Se há país onde se coma bem, é Portugal. Aliás, sempre foi uma das nossas forças. Gostamos de comer, gostamos de cozinhar, gostamos de jantar fora, gostamos do que é nosos, gostamos de experimentar, gostamos de convidar os amigos, gostamos de estar à mesa, até gostamos de cozinha para nós próprios. Come-se bem em todo o lado (pronto, menos em Lisboa, dizem os que não são de Lisboa), come-se muito diversamente e come-se de tudo. Também segundo os especialistas estrangeiros ‘estragamos’ pouco a comida: não manipulamos muito, gostamos de aproveitar a sua frescura.
Não admira portanto que seja um assunto que dê pano para mangas, ou antes, para aventais: há imenso por explorar no passado da gastronomia portuguesa, e este ‘História global da alimentação portuguesa’ (José Eduardo Franco e Isabel Drumond Braga) é um livro que vai interessar a toda a gente precisamente por essa diversidade. Aqui se fala de pão (toda a gente sabe que um português não sabe viver sem pão), de mel, de queijo, de açúcar, de batata, de bacalhau, de leite, de chá, de vinho, de chocolate, de água. Aqui se conta a história de pratos como o manjar branco, o bolo de mel ou a cabidela.
Falar da gastronomia portuguesa é falar da sua História. Visitamos a mesa dos reis e dos diplomatas, a mesa dos que pouco tinham para comer, as caravelas das especiarias, do Oriente, do Brasil. Aqui se faz a ligação entre comida e fé, da opção vegetariana, e bio, de estrelas michelin, de teatro e fado, da comida de avião. Até aparecem por lá as revistas femininas, vejam lá vocês.
Claro que ninguém pensa na história do pão quando come uma sandes de fiambre, mas é muito interessante perceber o mundo que se esconde em cada aliemnto que levamos à boca.
Tudo isto aparecem em pequenos textos de 69 especialistas, que nos mostram um universo cultural gigante escondido por trás de cada alimento, que nos contam a sua história e contam, através daquilo que comemos, um pouco da história do país que somos.
História global da alimentação portuguesa – José Eduardo Franco e Isabel Drumond Braga, Ed. Temas e Debates, E22,41