Apesar do peso histórico e tradicional da cerimónia de coroação, que tem um cariz medieval na sua génese, e que foi cumprido em larga escala, o rei Carlos III quis marcar uma posição de diversidade, inclusão e equidade ao atribuir, pela primeira vez, papéis muito específicos a mulheres. Nunca antes tal tinha acontecido, o que foi uma demonstração clara da forma como Carlos III se quis afirmar neste seu papel de regente: mais moderno, mais atento e assumindo as mudanças necessárias para uma sociedade mais justa e igualitária.
E isso foi palpável desde o início. Na verdade, o cortejo que iniciou a entrada dos reis na Abadia de Westminster, em Londres, deixou antever o papel importante de muitas mulheres que foram convidadas pelo próprio rei Carlos III para terem um lugar histórico nesta cerimónia. A começar por Penny Mordaunt, deputada e líder da Câmara dos Comuns, que foi uma das presenças incontornáveis deste dia. A representar o papel de Presidente do Conselho, algo até aqui feito exclusivamente por homens, sendo um papel antigo e muito tradicional, Penny foi a responsável por carregar uma das insígnias da coroação. A Espada de Estado, do século XVII, representa a autoridade do rei e, depois de benzida pelo arcebispo da Cantuária, foi entregou ao soberano.
Para este momento que ficará para sempre na história, a líder da Câmara dos Comuns escolheu um visual altamente elegante, composto por um vestido feito propositadamente para esta ocasião, pela marca londrina Safiyaa. O tom verde profundo, descrito como Poseidon, deus grego do mar, que é uma homenagem ao eleitorado de Portsmouth que representa no parlamento inglês, chamou a atenção sobretudo porque realçava na perfeição as folhas de feto douradas que foram bordadas na zona dos ombros e também do toucado.
Sendo este um dia de estreias, foi também a primeira vez que uma mulher do clero participou ativamente na cerimónia religiosa dirigida pelo arcebispo da Cantuária. Falamos da Reverendo Rose Hudson-Wilkin, nascida e criada na Jamaica, e que fez história ainda antes desta cerimónia por ser a primeira mulher negra a tornar-se Bispo na igreja inglesa, em 2019. No sábado, o rei atribuiu-lhe a honra de carregar o ceptro da rainha consorte com pomba.
Outro nome incontornável é o de Valerie Ann Amos, a primeira mulher de descendência africana a servir num gabinete político inglês e a ser líder da Câmara dos Lordes. No ano passado foi investida na Ordem da Jarreteira e, no sábado, o rei Carlos III confiou-lhe um papel na primeira fase da cerimónia da coroação. Ao lado do arcebispo da Cantuária, Valerie participou no ato de reconhecimento do rei, segurando o ceptro do soberano com pomba, uma das joias da coroa britânica que simboliza o papel espiritual do rei. Criado para a coroação de Carlos II, em 1661, este é um ceptro de ouro decorado com uma pomba e uma cruz, para simbolizar o Espírito Santo.
Também a baronesa Floella Benjamin, nascida na ilha de Trinidad, mas um nome muito querido para uma geração inteira de ingleses, teve um papel histórico nesta cerimónia. Foi ela a responsável por carregar o ceptro do soberano pelo corredor da Abadia, ao lado da coroa. No sei Twitter, Floella escreveu que esta joia representa “paz, misericórdia, igualdade e amor”, que é tudo aquilo em que acredita.