“Se a depressão saiu do armário, por que a bipolaridade não pode sair também?’ A pergunta começa o prefácio da escritora brasileira Tati Bernardi (ela própria autora do livro ‘Depois a louca sou eu’) ao livro ‘Bipolar sim, louca só quando eu quero’ e parte logo deuma das maiores discussões atuais acerca do humor: podemos rir de assuntos sérios?
A autora, Bia Garbato, não só defende isso como o põe em prática, partindo dela própria, da sua luta com a depressão e a bipolaridade, dos seus dias mais difíceis. Ela desarma quaquer um com o já famoso parágrafo: “Existem duas classes de bipolar: o tipo dois, com manias mais leves, e o tipo um, com mais pesadas. Como sempre sonhei em ser realmente boa em alguma coisa, sou tipo um.”
Riso e doença mental não costumam vir muito a par, mas Bia consegue o prodígio de falar de bipolaridade com graça e ao mesmo tempo com realismo e sensibilidade.
“Eu sempre soube que tinha uma coisa estranha aqui dentro”, começa.
“Quandofui diagnosticada, muita gente me aconselhou a encobrir a minha doença como se fosse vergonha, alegando que iria chocar as pessoas e gerar preconceito. Estavam totalmente certas. O problema é que eu não consigo viver meias-verdades.”
E conta como foi aprendendo a viver, administrando altos e baixos, como lidar com ‘tantos pratos a girar’. Mas faz tudo isto de forma tão divertida que o leitor dá por si a rir – com ela, não dela: essa é a grande diferença. Bia Garbato tem a grande inteligência de usar o humor para criar empatia e ligação, para mostrar como é viver na sua pele, para trazer o leitor para o seu lado. Ninguém consegue não rir com frases como ‘Roupa combinando irrita muito a depressão’ ou ‘Meu marido me encontrou na sala e disse ‘Jesus’! E olha que ele é ateu’.
Uma das partes mais interessantes do livro é quando ela conta como é ser mãe bipolar: “Uma das partes mais difíceis de ser bipolar é ser uma mãe bipolar’. Quem é mãe, mesmo quem não é bipolar, vai perceber tudo.
Mas nem todo o livro é sobre bipolaridade. Quando já percebemos como a coisa funciona, Bia liga o turbo e avança a todo o gás e toda a graça para outras cenas da sua vida, como as suas paixões, os seus sonhos e o seu casamento, que dá todo um capítulo onde não paramos de rir (e ainda ganhamos uma faixa de bónus com uma lista de homens com quem não casar – meninas, prestem atenção).
Seguem-se uma data de lições de vida importantes: quando se sabe que já não se tem 20 anos, o que é ser independente, coisas difíceis e fáceis da vida, a arte de andar de avião, e o drama das pessoas ‘desumildes’.
Mas qualquer mulher se vai identificar verdadeiramente com o capítulo do ‘underdress’: o que fazer quando se chaga a um casamento convencida que é uma cena hippie ma descontra, e toda a gente menos nós veio vestida para o baile.
Pronto, agora que já vos abri o apetite vão lá ler o resto. Um feliz 2025 para todos vocês, e se aprendermos a driblar as nossas fragilidades com a mesma graça da Bia, o mundo será um lugar bem mais leve.