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Gonçalo Sabença/ Zenurik
Entre os próximos dias 9 e 12 de junho, o Palácio de Congressos do Algarve recebe mais uma edição do Solrir, “o melhor festival de humor do mundo. Provavelmente…“. São oito homens com uma missão – fazer o público rir. Entre eles, está uma mulher, Beatriz Magano, que subirá ao palco todos os dias, e com quem tivemos o prazer de conversar.
Para todos os que não a conhecem, como se descreveria?
Uma rapariga banal que não consegue estar parada, que desde cedo soube o que queria ser e que descobriu com esta pergunta que tem alguma dificuldade em se descrever (risos).
Como tem sido o seu percurso profissional até agora?
Uma verdadeira parafernália de trabalhos, tenho praticamente uma vida dupla entre espetáculos, atuações, produções próprias, e trabalhos fora da área artística, desde vender facas, trabalhar em restauração e atendimento ao público. No fundo, tudo o que aparece. Desde 2015, quando terminei o meu curso de teatro, nunca parei, passei por várias vertentes da área artística, tanto como atriz a fazer musicais, peças documentais e alguns trabalhos em televisão. O stand up entra mais a fundo na minha vida quando, em 2016, decidi entrar num bar aleatório e fazer 5 minutos sem pensar muito, voltando a reavivar aquilo que sempre quis fazer: proporcionar risos aos outros. Em 2021, estreei o meu monólogo de comédia chamado “Sai Uma de Pressão”, onde consegui culminar o stand up e teatro num só trabalho. Juntei-me com a minha colega e amiga Maria Quintelas, que escreveu e encenou.
É difícil começar e construir uma carreira na área do humor?
Acho que hoje em dia é difícil construir carreira em qualquer área. É claro que a artística depende muito da nossa vontade e do apoio que temos à nossa volta, tive a sorte de ter um bom suporte familiar e de amigos em relação a esta opção que fiz na minha vida. Nesta área não podemos estar à espera que nos caiam as oportunidades, isso é uma ilusão que se cria. Uma coisa que aprendi é que nós fazemos as nossas oportunidades e construímos o nosso lugar, e construir carreira é algo que demora tempo, acima de tudo tenho isso em mente.
Sente alguma diferença por ser mulher? Seja por parte do público ou de colegas.
É uma pergunta que me fazem constantemente, acho que a igualdade de oportunidades começa a ser mais equilibrada. Acima de tudo, quero que me contratem pelo o meu trabalho. Por vezes a “separação das águas” é o primeiro passo para essa desigualdade. Ainda há um longo percurso a percorrer, pois ainda vivemos numa sociedade bastante conservadora em que, por vezes, sinto da parte do público a sensação que uma mulher não pode ou não deve dizer isto ou aquilo. E isto tanto acontece em público feminino como masculino. Da parte dos meus colegas não me posso queixar, tenho um bom suporte e não me sinto rebaixada por ser mulher.
Onde é que procura inspiração?
O que gosto no stand up e na comédia é que inspiração está em todo lado literalmente, tudo pode ser conversível em humor do ponto de vista certo. Eu sinto-me uma verdadeira lupa, pois estou constantemente a observar tudo o que me rodeia à espera que outro ponto de vista cómico surja sobre a situação. Dou muitas vezes por mim a viver situações más e a pensar “isto pode ser texto”. Talvez se torne quase doentia esta profissão porque a ansiedade da procura da piada é algo que não conseguimos controlar e é constante no nosso cérebro.
Qual diria que foi o melhor momento da sua carreira? E o pior?
Penso que um dos melhores momentos da minha carreira ainda está para vir. No próximo mês de junho, irei subir a palco no festival Solrir. Nunca pensei partilhar o palco com comediantes que foram e são referência para mim. Se há uns anos me dissessem que isto iria acontecer diria a quem me disse, que estava louco! Um dos momentos mais difíceis até agora foi ter que atuar estando doente, estava com um problema nas zona da cervical e toda a atuação foi feita em modo “robocop”.
Sente que ser comediante é uma profissão “desvalorizada”?
Respondendo diretamente à pergunta, acho que é desvalorizada. Só quem está no meio sabe o quão difícil é chegar a 5 minutos de bom texto. As dúvidas constantemente que nos colocamos. Nesta arte estamos entregues “aos cães”. Por vezes, temos de atuar em circunstâncias super complicadas, sem condições e mesmo assim temos que contornar sempre a situação. São poucas as pessoas que valorizam monetariamente esta arte, uma vez que pensam que é “só contar piadas”. A falha e o erro é algo com que temos que aprender a lidar, podemos ser o comediante mais experiente com a melhor entrega mas nunca podemos tomar nada como garantido, porque chega sempre o dia em que a humildade te dá uma chapada.
O que é que mudaria, atualmente, no nosso país, no que diz respeito ao exercício desta arte?
Uiii…. acho que para esta pergunta precisamos de uma página inteira no mínimo. Para esta pergunta em concreto terei que globalizar todas as áreas artísticas, pois não me insiro apenas na vertente de comédia. Do meu ponto de vista, algo que seria importante mudar é o contacto que as crianças têm com arte. Não existem incentivos, apoios e iniciativas para fomentar isso nas escolas. Se, desde pequenos, estivermos em contacto com a arte, seremos, certamente, adultos que sentirão a necessidade de a procurar.
Quais as melhores dicas que já lhe deram e que gostaria de partilhar com alguém que queira seguir o mesmo rumo?
A melhor dica que já me deram até agora foi dizer sempre o que quero dizer e não complicar muito, simplificar, nunca fazer do público burro e pensar que o objectivo principal é sempre fazer rir. As redes sociais são algo que temos que trabalhar, pois vivemos numa era em que isso é importante! Tentar escrever todos os dias, mesmo que não nos apeteça, e gravar todas as nossas atuações.
O que lhe reserva o futuro?
Sentir-me-ei realizada se um dia conseguir dedicar-me a tempo inteiro à minha carreira. Espero que o futuro me reserve muitos espectáculos, não só em comédia mas como atriz. Gostava de, para o ano, conseguir estrear outro espectáculo da minha autoria.
Pode comprar bilhetes para o festival na Worten, Fnac, Media Markt e Meo Blue Ticket.