43% das mulheres que ocupam cargos de liderança estão em burn out, comparando com 31% dos homens nas mesmas funções. Estes números dizem muito sobre o trabalho invisível que ainda é feito pelas mulheres, porque, culturalmente, é sobre elas que esse trabalho recai. Seja porque sentem que têm que trabalhar em dobro para provar o merecimento de estarem onde estão – porque nascer mulher em Portugal ainda significa que não partimos todos do mesmo lugar -, seja por todo o trabalho que existe e que vai além da profissão – falamos das tarefas domésticas, das responsabilidades enquanto mãe (quando o são) e de toda a logística do dia-a-dia. O peso que a maioria das mulheres sente, diariamente, por tudo o que tem a seu cargo é real, mas a liberdade que cada uma tem de escolher o que quer fazer com esse peso, também.
Por isso é que a velha discussão sobre se as mulheres podem ter tudo – o lado familiar e pessoal e uma carreira de sucesso – já não devia ser a tónica nesta temática. Porque a verdadeira questão passa sobre o que tem ainda que mudar para que as coisas sejam mais equilibradas entre homens e mulheres. Porque é esse o caminho: o do equilíbrio. E nesse equilíbrio tanto cabe uma mulher que, ao ser mãe, faz escolhas para poder passar os primeiros anos dos filhos de forma mais presente, como a mulher que se pretende focar na sua carreira. Como também é válido optar por outro caminho, depois de uma tomada de decisão que achávamos ser a mais acertada. Porque não temos todos que seguir o mesmo caminho, nem dar os mesmos passos, até porque a noção de sucesso e de felicidade varia de pessoa para pessoa.
Jacinda Arder veio-nos lembrar isso mesmo. E, sobre este tema, partilhamos as palavras que Magda Gomes Dias, especialista em Parentalidade Positiva, escreveu: “Tenho ainda mais respeito e admiração por Jacinda Ardern. Que belo exemplo de respeito por si e de responsabilidade pelo cargo que ocupa. Quando todo um mundo diz para nos esforçarmos, darmos o litro (ou a vida), vem Jacinda mostrar-nos que essa lei não está escrita em lado nenhum e que podemos decidir. É preciso muita coragem, saber quais são as nossas prioridades mas, acima de tudo, compreendermos que quando não estamos bem, não podemos fazer as coisas bem, durante muito tempo”.