Todos os pais e mães suspiram e se queixam de que é muito difícil pôr uma criança a ler e afastá-las dos telemóveis, e na maioria das vezes queixam-se disto nas redes sociais e nos ditos telemóveis. Pronto, agora que já se riram (ou choraram, conforme a sensibilidade) vamos passar da culpa ao problema.
É importante que uma criana leia? É. Pensamos com palavras, e se não as tivermos, temos menos ferramentas para pensar. Além disto, um livro dá-nos concentração, memória, atenção, imaginação, versatililidade, empatia e prazer.
De tudo isto, o princípio do prazer é o mais desprezado, quando é por aí que o gato vai às filhozes, neste caso a criança ao livro. Só fazemos uma atividade por duas razões: ou porque gostamos ou porque somos obrigados. Ora se criar o prazer de ler já não tem de obrigar, que dá muito mais trabalho.
Dito tudo isto, passos que ajudam a criar um leitor:
– Deixar que os filhos vejam os pais a ler (e a ler por prazer, não a ler livros de trabalho). Qual foi a ultima vez que pegou num livro e disse em voz alta: ‘isto é mesmo interessante!’
– Tirar dez minutos à noite quando se vão deitar para lhes ler em voz alta: dez minutos de um livro que ele queira e dez minutos de um livro que a mãe ou pai queira. Se ele souber ler, também pode ler para o pai. Isto parece uma medida muito simples e clássica, mas quantos a põem em prática?
– Escolher bem. O mercado está saturado de livros para miúdos, perca algum tempo a ler e a informar-se antes de comprar. Abra o livro e imagine que está a ler aquele texto em voz alta.
– Esqueça a moral. Imensos livros infantis estão cheios de boas intenções: vamos tornar o mundo melhor, vamos pensar mais nos outros, vamos ser mais amigos, vamos ser pa e amor, tudo muito importante não fosse o facto de os miúdos (e graúdos, aliás qualquer pessoa) serem alérgicos a sermões.
– Por isso aqui vos trazemos apenas 4 exemplos de livros muito diferentes mas que têm qualidades em comum: são muito divertidos, muito imaginativos, muito originais e visualmente lindíssimos – além de os ler, perca algum tempo com a sua criança a observar os desenhos.
Eles são:
O que fazem os sentimentos quando ninguém está a ver (Tina Oziewicz e Aleksandra Zajac) – O orgulho exibe-se numa torre, a tristeza cobre-se com um cobertor, o amor ilumina, etc. Muito simples e muito poético.
O casamento do meu tio (Sarah Brannen e Lucia Soto) – Sim, é sobre um casamento gay, mas o que preocupa a pequena heroína sobrinha é que se calhar o seu querido tio vai deixar de ter tempo para ela…
Gustavo, o fantasma tímido (Flavia Z. Drago) – Gustavo tenta convidar a monstrinha Alma para sair com ele. O mais divertido são os desenhos.
O pequeno robot de madeira e a princesa de lenha (Tom Gauld) – Um rei e uma rainha têm dois filhos, mas um dia a princesa desaparece e o irmão vai procurá-la. Isto dito assim não tem graça nenhuma mas os desenhos são tão engraçados e a forma de contar a história tão original que qualquer criança vai adorar.