Vídeo: João Pedro Gomes
A moda é muito associada a um mercado que se faz pela necessidade do consumo atual, alta rotatividade, baixa duração de produtos e constantes mudanças de tendências. Porém, num cenário atual preocupante em que o planeta lida com as diversas consequências das alterações climáticas, existem iniciativas que refletem o shift de mentalidade na construção do amanhã. É o caso da OBSIDIAN.
Cláudia Vieira, Gabriela Pinheiro e Raquel Vasconcelos apresentam esta quinta-feira, 13 de outubro, um projeto de autor que incentiva ao slow fashion. Nesse sentido, a coleção cápsula tem apenas nove peças versáteis, cheias de personalidade e com um toque clássico, graças à escolha do intemporal padrão xadrez para algumas delas. Ao combinarem entre si (e com futuros lançamentos), mostram que não precisamos assim de tanta roupa para estarmos no nosso melhor e sermos mais amigos do ambiente.
“Temos de perceber que a moda é cíclica e o que é tendência hoje, pode deixar de o ser daqui a dois ou três anos e voltar dentro de 10 ou 15. Se tivermos essa consciência, vamos saber cuidar das nossas peças e dar-lhes várias vidas”, diz-nos Cláudia Vieira. “A OBSIDIAN é também um ‘wake up call’ para os consumidores terem contacto com essa mensagem”.
A estrela da SIC contribui com o know-how de alguém que, profissionalmente, tem exigências na forma como se apresenta em determinadas ocasiões, tendo ganhando consciência do quanto um determinado estilo ou uma forma de vestir muda o estado de espírito e potencia (ou não) as características que temos. Já a stylist traz a expertise de quem conhece bem as necessidades das mulheres, pelas várias clientes que tem, bem como a importância de diversificar na hora de vestir e conjugar artigos de moda. Raquel, a terceira sócia e diretora de marketing com uma vasta experiência no ramo, representa o lado da gestão de negócio, desde o posicionamento da marca à logística e questões burocráticas.
O resultado é algo de que as cofundadoras muito se orgulham, conforme Cláudia Vieira e Gabriela Pinheiro contaram à ACTIVA.
Qual é a origem do nome OBSIDIAN?
Gabriela Pinheiro: Passámos algum tempo a pensar num nome que pudesse refletir a marca e a nossa consumidora. Queríamos que fosse algo com energia, vindo da natureza. A obsidiana é uma pedra de origem vulcânica que, quando arrefece, torna-se num vidro brilhante e delicado. Ou seja, espelha as várias facetas da mulher, que pode ser tão intensa quanto frágil, e ajuda também no autoconhecimento e na meditação. Encontrámos esse nome e foi um casamento perfeito.
O que vos inspirou a criarem uma marca de roupa eco-consciente?
Gabriela Pinheiro: A questão da sustentabilidade esteve em cima da mesa desde o primeiro minuto em que começámos a falar da marca. Atualmente, penso que não faz sentido ser de outra forma. Nós quisemos que isso estivesse presente em todas as peças, mesmo que, para tal, tivéssemos de esperar um pouco mais para a coleção ficar pronta.
Não somos 100% sustentáveis, porque é impossível sê-lo, mas tentamos ser o mais possível dentro do que encontramos no mercado nacional. Aliás, o facto de sermos uma marca portuguesa, produzida e fabricada no País, já faz com que exista menos poluição no transporte dos tecidos, por exemplo. Fazemos questão de usar matérias-primas naturais, ou recicladas, e não abdicamos de transmitir um comportamento de compra consciente através da nossa comunicação, postura e presença nas redes sociais.
De que materiais são feitas as roupas?
Gabriela Pinheiro: As roupas são feitas principalmente de poliéster reciclado, produzido a partir de resíduos de poliéster e de garrafas de água de plástico que acabam em aterros. Também utilizamos algodão Supima nas nossas T-shirts, que representa menos de 1% de todo o algodão cultivado no mundo. Ainda relativamente a este último, as fibras mais longas e espessas permitem obter um tecido mais resistente às lavagens, que dura mais tempo no guarda-roupa e mantém-se impecável por mais tempo, rendendo várias utilizações.
Que outras práticas sustentáveis foram implementadas neste projeto?
Cláudia Vieira: Além dos materiais e da confeção, optámos por produzir em Portugal, fabricando uma quantidade pequena de peças. Ou seja, limitar a nossa coleção a peças realmente necessárias num guarda-roupa, para não haver stocks e os respetivos excessos.
Depois, cada peça vem acompanhada de uma espécie de identidade; uma identificação de onde foi feita, como foi produzida e qual o material utilizado, para a consumidora ter consciência do que está a vestir e poder sentir que consegue ser um bocadinho mais amiga do ambiente. Também vamos tentar fazer vídeos que demonstrem isso mesmo: como se pode cuidar da peça, de modo a que ela seja mais duradoura e passe de geração em geração, podendo ser conjugada com outros artigos dentro do armário.
O estilo e a sustentabilidade andam cada vez mais de mãos dadas?
Cláudia Vieira: O mundo, a forma de pensar, o estilo, a atitude… tudo tem de andar de mãos dadas com a sustentabilidade. No entanto, penso que as marcas que se assumem como sustentáveis são muito neutras. Nós tentámos desviar-nos disso e arriscar com uma coleção muito colorida, audaz, com um padrão forte e intemporal. Trabalhámos sempre com essa premissa do estilo aliado a uma forma de pensar sustentável e consciente.
Em Portugal, a nossa cultura incentiva o consumo consciente?
Cláudia Vieira: De uma forma geral, penso que o mundo está a acordar para um consumo consciente. As empresas que começam a surgir têm cada vez mais essa cultura e apostam nesse incentivo, porém ainda estamos a uma distância gigante da consciência que é necessária tomar e de um cenário que seria considerado essencial.
Como é que se mantêm criativas durante este período de inquietação global?
Cláudia Vieira: A vontade de fundarmos uma marca era um sonho antigo e, quando ela começou a ser criada, desenvolvida e produzida, ainda não estávamos no contexto atual. Contudo, ainda acreditamos no mundo, nas oportunidades, nas pessoas, nas necessidades, nas tentativas de mudar mentalidades e, por isso, embora o mundo esteja nesta agitação toda, não se pode parar. Tudo isto dá que pensar. Felizmente, a criatividade existe e tem de ser explorada; temos de nos moldar à realidade e às necessidades que temos.
Numa colaboração criativa, a cooperação é sempre um processo interessante. Como foi trabalharem uma com a outra enquanto cofundadoras de uma marca?
Cláudia Vieira: Foi um processo lento e desejado, que partiu muito da Gabi, como alguém que gostava de ter uma marca de roupa. Eu fui um bocadinho atrás do sonho dela, mas também tinha uma vontade paralela à minha atividade profissional, portanto as ideias foram surgindo. Falámos e percebemos o que gostaríamos de criar. Como diz a Gabi (e bem), foram as roupas que nos uniram e fazia todo o sentido. A nível do processo criativo, somos três, e as três deram inputs, sendo que as coisas foram surgindo e acontecendo. Temos estado sempre numa sintonia muito boa, que permitiu que as coisas ganhassem espaço e terreno.
Quem é a mulher que veste OBSIDIAN?
Gabriela Pinheiro: Qualquer pessoa pode usar OBSIDIAN. Não definimos um público-alvo restrito, porque, no fundo, acreditamos na diversidade. Acreditamos que vários corpos e personalidades podem vestir OBSIDIAN, desde que se preocupem com o ambiente, queiram saber de onde vem a roupa que usam e não abdiquem do conforto. Também são pessoas que querem alguma exclusividade, porque o número de peças que produzimos é reduzido e limitado, e não vamos ter reposições.
Que futuro vêm para a marca?
Cláudia Vieira: A OBSIDIAN está a nascer agora e, acima de tudo, o que importa é a forma como é recebida pelo público, pelas potenciais clientes e pelas pessoas em geral. Vemos a OBSIDIAN a dar passos de bebé, a crescer muito devagarinho e a seu tempo, ganhando espaço, respeito e admiração. Vemos a marca a surpreender de coleção cápsula para coleção cápsula, pela sua diversidade e versatilidade. Acreditamos que o futuro poderá ser risonho.