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Os números são alarmantes: o AVC é a principal causa de morte em Portugal, a cada três horas três portugueses são vítimas de AVC. No entanto nem tudo são más notícias. “As taxas ajustadas para a mortalidade devido a AVC têm finalmente descido nos últimos anos em Portugal. É seguramente o resultado do esforço de muitas entidades nacionais na prevenção primária (ou seja, tentando controlar os fatores de risco que causam AVC), na organização nacional do combate ao AVC na fase aguda e também da nova geração recente de tratamentos, quer para a fase aguda quer para a sua prevenção”, explica João Sargento Freitas, Neurologista da Unidade de AVC do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC. No entanto, isso não significa que o número de casos esteja a diminuir. “A população continua a envelhecer, logo, existirão muitos AVC. Dito de outra forma, o risco de mortalidade associada a AVC para cada português está a diminuir, mas o envelhecimento populacional do nosso país manterá números elevados desta doença.”

João Sargento Freitas fala-nos sobre tipos, prevenção e sintomas do AVC.

Isquémico vs hemorrágico

“Dentro do AVC de causa isquémica, podem diferenciar-se os eventos trombóticos e os embólicos. Um evento trombótico ocorre quando um trombo (coágulo) se forma no interior de uma das artérias cerebrais, bloqueando o fluxo de sangue. Os AVC trombóticos podem afetar artérias de grande ou pequeno calibre no cérebro. Num acidente vascular cerebral embólico, um coágulo de sangue migra através da corrente sanguínea até ao cérebro, bloqueando uma artéria cerebral. Em muitos casos, esse êmbolo tem origem no coração.
O AVC hemorrágico é causado por uma hemorragia, ou seja, pelo ‘rompimento’ de um vaso sanguíneo dentro do cérebro (hemorragia intracraniana) ou, mais raramente, entre o cérebro e o crânio (hemorragia subaracnoideia). Neste tipo de eventos, as lesões podem surgir como resultado da irrigação insuficiente das células cerebrais, mas também da compressão das estruturas nervosas adjacentes causada pelo derrame.”

Fatores de risco e prevenção

“São diversos, e geralmente divididos em modificáveis e não modificáveis. Naturalmente sabemos que a idade avançada ou a existência de casos familiares aumentam o risco de AVC, mas esses fatores não os podemos alterar. Contudo, a estatística diz que até 90% do risco pode ser prevenido se todos tivermos alguns cuidados com a nossa saúde. Destacaria naturalmente o papel da hipertensão como grande fator de risco. Não chega ter a tensão ‘mais ou menos bem’, é preciso vigiar e quando necessário medicar. Referiria também a diabetes mellitus, a dislipidémia (colesterol elevado), o tabagismo, o excesso de peso e a fibrilhação auricular como principais condições a abordar para evitar um AVC. Assim, a prevenção passa por vigiar e controlar os fatores de risco, por uma dieta equilibrada e pela prática saudável de exercício físico, evitando o sedentarismo. Com estes cuidados básicos de vida saudável e uma visita médica regular para vigilância, conseguiremos uma redução muito marcada de risco.”

Episódios mais graves em mulheres

“É um facto que, ao longo da vida, as mulheres têm mais AVCs e mais graves. No entanto, as taxas ajustadas de AVC indicam maior risco para homens; este aparente paradoxo estará provavelmente relacionado com a maior sobrevida das mulheres. Deve-se contudo referir que existem riscos específicos ao sexo feminino, como os cuidados com terapêuticas hormonais ou a maior prevalência entre mulheres de arritmias, como a fibrilhação auricular.”

Fator idade

“O risco de AVC aumenta sempre com a idade. Quanto mais idoso maior será o risco. Não obstante, o AVC pode ocorrer em todas a idades: desde recém-nascidos até ao grande idoso (>80), tendo inerentemente um enorme impacto social, especialmente em idades mais jovens. Felizmente, nas crianças são muito menos frequentes e a recuperação também é mais eficaz. As taxas de recuperação variam muito, dependendo do tipo de AVC e da precocidade da abordagem hospitalar e início de medicação. Nunca é demais alertar: sempre que houver suspeita de AVC dever-se-á telefonar para 112 e ser encaminhado de forma urgente para o hospital mais próximo com capacidade de orientar AVCs agudos!”

O que fazer em caso de AVC

“A resposta é clara e simples: ligar 112! Chamo a atenção pois alguém pode ter a aparente boa intenção de levar a um hospital num carro particular ou telefonar a alguém conhecido… Não, deve-se sempre ligar para 112. O tratamento do AVC na fase aguda tem muitas especificidades e nem todos os hospitais o fazem, mas o nosso país tem uma rede bem instalada para a orientação de doentes urgentes, que está centralizada no 112. A ambulância levará o doente ao hospital mais próximo que pode fazer tratamento e avisa logo o médico de serviço para que tudo seja feito o mais rapidamente possível.”

Inovação no tratamento

“A principal inovação foi traduzida pela autêntica revolução no tratamento de fase aguda do AVC isquémico com o desenvolvimento do tratamento endovascular (ou cateterismo cerebral). Trata-se da utilização de dispositivos (cateteres) que navegam dentro do nosso corpo, nas artérias, podendo ir até à artéria doente e desobstruí-la, tratando diretamente a causa do AVC. Destacaria também os novos anticoagulantes orais, uma classe de medicamentos muito eficaz para prevenir AVC em casos específicos.”

Impacto na família

“Se uma pessoa chegar rápido ao hospital poder-se-ão utilizar tratamentos que em muitos casos deixam os doentes sem qualquer limitação, de volta à vida ativa. Existem, no entanto, diversos casos em que se verifica sobrevivência com sequelas muitas vezes incapacitantes para andar ou comunicar. Efetivamente, existe um reconhecimento generalizado de que o Sistema Nacional de Saúde não consegue ainda assegurar para todos estes casos estruturas de apoio que assegurem simultaneamente todos os cuidados necessários, mas também apoio às famílias. A família é e será sempre nuclear para a fase de recuperação, devendo ser integrada nos planos, evitando as situações de relativo abandono dos frágeis.”

Probabilidades de reincidência

“Depois de um primeiro AVC o doente está em risco elevado de repetição. No entanto, com controlo médico regular, cumprimento de medicação e correção dos fatores de risco, esse risco pode, em muitos casos, tornar-se muito baixo ou até residual.”

Sintomas

Todos devemos estar atentos aos 3 Fs da campanha da Sociedade Portuguesa do AVC.

Falar – (dificuldade em falar)
Face – (face assimétrica/boca ao lado)
Força (falta de força num braço)

AVC vs AIT

“A diferença entre Acidente Vascular Cerebral e Ataque Isquémico Transitório cada vez tem menos importância na prática clínica. É exatamente a mesma doença, mas no AIT o doente tem a ‘sorte’ de os sintomas passarem sem necessitar de tratamento em menos de 24 horas. Contudo, a necessidade de observação médica e de orientação urgente é a mesma, pois a seguir a um AIT um doente tem risco elevado de vir a ter um AVC.”

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