Os benefícios da osteopatia
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Há cerca de 6 anos, Liliana Martins, agora com 35, e o namorado sofreram um acidente de automóvel, que não foi grave mas o embate deu origem a dores nas costas e na zona de pescoço. Fez fisioterapia durante um mês e tomou uns anti-inflamatórios. As dores passaram, mas ao fim de seis meses regressaram, e desta vez foi-se automedicando. Dois anos depois, quando engravida, deixa de poder tomar os comprimidos ‘milagrosos’ e no final da gravidez as dores começam a incomodá-la dia e noite. Três meses depois de a filha nascer, Liliana voltou “aos meus queridos analgésicos”, só que estes começaram a ser pouco eficazes e o efeito menos duradouro, tornou-se cada vez mais difícil pegar na filha sem dores lancinantes. Foi ao médico, fez exames, massagens, ficava aliviada por momentos, mas logo as dores voltavam. Até que um primo que vivia em Inglaterra lhe falou na osteopatia. O ceticismo inicial deu lugar a uma paciente regular que não dispensa a sua consulta, agora, trimestral, “ao fim de 2-3 sessões sentia-me outra pessoa e sem tomar medicamentos”. O que é isto da osteopatia, afinal?

TERAPIA HOLÍSTICA
Se ainda não ouviu falar em osteopatia, fique a saber que esta consiste no recurso à terapia manual e mobilização para a resolução de problemas relacionados com o esqueleto, músculos, ligamentos e tecidos e que visa reduzir ou eliminar transtornos de mobilidade, reduzindo o desconforto e devolvendo o bem-estar. Esta terapia nasceu nos Estados Unidos há mais de 100 anos, pela mão de um médico americano chamado Andrew Taylor Still, e é, nos dias que correm, uma área das ciências da saúde com provas dadas, tendo uma visão holística (do grego ‘holos’, que significa ‘todo’). “Hoje sabe-se que as peças que compõem o nosso corpo não são independentes, mas sim interdependentes. Isso quer dizer que uma tensão ou uma carga mecânica num membro inferior, por exemplo, pode criar outro tipo de tensões e compressões noutro lado do corpo, e é por isso que o osteopata estuda a globalidade do paciente”, esclarece Bruno Moreira Campos, osteopata na Clínica dos Navegantes em Oeiras. Este conhecimento da anatomia, fisiologia e biomecânica do corpo humano é absolutamente essencial para um osteopata, para poder detetar a origem das dores no paciente, que por vezes não é assim tão evidente. “A origem de uma dor no ombro, por exemplo, pode não ser desse local propriamente dito. O problema ‘original’ pode vir de outra região, próxima ou distante, e isto acontece porque o corpo é um organismo inteiro e vivo. Há fenómenos de dores, as chamadas dores referidas, que se sentem numa zona e que irradiam para outras. Dou-lhe um exemplo: a tal dor no ombro que possamos sentir pode ser associada a uma úlcera péptica ou a um problema qualquer na vesícula, por exemplo. Isto acontece porque os músculos do diafragma que se encontra por cima da vesícula, do estômago e do fígado se contraem quando há qualquer processo inflamatório nesses órgãos. E há uns nervos que ligam o diafragma ao pescoço e este ao braço e ombro. Por isso, como disse, uma dor no ombro pode não ter origem ali mas num problema visceral no estômago, na vesícula, ou no miocárdio.”


O QUE PODE TRATAR
“A grande procura é para tratar as lombalgias, as dores lombares, associadas a estas as ciatalgias, que são as inflamações no nervo ciático, devido a hérnias discais ou a prolapsos do disco. Em segundo lugar, vêm as dores cervicais, e depois, numa percentagem mais pequena, as dores nos ombros, nos pés, joelhos, os canais cárpicos, as cefaleias e muitas outras”, revela-nos Bruno Moreira Campos. Este não é um problema de saúde exclusivo dos portugueses, milhões de pessoas em todo mundo sofrem de dores lombares e cervicais.
“Estas dores são problemas de saúde tão abrangentes que no Reino Unido, por exemplo, estima-se que por causa delas se perdem mais de 116 mil dias de trabalho por ano, levam mais de um milhão de idas aos hospitais e mais de 5 milhões de consultas ao médico de família”, escreve Darren J. Edwards, investigador na Universidade de Swansea, em ‘The Conversation’, acrescentando que “a dor física não é um problema isolado, 35% das pessoas que sofrem de dores lombares e cervicais são diagnosticadas também com depressão, ansiedade e isolamento social”. E o investigador acrescenta que, para além da osteopatia ter resultados muito positivos nos problemas de saúde físicos, há evidência científica de que esta terapia ao tratar ou aliviar a dor tem um impacto positivo na diminuição de estados de ansiedade e stresse.

MULHERES E HOMENS: PROBLEMAS DIFERENTES
Fisiologicamente não somos assim tão diferentes, mas o estilo de vida faz com que mulheres e homens procurem o consultório de um osteopata por razões diferentes. “O sedentarismo é um problema que afeta um número muito elevado de pessoas de ambos os sexos, mas as senhoras têm muitas alterações posturais que podem refletir-se na região lombar e cervical, devido a terem profissões que as obrigam a ficar sentadas. Também ainda são elas que mais tratam das crianças e das tarefas domésticas, por isso aparecem com muitas lesões nos ombros e nos pulsos. Depois, há que lembrar que o sexo feminino é mais propenso, por condições genéticas e hormonais, a problemas como artrites reumatóides, osteopenias, osteoartroses”, adianta Bruno Moreira Campos. Os homens são habitualmente mais ati vos, diz-nos o osteopata Macena de Carvalho, da Clínica Dr. Macena de Carvalho, na Póvoa de Varzim. “Por norma, os homens têm profissões que exigem mais fisicamente, com mais cargas excessivas, em que a musculatura é obrigada a desenvolver-se. Por isso, quando nos procuram, os seus problemas são na barreira do fisiológico, rupturas, coluna lombar, problemas musculares de esforço, ou problemas que se arrastam por terem feito um jogo de futebol com amigos e que não passam.”


BEBÉS, CRIANÇAS E JOVENS
Todos podem beneficiar da osteopatia, e a boa notícia é que há a osteopatia pediátrica, a qual muitos pais procuram para encontrar solução para as cólicas, os problemas de sucção e do sono dos seus filhos recém-nascidos.
“Os bebés passam 9 meses numa posição fetal, muito fechados em si, e de um dia para o outro são retirados do lugar de maior prazer de permanência para a cama ou alcofinha, onde são colocados completamente estendidos e hirtos. São posições muito diferentes e que podem trazer algum incómodo, apesar de sermos muito elásticos.Há uma grande percentagem de episódios de cólicas causados por essa diferença de posicionamento.
Além disso, as cólicas e a flatulência podem ter a ver com uma sucção deficiente por não haver maturação suficiente da musculatura de dentro da boca, o que vai fazer com que tenham dificuldade em premir o mamilo com vigor”, nota o osteopata Macena de Carvalho. Se a parte do palato e do intestino derem problemas ao bebé, é obvio que o sono é comprometido, e só se resolvendo é que ele fica bem e pode ter um sono descansado. Outro dos problemas em que a osteopatia tem um impacto positivo é nas otites, não na cura, claro, mas no alívio (funcionando também em adultos).
“As crianças têm um tubo de Eustáquio muito próximo do ouvido, o que faz com que, em caso de gripes e constipações ou inflamações na orofaringe ou na boca, possa haver uma progressão para otites. O que o osteopata pode fazer é drenar estes edemas e dar-lhes alívio, o que não é curar, atenção. Há também outro problema onde podemos ajudar, que é nos torcicolos congénitos, isto é, quando os bebés nascem com a cabeça inclinada, e nas alterações do crânio, quando são utilizados forceps ou ventosas”, remata Bruno Moreira Campos.
Em relação a crianças mais velhas e jovens, a atenção dos pais deve ir no sentido de ver se estão a crescer com a postura certa, se a coluna está normal, sem demasiada curvatura para a frente ou para os lados. “Chegam-me miúdos aqui ao consultório porque os pais começam a notar que quando eles correm tropeçam muito, ou são muito descoordenados, ou põem os joelhos para dentro… Também acontece repararem, quando estão em tronco nu, que têm uma omoplata mais para cima que a outra.
Nesses casos, são necessários exercícios específicos ou, em última análise, cirurgia, caso não haja outra opção”, diz Macena de Carvalho.

MÃOS À OBRA
Um dos aspetos mais interessantes na osteopatia é que não recorre a medicamentos para ter um efeito terapêutico, mas sim à manipulação e mobilização de tecidos com as mãos. “O nosso corpo é muito mecânico e as células funcionam de forma mecânica. Se as membranas das células tiverem algumas restrições, mais fibroses ou colagénio, o papel do osteopata é pôr essas estruturas a fluir melhor. Como é que chegamos às células? Os músculos, por exemplo, não são mais que células, e milhões de células formam um nervo, tudo o que seja uma mobilização ou tratamento manual interfere a nível celular. Se tiver uma lesão no pé e ficar com os ligamentos mais fibróticos, os tecidos precisam de movimento para fluírem melhor e ficarem mais viscoelásticos, e é isso que o osteopata faz através da estimulação manual”, elucida Bruno Moreira Campos.
Um dos problemas atuais é que a forma como vivemos está a obrigar-nos a contrariar aquilo que é a nossa natureza: o movimento. O corpo humano não foi feito para ficar tanto tempo na mesma posição ou fazer tantos movimentos repetitivos, quer atividade, por isso, se tiver um trabalho sedentário e quiser evitar problemas, ou não quer agravá-los, aqui fica a sugestão de quem sabe:
. Não fique sentada durante muito tempo, levante-se de hora a hora;
. Faça movimentos opostos àqueles que são a sua postura normal de trabalho;
. Certifique-se que, quando sentada na cadeira, a bacia deve ficar elevada a cerca de 20º-30º em relação aos joelhos;
. Faça movimentos que contrariem os movimentos repetitivos que executa horas seguidas;
. E pratique exercício físico, quer seja correr, caminhadas, natação, ginásio.


O QUE NÃO RESOLVE
A osteopatia não é panaceia para todos os problemas de saúde, há vários para os quais não tem sucesso, como as doenças autoimunes, a artrite reumatóide ou lupus, “embora possamos diminuir a inflamação e melhorar a sintomatologia e dar algum conforto ou alívio, mas nunca é no sentido da cura”, alerta Bruno Moreira Campos.
Os pacientes oncológicos com metástases, quem tem miocardites, problemas de rins ou osteoporoses avançadas têm muitas restrições.

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