
“Nós somos seres que anseiam por sinificado, que têm de lidar com o incómodo de serem arremessados para um universo que intrínsecamente não tem significado”: esta é a base de todos os livros de Irvin Yalom, e este ‘O sentido da vida’ não é exceção. Psiquiatra americano autor de bestsellers como ‘A psicologia do amor’, ‘Mentiras no divã’ ou o lindíssimo ‘De olhos fixos no sol’, o autor sempre foi fascinado com a forma como encaramos a morte.
Pioneiro na criação de grupos de terapia e apoio para doentes terminais, aqui nos conta algumas histórias que são não apenas a história dessas pessoas, mas a história da sua relação com o psiquiatra, com elas próprias, com uma vida que termina.
‘O sentido da vida’ não é um livro lamechas nem um relato de como ‘viu a luz’ mas um conjunto de histórias de amor em que a própria forma de ver o mundo do médico se cruza com a dos seus doentes. “Todas as semanas”, conta a certa altura “nós os quatro encontrámo-nos no meu gabinete: eu e a Paula, a morte dela e a minha. Ela tornou-se a minha cortesã da morte: apresentou-me a ela, ensinou-me como pensar nela, até mesmo a tornar-me amigo dela. Passei a compreender que a morte fora uma incompreendida. Embora tenha pouco de alegre, a morte não é aquele mostro malvado que nos arrasta para um sítio incompreensivalmente assustador. Aprendi a desmistificar a morte, a vê-la como aquilo que ela é, um evento, uma parte da vida, o fim de outras possibilidades.”
Yalom não relata ensinamentos mas as suas lutas para tentar ajudar muitas pessoas em situação limite. Percebemos que um médico também não é de ferro. Assistimos às suas próprias dúvidas, como ser humano e como médico, às suas falhas, muitas vezes ao choque e à incompreensão: Paula sente-se traída, Magnólia abandonada, Irene furiosa, Myrna desesoerada e Halston confuso. E Yalom partilha as muitas ocasiões em que se sentiu sem saber por onde continuar, como ajudar aquelas pessoas.
Nós leitores somos levados na viagem, assistimos a tudo: às dúvidas, aos fracasso, ao processo de tratamento, à viagem de procura de todas aquelas pessoas perdidas em história de vida que as fragilizaram mas que não lhes tiraram a capacidade de lutar.
Como enfrentar uma morte anunciada? Como enfrentar a morte das pessoas que amamos? E como desenvolver uma sabedoria profunda quando não estamos nós mesmos ameaçados? Todas estas preocupações aparecem num livro que nos mostra, mais do que ensina, tanto sobre nós.
PS: E não deixem de ler também o ‘De olhos fixos no sol’. É mesmo um daqueles livros que pode mudar a nossa vida.
‘O sentido da vida – Histórias de psicoterapia’ – Irvin D. Yalom, Ed. Desassossego, E17,70