Fico assustada sempre que oiço alguém dizer que só quer trabalhar naquilo que gosta. Todos queremos, é uma verdade. Mas não sei até que ponto temos a noção de que trabalhar naquilo que se gosta dá imenso trabalho. E nem sempre esse trabalho é aquilo que gostamos de fazer.
A célebre frase no pain, no gain traduz na perfeição o que acabei de escrever. Sem “dor” não existe ganho. E esse ganho, leia-se, é trabalhar naquilo que se gosta. Desengane-se quem pensar que será tudo perfeito e sem “dor”, quando encontramos algum propósito no trabalho que fazemos, ou quando construímos um contexto que se aproxime daquilo que amamos fazer. Por mais que amemos, nem tudo será fácil.
Atrevo-me a comparar isto a uma relação amorosa. Como sabemos, nem tudo são rosas quando estamos amorosamente comprometidos com alguém. O amor dá trabalho. O sucesso dá trabalho. E esse trabalho nem sempre é aquilo que mais gostamos, mas tem de ser feito.
É aqui que quero chegar: devemos fazer o que tem de ser feito para chegar onde mais queremos na nossa vida. E isso implica mudanças de hábitos, implica tomadas de decisão, implica enfrentar o desconfortável, e até enfrentar alguma dor. Faz parte do processo.
Nunca venderei a ideia de que é fácil seguirmos os nossos sonhos. Nem o conseguiremos da noite para o dia. Precisamos de fazer sacrifícios, sim. Como costumo dizer, temos sempre duas opções: dor imediata e prazer a longo prazo, ou prazer imediato e dor a longo prazo. A opção é nossa.
O trabalho de sonho dá de facto muito trabalho, e é perante este trabalho mais “desagradável” — mas que tem de ser feito, caso queiramos ser felizes — que muita gente desiste de viver o seu sonho no âmbito profissional. A ilusão a que assistimos hoje, principalmente nas redes sociais, revela-se um elemento de comparação completamente destrutivo. Ao visitarmos perfis e vidas perfeitas, acreditamos ser fácil chegar lá. Começamos a comprar a ideia de que a vida tem de ser SEMPRE assim. E, se não for, existe algo de errado em nós.
Não, não existe nada de errado em nós. O que existe de errado é esta tendência para mostrar em todo e qualquer lado que a nossa vida de sonho está ali ao virar da esquina. E frases como “se eu consegui, tu também consegues” são vazias. É veneno. Se eu consegui, foi graças às minhas características, ao meu contexto, à minha força e até às minhas fraquezas. Consigo, vejamos como podes conseguir também. Mas a minha receita não terá de ser a tua. E qualquer receita dá trabalho, e terá alguns ingredientes que não sabem bem.
Obrigada pela confiança,
Próximas iniciativas a acontecer:
- Programa Intensivo de Liderança Feminina, 03.06.2023