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Desengane-se se acha que vai encontrar por aqui a romântica história de William e Catherine do Reino Unido, o triste destino de lady Di ou mais tricas acerca do casamento de Harry e Meghan. Mas já aí vamos. Comecemos com o meu triste hábito de mergulhar num livro de cabeça, muitas vezes sem saber sequer ao que vou, como era o caso.
Ora bem, histórias secretas de casamentos reais parece-me interessante, sobretudo para desanuviar um bocado dos tristes tempos em que vivemos.
“Existe atualmente no mercado de casamentos reais uma herdeira cuja mão é cobiçada por quase todos os solteiros principescos da Europa”. Quem será? O que não faltam hoje em dia é princesas casadoiras. Leonor de Espanha? Ingrid da Noruega? Não. “É a jovem grã-duquesa do Luxemburgo, Maria Adelaide.” Ora bolas. Desta nunca ouvi falar. Mas agora não é um grão-duque que lá está?
Bem, continuemos. No capítulo sobre a Suécia não reconheço ninguém. O que é estranho, porque até fui ao casamento da princesa Madalena. Fui, é uma maneira de dizer. Por acaso estava em Estocolmo nessa altura e fui lá abanar uma bandeirinha.
As coisas tornam-se quase insuportavelmente perturbadoras no capítulo dedicado aos Romanov (sim, esses que acabaram fuzilados numa cave com os diamantes cozidos no forro dos vestidos num dos episódios mais sangrentos da História mundial), onde se discute largamente o futuro matrimónio das grã-duquesas Tatiana e Olga e se comenta sabiamente que “No momento atual, as filhas do imperador Nicolau são talvez os melhores partidos da Europa.”
O capítulo termina de maneira muito pouco profética com: “A bondade do czar é demasiado grande para colocar obstáculos no caminho do verdadeiro afeto e esta é talvez uma das razões pelas quais é tão profundamente amado no seu círculo famíliar.” É pena não ter sido igualmente amado nos outros. Círculos.
Verdadeiramente alarmada, sigo para Portugal. Vá lá que já se diz que D. Amélia viu o marido e o filho serem assassinados à sua frente, mas a pobre rainha ainda sofre com os desvarios de D. Manuel, que passou as passas do Algarve até encontrar uma princesa europeia que o quisesse.
Na Inglaterra, nem sinal de William e Kate. Agora, “o rei Jorge e a rainha Maria podem esperar pelo dia em que os próprios filhos irão, por sua vez, pensar em casar-se”.
As noivas pretendidas: “A nação russa gostaria muito de ver o príncipe aliar-se aos Romanov e tornar-se genro do czar”. Ó céus, outra vez os Romanov, pobre gente!
Pronto, como devem calcular já percebi há muito tempo que o livro não foi escrito nos tempos que correm. A autora, Catherine Radziwill, merecia ela própria uma biografia: nascida no meio do século XIX, sabia do que falava porque também era princesa. Filha de uma das mais importantes famílias da Rússia, casou com um príncipe polaco de quem teve sete herdeiros, mas o interessante é que combinou o gosto pela intriga política com o génio literário, e fartou-se de escrever livros sobre as monarquias mundiais e seus universos (incluindo uma muito interessante biografia de Rasputine). Este livro sobre o ‘mercado matrimonial’ da realeza foi escrito no ano de 1915. Mal sabia ela o que aí viria apenas dois anos depois.
Enfim, como Catherine morreu em 41 e ainda viveu o princípio da Segunda Guerra, presume-se que tenha assistido a muitas das suas previsões darem estrondosamente erradas, incluindo o radioso futuro dos herdeiros britânicos todos casados com Romanovs. Adivinha-se o choque.
Muitos, eu diria mesmo que quase todos, os príncipes e princesas, reis e rainhas, que povoam este livro já caíram no quase esquecimento. Mas ler este livro nos dias de hoje é uma experiência duplamente interessante, até porque a autora, escreve bem e tem o condão de nos interessar até pelas personagens mais obscuras das famílias reais, como a matriarca casamenteira da Suécia, a rainha Sofia.
Por um lado, aprende-se imenso sobre as famílias reais europeias, mesmo quem seja um fã da ‘Hola’. Por outro, ficamos a pensar como o mundo pode, de um momento para o outro, trocar-nos os planos, quer se seja uma simples e dedicada cronista dos tempos reais quer se seja um dos desventurados protagonistas da História, como os Romanov.
Ah, para não irem daqui sem saberem o que aconteceu à Maria Adelaide com que começámos. Esta filha de uma infanta de Portugal e neta de D. Miguel, não teve infelizmente o belo destino de esposa real que a autora lhe vaticinava: nós (enfim, o Google) hoje sabemos que não só não casou como foi deposta pela irmã Carlota, recolheu a um convento e morreu de gripe aos 29 anos de idade. Para vocês verem que até às princesas o destino troca as voltas e que às vezes mais vale estar caladinha e não fazer ondas (felizmente que estamos no século XXI e as coisas já não são bem assim, nem para as princesas).
‘Histórias secretas de casamentos e alianças reais’ – Catherine Radziwill, Alma dos Livros, E19,45