Hoje é o Dia Mundial do Combate à Obesidade e alguns de vós estarão, provavelmente, a questionar-se por que motivo ainda não existe um dia dedicado a esta problemática nas crianças. E dou-vos razão. Se hoje há dias dedicados a quase tudo e mais alguma coisa, por que não também destacar um que nos faça refletir acerca da obesidade infantil? Se a obesidade no adulto não para de ganhar terreno, a infantil não fica atrás. De facto, chegamos ao cerne da questão, é uma realidade que a obesidade infantil representa já uma problemática de dimensões por alguns desconhecida. Este é atualmente um problema maior de Saúde Pública, com aumento exponencial nos últimos anos, tendo sido classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a Epidemia do Século XXI. Existem 155 milhões de crianças em todo o mundo com obesidade. Portugal, considerado pela Comissão Europeia um dos países da Europa com maior número de crianças afetadas, tem 33% de crianças entre os 2 e os 12 anos de idade com excesso de peso, das quais 17% são obesas.
Efetivamente, há muito que o excesso de peso e o sedentarismo explícito no dia-a-dia das nossas crianças e jovens se tornou uma realidade. A falta de motivação para a prática de exercício físico aliado aos frequentes maus hábitos alimentares, apresentam-se como fatores que se vão perpetuando e mais cedo ou mais tarde acabam por culminar em obesidade infantil. Não se gasta tanta energia nas atividades da vida diária como outrora. Não raras vezes, a falta de atenção na escola, a irritabilidade, os distúrbios do sono, o acne exuberante, estão associados a uma má alimentação. É durante o crescimento que o cérebro sofre uma série de alterações, onde a alimentação pobre nutricionalmente, frequentemente à base de carnes vermelhas e processadas, açúcares, farinhas, gorduras e refrigerantes, dificulta esse desenvolvimento. Assim, a saúde infantil tornou-se um problema de responsabilidade pública e cabe aos pais, educadores, à escola e à própria sociedade assumir um papel ativo na mudança de comportamentos e estimulação de hábitos de vida saudáveis.
A obesidade é uma doença multifatorial de alto grau de complexidade e pode ser classificada como primária (90% dos casos) ou secundária. A obesidade primária tem uma forte predisposição genética e está associada ao alto consumo calórico com baixo gasto energético, não havendo uma doença de base. Por seu lado, a obesidade secundária é desencadeada por uma patologia e habitualmente associa-se a rápido aumento de peso, achados dismórficos, atraso no desenvolvimento psicomotor e crescimento insuficiente. O diagnóstico da obesidade é baseado no cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) através da divisão do peso pela altura ao quadrado. A interpretação do resultado obtido, para crianças e adolescentes, é feita em gráficos considerando percentis. De acordo com a OMS, é considerada obesa a criança que estiver acima do percentil 97.
É urgente alertar as mentes mais distraídas para este flagelo: crianças inativas correm maior risco de virem a ter problemas no futuro (nomeadamente diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, asma, perturbações do sono, entre outras), uma vez que ter uma vida mais ativa na infância traz benefícios a nível físico, social e emocional, o que permite controlar eventuais doenças degenerativas na idade adulta.
Por todos os motivos e mais alguns, é imperativo guiar as nossas crianças no bom caminho – o da prevenção. E essa jornada deve iniciar-se em casa, através da implementação de hábitos de vida saudável, de forma a captar o interesse da criança e despertar nela o gosto por uma alimentação nutricionalmente equilibrada e uma vida mais ativa. Sempre que se justifique, deve-se aconselhar modificações alimentares, incluindo a ingestão de alimentos menos calóricos, a mastigação correta dos mesmos e evitar snacks nos intervalos das principais refeições. É de igual modo importante promover atividades que permitam à criança desenvolver as suas capacidades psicomotoras, permitindo que esta brinque mais, corra mais, salte mais e, deste modo, veja menos televisão, use menos o computador e faça da atividade física uma rotina natural, feliz e espontânea, tal como uma criança deve ser.
Drª Ana Lopes da Silva