A moda está cheia de factos incompreensíveis. Senão vejamos. Por que é que…
1 – … nunca há nada verdadeiramente giro
Por que é que há sempre qualquer coisa que estraga uma peça que de outra maneira seria perfeita? Uma saia tem um feitio giro, mas é verde-alface. Uma t-shirt branca de algodão seria perfeita, sem os refegos nas mangas. Um decote que nos fica bem chega-nos quase até ao umbigo. Um vestido giro tem um padrão de fugir aos gritos. Porquê? Parece que é só para chatear. Estamos mesmo a ver o ‘designer’ ou estilista ou lá quem é, assentadinho ao seu cavalete a desenhar uma saia branca ou preta perfeitamente aceitável, e de repente a torcer o nariz e a dizer: "ai que horror, tão normalita… vou dar-lhe uma volta mais arrojada." E pimba. Padrão psicadélico. Ou racha. Ou fole. Ou folho. A maioria deles ainda não percebeu que a maioria de nós não quer ser ‘arrojada’. Quer ser gira. E gira e arrojada são palavras que na maior parte dos casos não andam juntas.
2 – … nunca nada nos fica verdadeiramente bem
Por que é que tudo parece feito para exibir o que temos de pior? Claro que a questão pode ser posta de maneira menos simpática: por que é que somos tão mal-feitinhas que nada nos fica bem? Mas a moda é que tem de se adaptar a nós, e não o contrário, porque nós chegámos primeiro. Afinal, primeiro veio a Eva e só depois é que chegou a folha da parra. E a maioria das peças parecem especialmente cortadas para mostar que temos perna curta, joelhos ossudos, peito a mais, cintura a menos, e rabo de Pato Donald. De certeza que no tempo das parras as coisas não eram tão complicadas.
3 – … quando serve na cintura fica apertado na anca, e vice-versa
‘Designers’, produtores, criativos e estilistas: acordem! Não estão a desenhar para a Giselle Bundchen! Nem para o irmão da Giselle Bundchen! Nós se calhar até gostávamos de ser a Giselle Bundchen, e até mesmo o irmão da Giselle Bundchen, mas as mulheres reais não são assim, quem vai às lojas geralmente não tem dois metros de perna, e já se viu que isso só dá mau resultado em termos de autoestima.
4 – … ainda se fazem blusas pelo umbigo
Por amor de Deus. Estão a ver quais são? Aquelas que ablusam num fole e acabam pelo umbigo? E aquelas que têm um elástico pela anca e depois um folho, que nos fazem parecer grávidas de 8 meses? E vestidos mesmo acima dos joelhos? Por amor de Deus: quem é que tem joelhos giros para mostrar? Ninguém! E por que é que a maioria das calças continua descaída? Ninguém tem um umbigo giro nem refegos fofos! A última vez que tivemos umbigo giro e refegos fofos foi aos 3 meses! Há mesmo dias em que nos parece que tudo isto se trata de uma conspiração universal para tornar todas as mulheres o mais horrorosas possível. Amigas: não deixem! Revoltem-se já contra a ditadura do folho!
5 – … nunca há calças do nosso tamanho
Ou são à pirata e ficamos com a perna ainda mais curta do que já é, ou sobra quilómetros de tecido e ficamos a parecer o bebé do Popeye (lembram-se?). Mas por que raio não há umas calças para pessoas de perna mais curta? Será para fazerem negócio com as bainhas? Está bem que a maior parte da roupa está feita para alemãs, americanas e espanholas, que têm todas mais meio-metro de tornozelo do que nós. Mas se pensaram nos direitos das pessoas que gostam de verde-alface e de blusas com fole a acabar pelo umbigo, daria assim tanto trabalho pensar na esmagadora maioria de pessoas que não têm as pernas da Bárbara Guimarães?
6 – … todos os sapatos nos magoam
E quase todos têm salto-agulha. Caso ainda não tenham reparado, já não estamos nos anos 50. As mulheres trabalham, agora. As mulheres têm que pegar nas crianças, correr para o autocarro, subir as escadas do metro, e andar um dia inteiro em cima daquilo. Caso também não tenham reparado, os nossos passeios são furiosamente inimigos de salto-agulha. Caso também ainda não tenham reparado, não há nada melhor para torcer um tornozelo ou para arruinar a coluna, e além disso aquele mosquitinho de salto gasta-se em dois dias. Fazem umas pernas lindas? Depende. Quem é baixinha parece a Miss Piggy.
7 – …existem padrões tão esquisitos
Quando se dá com uma blusa que faz sobressair o pescoço e nos faz uns braços lindos, toma lá que é para não te ficares a rir: é verde-alface com losangos roxos. Ou já só há em amarelo. Por que é que não se pode honestamente andar de preto ou branco ou creme ou cinzento ou cor de rosa? Qual é a tara de nos tentarem convencer permanentemente das alegrias de andarmos vestidas de papoila ou de repolho?
8 – … a moda parece toda feita para adolescentes
Por que é que é tudo transparente? A maioria de nós adoraria andar com aquilo na praia, mas a maioria de nós não compra roupa especialmente para a praia… Alcinhas? Mas quem é que pode ir trabalhar de alcinhas? E por que é que os decotes descem todos até ao umbigo? E os tops feitos para serem usados sem sutiã? A maioria das mulheres não tem corpo (nem patrão…) que dê para usar tops sem sutiã! Não é que não houvesse roupa para as raparigas, coitadas, que também têm direito à vida, mas será que esta gente não sabe que não se pode ir para o trabalho de havaianas, calças a mostrar o umbigo, e um top de alcinhas a dizer "sex-princesss"?