“Tudo na minha vida, das férias ao trabalho, é condicionado pelo mar”
“As minhas memórias mais antigas são sempre no mar. O meu pai fazia mergulho e nós acompanhávamo-lo sempre nas suas aventuras, até as nossas férias de verão eram estipuladas conforme os spots de mergulho. Rapidamente comecei a aprender com ele e aos 13 anos já sabia mergulhar com escafandro. Quando chegou a hora de escolher um curso, quis ir para Biologia Marinha, mas como me diziam que as saídas profissionais eram limitadas escolhi Engenharia Zootécnica, mas não gostei nada e voltei atrás para estudar o que sempre quis.
A minha paixão pelo mar, pelo mergulho, pelos desportos de mar é incontornável. No último ano do curso concorri ao IPIMAR (Instituto de Investigação de Pescas e do Mar) e consegui entrar. Passava um ano em alto mar a recolher dados no navio oceanográfico e o resto do ano em laboratório. Estava feliz, mas nas férias de verão a minha vontade de viajar fez com que começasse a servir à mesa para ganhar algum dinheiro. Fui parar ao Chapitô e logo na primeira semana senti algo familiar naquele ambiente de azáfama da cozinha. Dei por mim a olhar para os pratos e a imaginá-los à minha maneira. Já estava a trabalhar a tempo inteiro no IPIMAR como bióloga marinha quando pedi ao chef Gemelli para me deixar observar e aprender sobre cozinha no seu restaurante das 19h até fechar. Foi quando me apercebi que me sentia ali em casa, na restauração, tive uma sensação de que já tinha feito isto, não sei se noutra vida, se se acreditar nisso… Despedi-me do IPIMAR e fui para Barcelona tirar um curso intensivo de um ano. Era para lá estar um ano e acabei por ficar 6, a trabalhar. Quando voltei para Lisboa, trabalhei para vários restaurantes, inclusive com o chef Henrique Sá Pessoa que me convidou para o Tapisco. Neste momento, continuo a trabalhar bastante mas com horários mais normais, estou a dar consultoria a restaurantes e formação nas Escolas de Turismo e Hotelaria em Estoril e Setúbal.
O mar nunca pode estar muito longe, todos os momentos livres lá vou eu fazer surf ou dar uns passeios, faz parte de mim. Em casa, praticamente não como peixe nem carne. Não sou vegetariana, mas sei, como bióloga, que os stocks de peixe que nós portugueses temos como tradição gastronómica – como o tamboril, sardinha, bacalhau, percebes ou salmonetes – correm risco de extinção. Por isso, as poucas vezes que como peixe são outras espécies que não estão em perigo. Compro cavala ou azevias por exemplo, e tento sempre chamar a atenção da família e amigos para experimentarem algo diferente e para o problema dos stocks. Sei que é rara a carta de restaurante que não tem estes peixes e para sobreviver tem de os ter porque poucas pessoas ‘arriscam’ pedir outra coisa. Mas tem de haver uma mudança nos hábitos alimentares, eu sei que não é fácil, mas se queremos comer bacalhau ou sardinha no futuro próximo temos de comer outras espécies que vivem na nossa costa, que é tão rica!”