Alguns estudos parecem sugerir a associação entre os diferentes tipos de sangue e algumas doenças. “Os sistemas de sangue estão presentes noutras células, não apenas à superfície dos glóbulos vermelhos, e estão associados a processos biológicos que podem ter repercussão a outros níveis”, explica o imunohemoterapeuta António Robalo Nunes. “Tem-se escrito muito sobre este assunto, mas as evidências científicas são escassas. Algumas destas associações são apenas estatísticas. É preciso ter prudência e não dizer que o indivíduo de grupo A vai ter um cancro de estômago. Nenhum de nós está exclusivamente dependente da genética – há que não esquecer os fatores ambientais.”
No entanto, há algumas evidências científicas a ter em conta.
TIPO A
MAIOR VULNERABILIDADE A DOENÇAS CARDIOVASCULARES E CANCRO DO ESTÔMAGO
“Sabe-se que as pessoas de grupos ‘não zero’ [A, B e AB, por oposição ao grupo 0] têm um risco ligeiramente maior de doenças cardiovasculares, como a doença coronária, tromboses venosas e embolias pulmonares, por causa do fator VIII, uma proteína da coagulação”, observa António Robalo Nunes. “O excesso de fator VIII aumenta o risco de acidentes trombo-embólicos. Com alguma prudência pode dizer-se, por isso, que as doenças cardiovasculares são menos prevalentes nas pessoas do grupo 0. Sabemos também que as pessoas do grupo A têm tendência a produzir mais cortisol (a hormona do stress) e podem, por essa via, desenvolver doenças cardiovasculares.”
Ou seja, se o seu sangue é de tipo 0 (zero mesmo, e não O como costumamos dizer, o que significa que ele não possui determinados antigénios, explica Robalo Nunes), teoricamente está mais protegido de acidentes vasculares como tromboses – é claro que depois existem outros fatores que determinam um risco maior ou menor, como o seu estilo de vida.
“Um estudo escandinavo que seguiu pacientes durante muitos anos apontava ainda para o facto de os indivíduos deste grupo serem mais vulneráveis ao carcinoma do estômago, quando comparados com o grupo 0. Havia também alguns indícios de relação com o cancro do pâncreas e da nasofaringe, mas não se encontrou relação com outros tipos de cancro.”
GRUPO AB
PROBLEMAS COGNITIVOS E DE MEMÓRIA
Um estudo da Universidade do Vermont liga o raro grupo sanguíneo AB a uma probabilidade 82% maior de desenvolver problemas cognitivos e perda de memória. O estudo foi publicado pela revista ‘Neurology’ e foi divulgado como credível pelos National Institutes for Health dos EUA. “Não é uma associação tão inesperada quanto isso”, observa o imuno-hemoterapeuta, até porque um dos órgãos onde os antigénios dos grupos de sangue têm maior representatividade é o cérebro. “Mas não há ainda evidências científicas suficientes e não deve constituir um motivo de preocupação.”
GRUPO B
MAIOR INCIDÊNCIA DE DIABETES
É um dos grupos sanguíneos mais raros mas três estudos asiáticos (Qatar, Paquistão e Malásia), referenciados pelo National Center for Biotechnology Information, nos EUA, descobriram uma maior prevalência de diabetes de tipo 2 em pessoas deste grupo. O tipo de sangue 0 apresentava uma menor incidência da doença. Mas, como refere a conclusão do estudo da Malásia, são necessárias comparações mais aprofundadas com outros grupos étnicos.