Os Globos de Ouro foram obrigados a mudar. Isto após serem ofuscados por sucessivos escândalos nos últimos anos, nomeadamente de falta de diversidade e lapsos éticos por parte da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla inglesa), o antigo corpo votante por detrás da cerimónia.
Em 2011, Michael Russell, relações-públicas de longa data da HFPA, interpôs um processo no qual alegava que os membros da organização aceitaram dinheiro, férias, presentes e várias regalias “fornecidas por estúdios e produtores em troca de apoio ou votos na nomeação, ou premiação de um determinado filme”.
Sete anos depois, o ator Brendan Fraser juntou-se ao movimento #MeToo, alegando que tinha sido assediado por Philip Berk, o antigo presidente da HFPA. O incidente terá acontecido no Hotel Beverly Hills, durante o verão de 2003. Berk admitiu ter apalpado a estrela de “A Múmia” em jeito de “brincadeira”, mas negou as alegações de assédio, referindo-se à versão de Fraser como uma “fabricação total” dos factos.
Mais recentemente, em 2021, um artigo do “Los Angele Times” expôs que nenhum dos 87 membros da HFPA era negro. A repercussão negativa foi tão grande que Tina Fey e Amy Poehler, que apresentaram a gala nesse ano pela quarta vez, criticaram-na abertamente em palco.
“Todos sabemos que as entregas de prémios são parvas. A questão é que, mesmo em coisas estúpidas, a inclusão é importante e não há membros negros na Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood… Têm de mudar isso”, disse Fey em direto.
O caso “Emily in Paris”
Seguiram-se mais relatos de corrupção, sendo que o jornal publicou outro artigo no qual alegava que mais de 30 membros da HFPA visitaram o plateau de “Emily in Paris” e receberam uma estadia de duas noites no hotel de cinco estrelas Peninsula Paris.
Terá sido assim que a produção da Netflix conseguiu uma nomeação para Melhor Série de Televisão — Musical ou Comédia e a protagonista Lily Collins outra, para Melhor Atriz numa Série de Televisão — Musical ou Comédia.
Num ano em que a crítica aclamava o poderoso “I May Destroy You”, de Michaela Coel, que não recebeu nenhuma indicação, o caso acabou por dar razão a quem afirmava que as produções centradas em pessoas brancas recebiam tratamento especial em detrimento de obras de arte criadas por pessoas negras.
Por fim, mas não menos importante, em abril de 2021, Philip Berk foi expulso pela HFPA por enviar um e-mail ao corpo votante no qual se referia ao movimento Black Lives Matter como um “movimento de ódio racista”.
Ponto de viragem?
Os Globos de ouro de 2022 foram um evento privado, sem passadeira vermelha, convidados ilustres ou transmissão televisiva/em streaming. No ano seguinte, foram para o ar pelas mãos da NBC e em 2024 encontraram uma nova casa no canal CBS. Dick Clark, o novo dono, parece estar determinado a restaurar a reputação da cerimónia.
Agora, é possível ver a lista completa de eleitores no site dos Globos de Ouro. Segundo a organização, 300 jornalistas provenientes de todo o mundo compõem o novo corpo votante. “Quarenta e sete por cento são mulheres, com 60% a identificar-se como racial e etnicamente diversos: 26,3% latinos, 13,3% asiáticos, 11% negros e 9% do Médio Oriente”.
A edição deste ano contou com a presença de grandes nomes de Hollywood como, por exemplo, Meryl Streep, Oprah Winfrey, Taylor Swift e Bruce Springsteen. O filme “Oppenheimer” e a série de televisão “Succesion” foram os grandes vencedores da noite, enquanto “Barbie” ficou aquém das expectativas.