Falámos com Patrícia Boura, presidente executiva da Fundação do Gil, e Filipa Bello, head of Brand & Creative da Zippy, sobre a Clínica do Gil, um projeto dedicado à saúde mental infantil que irá abrir portas até ao final de 2023 no jardim da Fundação do Gil, em Lisboa. O novo projeto conta, desde o primeiro momento, com o apoio da Zippy, que, através de uma campanha solidária, angariou 150 mil euros para a sua construção.
O que é a Clínica do Gil e como surgiu o projeto?
Patrícia Boura (PB): A Clínica do Gil surge de uma necessidade especifica de dar resposta às crianças acolhidas pela Casa do Gil. Há uns anos que vínhamos identificando a necessidade das crianças acolhidas terem apoio psicológico, para lidar com os traumas a que tinham sido sujeitos. Fomos acionando parceiros, ao longo dos anos, para prestar este apoio às nossas crianças. Mas, na realidade, as necessidades não eram só nas áreas da psicologia e da pedopsiquiatria mas também de outras terapias como terapia da fala, psicomotricidade, psicopedagogia, entre outras. Foi sendo cada vez mais difícil encontrar parcerias recorrentes para dar verdadeiro apoio às nossas crianças. Nesse sentido, idealizámos a construção de um espaço onde pudéssemos ter todas estas valências, embora sem internalizar custos.
Percebemos, pelos relatórios da Organização Mundial de Saúde, que 1 em cada 5 crianças tinha necessidades de acompanhamento psicológico. Que 50% das perturbações psicológicas vem da infância e adolescência e, acima de tudo, percebemos que não era uma necessidade exclusiva das crianças em acolhimento.
Decidimos então desenhar uma clínica cujo modelo de negócio fosse autossustentável, portanto, criámos uma solução que responde a uma necessidade efectiva do mercado e que responde também a uma carência das crianças em acolhimento e das famílias que não podem pagar estas terapias. Assim teremos consultas a valores de mercado e consultas a valores sociais.
Qual é o seu papel na democratização do acesso à saúde mental?
PB: Esperamos que seja grande. Esperamos poder acompanhar muitas crianças que sabemos que, de outra forma, não teriam acesso a este acompanhamento. No SNS não há resposta, muito menos em tempo útil, e no sector privado os custos não são compatíveis com todas as carteiras. As famílias com maiores dificuldades financeiras, ficam sem resposta.
O que são preços sociais?
PB: São preços que praticamos para quem não consegue pagar os preços de mercado. Para outras casas de acolhimento e para famílias que não conseguem pagar preços de mercado. Para isso estamos a constituir um Fundo de Apoio Social, que permita financiar o pagamento aos terapeutas, referentes às consultas sociais. Todas as empresas são bem-vindas a participar neste fundo e a apoiar as crianças que dele necessitam.
É apenas dirigida às crianças ou reconhece igualmente a saúde mental dos pais e cuidadores como essencial ao bem-estar infantil?
PB: Dirigida a toda a família. Os cuidadores são parte fundamental da saúde mental das crianças pelo que nunca poderíamos excluí-los. Vamos ter, também, workshops e conteúdos específicos para pais e cuidadores. É uma resposta centrada na criança e em toda a sua envolvência. Pais, cuidadores, professores, escola, atividades extracurriculares, tudo.
Como surgiu esta parceria com a Zippy e em que consiste?
PB: A parceria com a Zippy surgiu logo no início, quando ainda tínhamos o projecto da gaveta, por via da COVID, que nos fez desacelerar os sonhos e nos obrigou a focar na sobrevivência. Foram 2 anos verdadeiramente difíceis e desafiadores. Numa reunião enquanto tentava desafiar a Zippy a apoiar um projecto já existente da Fundação, surgiu o tema da Clínica, que eu expliquei que ia permanecer na gaveta por mais algum tempo por falta de verbas para a sua construção. Foi aí que veio o desafio de o tirar da gaveta e de se desenhar uma campanha que permitisse angariar verbas para a construção desta clínica. E assim foi, tirámos o projecto da gaveta e colocamo-lo no mundo. Tivemos depois vários desafios acrescidos, com uma guerra na Europa e agora outra, com taxas de inflação e taxas de juros históricas, enfim… os desafios são mais que muitos e não acabam, mas é bom saber que não estamos sozinhos e que temos parceiros com quem caminhamos lado a lado. Acima de tudo, que acreditam em nós.
Filipa Bello (FB): A paixão da Patrícia, a preocupação que como marca temos com a saúde mental infantil e a convicção de que este seria um projeto diferenciador que efetivamente poderia mudar a vida das crianças que por lá passassem, foram alguns dos motivos que nos levaram a aceitar o desafio. Neste sentido, concebemos uma campanha com um único objetivo: angariar fundos para construir a Clínica do Gil. Assim, nasceu a Coleção Imaginária, uma coleção que não existia fisicamente, mas que ajudava a tornar real uma causa nobre. Contribuir para esta iniciativa era simples: bastava comprar peças que não existiam fisicamente, mas que representavam um contributo muito real para ajudar a Clínica do Gil a tornar-se realidade. A nossa relação com a Clínica do Gil continua até hoje, e estamos constantemente a procurar novas formas de colaborar e apoiar esta causa que nos é tão próxima. Estamos ansiosos para partilhar novidades muito em breve sobre a nossa parceria com a Clínica, à medida que continuamos a contribuir no que for possível para esta causa tão significativa.
Como é que a marca contribui para a promoção da saúde mental infantil?
FB: A nossa abordagem envolve a promoção de temas que contribuem para o crescimento e autoconhecimento das crianças, que estão intrinsecamente ligados à saúde mental das crianças. Reconhecemos que o desenvolvimento saudável das crianças não está limitado apenas à sua saúde física, mas muito também à sua saúde mental e emocional. Assim, incorporamos esses temas nas nossas iniciativas, campanhas e produtos.
Através da nossa abordagem, encorajamos as crianças a desenvolverem autonomia, a explorarem a sua identidade pessoal e a compreenderem o equilíbrio entre a individualidade e o sentimento de pertença, temas que temos vindo a abordar ao longo do ano. Ao fazê-lo, estamos a promover uma mentalidade positiva e saudável, que se traduz em crianças mais confiantes, resilientes e capazes de lidar com desafios emocionais.
Que projetos tem a Zippy na área de responsabilidade social?
FB: Como parte do Grupo Sonae, a Zippy tem alguns projetos na área da responsabilidade social, dos quais nos orgulhamos. Um exemplo destes projetos envolve hortas comunitárias, onde cada insígnia, incluindo a Zippy, tem a sua horta e cultiva os seus próprios alimentos. A particularidade dessas hortas é que todos os alimentos cultivados são integralmente revertidos para instituições de solidariedade.