Ser criança é sermos todos nós. Ou pelo menos, é o que deveríamos ser. Recordo Saint Exupéry que dizia que os adultos são aborrecidos – e são aborrecidos, precisamente porque se esqueceram de que um dia foram crianças.
Não acredito em roupa de menino ou de menina. Não acredito na atribuição do rosa e do azul. Não creio nas secções de livros para as raparigas e nas secções de livros para os rapazes. Nem nas bonecas para elas. E nas bolas para eles. E acho, acima de tudo, que nenhum menino se deve sentir intimidado por pegar num livro de princesas. Assim como defendo que nenhuma menina deva pensar duas vezes antes de desistir do ballet para rumar ao futebol.
Ser criança é ser uma tela branca. Tela essa onde os adultos – os chatos – pintam os seus sonhos, as suas verdades, os seus dogmas. E tantas vezes se esquecem de pintar a liberdade. A igualde. E o respeito. Todos estes últimos três, tão mais importantes, que os três primeiros.
Neste dia é impossível não recordar uma viagem que fiz ao Egito, na qual percebi que ser criança era bem diferente do que esta privilegiada noção ocidental que temos. Por lá, meninos e meninas pedem por comida. Não é dinheiro que eles querem. É sim matar a fome. Vi-@s encardid@s como se nunca tivessem sentido água na pele. Magr@s como se estivessem à mercê de cair para o lado. E o pior disto tudo – estavam sozinhos.
Aventurei-me pelo Egito sem guias turísticos ou viagens de resort. Fiquei num hotel, que se dizia bom, onde crianças lavavam os elevadores e as escadas. Onde a exploração de trabalho infantil é uma realidade absoluta (e obsoleta) à qual ninguém vira a cara – porque é “normal”. Perdoem-me; não é normal. É DEVER da criança brincar. Não ter fome.
Poder escolher entre vestir rosa e azul. Ou verde, ou amarelo. Porque as cores não trazem “pilinhas ou pipis”. Fomos nós, os crescidos – os chatos – que pintamos a tela dessa maneira. Ser criança é querer sonhar com um amanhã sem medo. É não temer por ser negro ou branco. Amarelo ou vermelho. É poder sentir amor livremente sem se arriscar a ficar sem teto. Ser criança É ter na mão o poder de mudar o mundo. E nós, os adultos, os chatos, temos tanto a aprender com el@s. Porque o maior direito e maior dever da criança é… Ser criança.
Feliz dia da Criança.