Quanto mais a sustentabilidade se torna um tema tendência (por direito próprio e por necessidade urgente e real), mais a fast fashion se parece transformar numa indústria um bocadinho fora de moda. O seu brutal impacto para o ambiente é um problema crescente e premente e a mentalidade de consumo está a mudar por causa disso. As compras por impulso estão a dar lugar ao consumo ponderado e consciente, e este facto obrigou grandes cadeias como a Zara e a Mango, por exemplo, a pensarem em caminhos mais verdes e em formas de tornarem a roupa mais durável. Seguindo a tendência atual, onde o mercado de roupa em segunda mão ganha terreno, as duas marcas de fast fashion parecem ter encontrado uma alternativa à quantidade de roupa que acaba em aterros de lixo. Neste sentido, a Mango e a Zara vão dar uma segunda vida às suas próprias roupas, através de duas plataformas distintas.
A Mango criou a Mango Renting, um site já disponível em Espanha, onde é possível alugar peças de roupa e de acessórios para ocasiões especiais. O processo é muito simples, prático e rápido. Basta escolher o modelo pretendido, indicar o dia e a hora em que o quer receber e, mal o tenha, dispõe de quatro dias para experimentar o look, usar e devolver. Não tem que lavar a roupa, basta colocá-la na caixa onde a recebeu, que a Mango encarrega-se de tudo. Vai buscar a roupa à morada de entrega ou a outra mais oportuna e responsabiliza-se pela limpeza da mesma. Caso escolha um vestido, por exemplo, com o qual não goste de se ver, tem sempre a possibilidade de o devolver.
Já a Zara optou por criar uma plataforma de revenda da sua própria roupa, a Zara Pre Owned, que irá funcionar nas lojas físicas, no site e na app da marca. Prevê-se que seja algo que esteja disponível ainda este ano e a verdade é que este conceito de moda circular, onde vai poder encontrar peças de coleções antigas em segunda mão, representa um bom exemplo de um compromisso de sustentabilidade por parte da cadeia espanhola. Partindo da premissa que a peça de roupa mais sustentável é aquela que já está fabricada, a Zara pretende, assim, contribuir para a redução de resíduos e consumo de novas matérias primas.
Porque é aqui que reside o verdadeiro problema, já que o consumo de água, a utilização de químicos tóxicos e os crescentes níveis de poluição associados ao desperdício têxtil são algumas das principais preocupações inerentes à indústria da fast fashion. De acordo com o estudo “The global environmental injustice of fast fashion”, todos os anos são comprados cerca de 80 mil milhões de peças de vestuário em todo o mundo. Nos Estados Unidos, aproximadamente 85% da roupa comprada acaba em aterros, ou seja, uma média de 36 quilos por cada habitante. Em Portugal, segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente, são recolhidas perto de 185 mil toneladas de resíduos têxteis por ano. Números que são verdadeiros alertas e que gritam por uma mudança efetiva.