“Quando eu era pequena, crescia fascinada pela banda desenhada” conta Irene Vallejo numa nota final a O infinito num junco – novela gráfica. “A ideia extravagante de criar uma banda desenhada baseada nas peripécias deste ensaio pareceu-me um presente surpreendente, o sonho concretizado vindo daqueles vorazes dias da infância.”
Portanto, o livro é isso mesmo: esta novela gráfica é a recriação de um dos mais famosos ensaios dos últimos anos, um livro que se tornou imediatamente um bestseller mundial por ser, afinal, aquilo que toda a gente que gosta de ler, gosta de ler – uma história dos livros. O ‘junco’ do título vem do papiro egípcio, descoberto há cinco mil anos, que foi o início daquilo a que hoje chamamos livro.
O ensaio de Irene Vallejo é tão rico que mesmo quem já o leu, mesmo quem acabou mesmo agora de o ler, vai gostar de o ‘reler’ de outra forma. Para quem não leu, vai ser uma experiência ainda mais avassaladora, porque as ilustrações de Tyto Alba trazem ainda mais emoção a esta epopeia.
É que não é uma história arrumadinha, tipo em 3000 ac apareceram os papiros e anos mais tarde etc. É uma história de aventuras: e na invenção do livro há muitíssimas.
Assistimos a rusgas, lutas, batalhas, incêndios, naufrágios, amores, desamores, viajamos para a frente e para trás no tempo consoante a autora vai ligando experiências e acontecimentos. E na novela gráfica, o desenhador Tyto Alba tem a gigantesca tarefa de pôr em imagens e adaptar a outro formato um livro que não é fácil de ilustrar. Dentro dele entramos numa extraordinária viagem no tempo, de que somos também participantes, leitores e exploradores à descoberta de mundos desconhecidos.
Aqui aparecem-nos em imagem os lares atenienses e os campos de batalha, a mitologia e a realidade, os papiros e as tabuinhas, as escolas e as bibliotecas, as grandes mansões romanas e os campos de Auschwitz, os lembrados e os esquecidos, os campos de batalha de Alexandre, o Grande, e os palácios de Cleópatra, as primeiras livrarias e as oficinas de cópias manuscritas, as fogueiras onde se queimavam códices proibidos e o labirinto subterrâneo de Oxford no ano 2000.
Recordemos as palavras que resumem tudo:
“O livro sempre foi nosso aliado numa guerra que não vem nos manuais de História: a luta para preservar as nossas palavras, criações valiosas que são apenas um sopro de ar, ficções que invemtamos para dar sentido ao caos e para nele sobreviver”.
Em resumo, um excelente presente de natal para quem gosta de ler. Enfim, como nada é perfeito, só é pena as letras serem tão minúsculas que é preciso uma lupa para acompanhar a leitura…
O infinito num junco – novela gráfica, Tyto Alba e Irene Vallejo – Bertrand, E24,90