de pessoas vos procuram?

Temos muitos espanhóis, polacos, franceses. É tudo pessoas que procuram o Portugal autêntico. O preço também ajuda, mas noto que vêm atraídos por uma autenticidade que já não encontram em Lisboa ou no Algarve. Uma das coisas que mais valorizam é a relação próxima com a natureza e o lado afetivo. Conversamos muito, fazemos churrascos, trocamos experiências. Quando comecei, pus a casa em tudo o que era plataforma: booking, airbnb, etc. Eu na ‘Visão’ escrevia sobre o turismo na perspectiva económica, por isso isto era um mundo que não me era estranho. Portanto quando arranquei arranquei em força. Inundei o mercado. Ajudou muito. Mas agora mais de metade das pessoas já me chegam de forma direta, porque viram no site ou no Facebook, que continua a ser um ótimo meio de venda.

E quem era a avó Rosa? (risos)

Era uma pessoa muito doce, muito calma, muito tranquila, sempre sorridente. É engraçado que ainda sinto o cheiro do pó de arroz dela. Essa calma que nos falta cada vez mais é precisamente uma das coisas que tento dar às pessoas.

Portanto, um dos trunfos é ser uma casa de família…

É uma casa com histórias. Não é uma casa vazia e despida, onde as pessoas entram para passar uns dias e depois abandonam. Aprendi com a minha avó que as casas têm alma. Portanto, isto é um encontro de almas: a alma de quem chega e a alma da casa. As pessoas aqui criam as suas memórias e levam as memórias da casa. Há famílias com crianças pequenas que nunca viveram a realidade de uma família no campo, e que aqui vêm sentir um pouco isso. Recordo-me de um cliente inglês na casa dos 30 anos que nunca tinha apanhado fruta de uma árvore. Chegou com o pai, que lhe explicava como é que se fazia, e ele teve essa experiência pela primeira vez na vida. Tive uns polacos de 20 anos que me pediram se podiam levar limões para a família, porque apesar de lá terem limões, não tinham limões com este cheiro e sabor. E foram com a mala cheia de limões. Umas tailandesas de 70 anos compraram umas nozes mas nunca as tinham partido, então foram buscar pedras ao jardim e passaram uns momentos maravilhosos sentadas no chão a partir nozes (risos).

Estamos a perder esta ligação à natureza?

Estamos. E é isso que também quero devolver aos meus hóspedes. Mas a localização também ajuda muito e a centralidade é muito importante. Estamos a menos de uma hora de Lisboa e a 2 horas do Porto. E há clientes que ficam aqui uns dias e a partir daqui fazem vários passeios. Também há portugueses que vivem no norte e têm crianças, passam férias no Algarve mas ficam aqui uns dias para as crianças descansarem.

Porque é que valorizamos cada vez mais o sossego?

Porque estamos a perdê-lo e é cada vez mais precioso. Uma prima já velhota dizia-me muitas vezes: ‘Não compreendo a vossa geração. É a que tem mais máquinas e a que mais trabalha’. E é verdade. Entrámos numa loucura autodestrutiva de aproveitar cada momento livre para trabalhar mais, para estar mais em movimento, para nos preocuparmos mais, para fazer mais coisas. Somos cada vez mais pressionados para estarmos sempre em movimento. E temos cada vez mais dificuldade em parar, porque isso nos confronta com os nossos fracassos, desejos, sonhos. Parar é um desafio muito grande. O sossego é um desafio muito grande. Mas cada vez mais gente tem coragem para isso.

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