Todos os anos, além das premiadas nas diversas categorias, os Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras homenageiam uma mulher que se distingue por todo o seu percurso profissional ao longo de uma vida. No ano passado, o Prémio Carreira foi atribuído a Maria João Avillez, que não pôde estar presente por motivos pessoais.
Este ano, Maria João Avillez teve oportunidade de receber o prémio, das mãos de Luís Marques Mendes, que relembrou a importância e o percurso de uma das jornalistas mais conhecidas de Portugal, chamando-lhe “uma verdadeira senadora do jornalismo”, devido ao “carácter pioneiro da sua carreira”.
“Hoje”, lembrou Marques Mendes, “há várias pessoas que se dedicam ao jornalismo político. Mas quando Maria João Avillez começou, quase ninguém se dedicava a isso. Nos anos que se seguiram à revolução, ela teve acesso às figuras principais, como Álvaro Cunhal, Mário Soares ou Francisco Sá Carneiro, que tinham por ela imenso respeito e admiração. Mais à esquerda ou mais à direita, todos confiavam nela.”
Mas isto não acontecia apenas no passado, e Marques Mendes lembrou entrevistas recentes ao Papa Francisco ou a Pedro Passos Coelho. Relembrou que Maria João Avillez era e é uma pessoa “frontal e direta, uma pessoa que ainda tem a coragem de ter causas e por quem é impossível deixarmos de ter admiração.”
Assinalou ainda a sua carreira literária na biografia política, um género que não é nem comum nem fácil. “Também aqui ela é uma referência. Resumindo, 50 anos de trabalho a que se seguirão muitos outros, passados a honrar a sua profissão e sobretudo a honrar a nossa democracia.”
Agradecendo o prémio e as palavras de Luís Marques Mendes, Maria João Avillez subiu ao palco para se declarar muito comovida. “Queria agradecer às pessoas do juri esta distinção”, começou por dizer, sublinhando que aquilo que hoje continua a distingui-la é o “entusiasmo vibrante” pela sua profissão.
“Infelizmente não pude cá estar no ano passado”, continuou, “mas o destino encena bem as coisas e quis que eu aqui estivesse no ano em que celebramos 50 anos de democracia. Eu assisti o que foi antes, e o que foi para os jornalistas a resposabilidad e eo empenho com que vivemos esse período, a revolução e a contra-revolução, e tudo isso foi u desafio extraordinário. Portanto, este prémio, sendo recebido hoje, tem para mim ainda mais significado e importância. Muito obrigada!”
Para quem não seguiu a sua carreira, relembramos que Maria João Avillez foi e é uma das nossas maiores referências na área do jornalismo político. Mas tivesse ela seguido a sua vocação inicial, e hoje estaríamos a homenagear uma atriz em vez de uma jornalista, porque todo o universo do teatro a fascina desde criança. Mas quis o destino que, em vez de interpretar personagens históricas nos palcos, dedicasse a sua vida a entrevistar personagens que fizeram História no país e no mundo.
Habituada desde pequena a conviver com os políticos, escritores, artistas e intelectuais que os seus pais recebiam, adquirido desde cedo o gosto pela leitura, começou como locutora no Programa Juvenil da RTP, pela mão da sua professora Yvette Centeno. Tem 17 anos, talento para a comunicação e a escrita, e uma certeza: quer ser jornalista. Funda, com dois amigos, o jornal Companheiros, onde publica as suas primeiras entrevistas a personalidades internacionais: duas cantoras francesas famosas, a que haveria de juntar muitos outros nomes. Incluindo o Papa Francisco. Mas o grande salto para a ribalta profissional deu-se em 1974, após o 25 de Abril. Trabalhava no jornal ‘A Capital’ quando conseguiu ser a primeira jornalista em Portugal a entrevistar o então primeiro-ministro Vasco Gonçalves. A cacha impressionou os seus colegas do jornal… e Francisco Balsemão e Marcelo Rebelo de Sousa, que logo a convidaram para integrar os quadros do Expresso.
Além de entrevistas a grandes nomes das artes e da cultura, destacou-se no jornalismo político, escrevendo sobre Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Álvaro Cunhal. Até hoje a natureza humana fascina-a, e costuma dizer: “Se me derem uma pessoa, eu faço uma grande viagem.” O que explica o sucesso dos seus programas ‘Interiores’, na RTP, em 1993, e ‘Conversa Afiada’, na SIC, de 2001 a 2003, onde conversava com personalidades interessantes das várias áreas da sociedade portuguesa.
Em 2014 foi condecorada como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Foi e continua a ser cronista e comentadora. Hoje, aos 79 anos, não pensa em reformar-se da profissão que continua a fazer com a mesma capacidade de trabalho, curiosidade e entusiasmo com que escreveu a primeira linha numa folha de papel.
Recorde-se que a revista ACTIVA entregou pelo sexto ano consecutivo os Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras numa cerimónia que decorreu no Palácio da Cruz Vermelha em Lisboa. A revista ACTIVA elege anualmente as Mulheres Inspiradoras que se destacaram nas seguintes áreas: Artes, Ciência, Desporto, Empreendedorismo, Solidariedade e Sustentabilidade. É, ainda, atribuído o Prémio Carreira e este ano o Prémio Especial Liberdade.
O júri é constituído por Conceição Zagalo, Luís Marques Mendes, Mafalda Anjos, Maria de Belém Roseira e Natalina de Almeida.
Os Prémios contam com o apoio, fundamental, das marcas C&A, DS Automobiles e Isdin.