Foram nove os meses em que viu o seu corpo ganhar novas formas e contornos, todas as mães desejam desesperadamente perder o peso adquirido durante a gravidez.
Mas o desejo não se sobrepõe à natureza e o corpo necessita de um período de tempo para recuperar e voltar ao que era. Nem sempre é fácil, e é preciso ter em mente que nem sempre se consegue – o que é motivo de frustração para muitas mães.
Ver as ancas, o abdómen, as pernas e os seios, aumentarem quase para o dobro é por vezes difícil de aceitar, principalmente quando somos bombardeadas diariamente com imagens de famosas que acabaram de ser mães e cuja forma física já foi rapidamente recuperada. Na vida real as coisas não são assim tão fáceis. É necessário dedicação, empenho e acima de tudo, perseverança para não desanimar nesta cruzada. Se seguir alguns conselhos essenciais conseguirá dar os primeiros passos para atingir o tão desejado objectivo. O principal é não cruzar os braços.
Como lidar com a rotina
Com a chegada do bebé a vida no lar e da própria mãe desorganiza-se. Quando se trata do primeiro filho é ainda pior. Existem muitas dúvidas, incertezas sobre o que se deve ou não fazer, há rotinas diárias para cumprir e às quais terá de se habituar, e geralmente a última coisa em que pensamos é em nós próprias. É normal que custe ver-se ao espelho e achar que já teve melhores dias, mas também é normal que não faça disso prioridade na sua vida nesse momento. Como refere a fisioterapeuta Teresa Garcia, do Centro Clínico Santa Teresa de Jesus em Oeiras, “Há um grande choque hormonal com o nascimento do bebé e é normal as mães sentirem-se um bocadinho perdidas. Mesmo quando já tiveram anteriormente um bebé, há uma grande desorganização e ficam muitas vezes sem saber o que fazer, o que na literatura médica é descrito como o baby blues.
É natural que sinta um forte desejo de começar a fazer algo que a ajude a eliminar a nova forma entretanto adquirida, mas com a chegada de um bebé, o tempo que tem para si mesma é quase nulo. Convém ter em mente que, consoante o tipo de parto por que passou – normal ou cesariana -, há um determinado período de descanso a respeitar: três ou seis semanas, respectivamente. E isto aplica-se não só ao regresso de uma actividade física regular, como à iniciação da recuperação pós-parto.
O corpo a seguir à gravidez
Útero – Imediatamente a seguir ao parto há um processo de inversão do útero para retomar à sua antiga forma, mas esse efeito não é imediato. Afinal, trata-se do órgão que mais sofreu com a gravidez, tendo aumentado de volume cerca de 30 a 40 vezes, quando o seu tamanho normal é mais parecido com o de uma pêra. Como diminui cerca de um centímetro por dia, demorará, em média, três e
Abdómen – Aqui o problema mais comum são as inestéticas estrias, e é por isso essencial atacá-las durante a gravidez. O aumento de volume e de peso, leva a pele a esticar, sujeitando-se a uma pressão maior do que aquilo que lhe é habitual. Como não consegue aguentar, chega a um ponto em que estala e ‘parte’, criando os inestéticos sulcos visíveis a olho nu. O uso de cremes específicos é a medida mais utilizada para as combater a perda de elastina da pele, mas nem sempre com grande sucesso.
Seios – È outra parte do corpo particularmente castigada com a gravidez. Aumentam de volume e têm tendência a ganhar estrias. No pós-parto ficam geralmente partidos e flácidos. Os elevados níveis hormonais que recebem durante a gravidez provocam um escurecimento do mamilo, que a partir do terceiro mês após o parto tende a atenuar, mas cuja cor nunca mais volta à original.
Pernas – O risco de aparecimento de varizes durante a gravidez é maior devido ao aumento de peso. Se tem problemas de má circulação as probabilidades aumentam. O uso recorrente de meias de descanso poderá dar-lhe uma ajuda, assim como a aplicação de cremes específicos estimuladores da circulação.
Pele – É comum a pele sofrer alterações devido às grandes doses hormonais que o organismo fabrica durante a gestação. O aparecimento de manchas na pele – cloasma gravídico – ou ‘pano’, como é vulgarmente conhecido, é bastante comum. Manchas acastanhadas, que assumem diferentes proporções podendo inclusive atingir a zona do rosto, ou o aparecimento de acne, são alguns dos sintomas mais comuns ao nível da pele.
Amamentar ajuda a recuperar a forma
Ficou surpreendida? Mas é verdade, dar de mamar ao bebé contribui para o regresso da boa forma mais rapidamente, para além de fazer bem à saúde o do recém-nascido. Como refere a terapeuta Teresa Garcia, ‘A amamentação além de ser benéfica para o bebé, ajuda a mãe a recuperar o seu peso mais rapidamente, pois exige uma perda calórica grande, o que pode favorecer o emagrecimento.’
Segundo a recomendação da Organização Mundial de Saúde, a prática da amamentação exclusiva durante seis meses, contribui para uma perda de peso por parte da mãe, de forma mais rápida e saudável: cerca de 500g por semana entre a 4.ª e a 14.ª semana pós-parto, o que equivale a uma perda de 5kg.
Caso note num aumento de apetite, não entre em pânico. Como está a perder muitas calorias, é normal que sinta mais fome. O que deve fazer? Tenha apenas cuidado com a alimentação (o que não é sinónimo de dietas malucas!) mas coma saudavelmente quando sentir vontade.
Plano de ataque
Algumas horas após ter dado à luz, comece o seu primeiro exercício. Não, não se trata de brincadeira, mas não estranhe se nas primeiras 24 horas pós-parto, o seu médico lhe disser para começar a movimentar-se, nem que seja de forma lenta e pausada no corredor. Este procedimento é comum e tem como finalidade evitar a trombose venosa, e facilitar a recuperação fisiológica. É normal que sinta um desejo de começar já a perder peso, mas este simples ‘caminhar’ não tem essa finalidade. É antes uma forma de obrigar o seu corpo a reagir ao esforço a que esteve sujeito.
Nunca é demais lembrar que a verdadeira recuperação pós-parto só deverá ser feita a partir da terceira semana em caso de parto normal, ou a partir da sexta semana em caso de cesariana. Até essa altura a grávida deverá ir contribuindo com pequenos gestos e comportamentos para que o seu corpo ‘vá ao lugar’ de forma natural, sendo necessárias diversas abordagens não só ao nível dos exercícios, mas também ao nível das dores que se desenvolvem durante a gravidez.
Dores lombares, ao nível da cervical são bastante comuns entre as grávidas, devido ao peso da barriga que tiveram de suportar durante a gravidez que provoca um esforço redobrado, sendo por isso de extrema importância que a mãe proceda à realização de exercícios simples para ajudar na recuperação pós-parto.
Combata aos problemas pós-parto
Os exercícios do períneo pélvico – ou exercícios de Kegel – são extremamente importantes para voltar a ter uma vida normal. Trata-se de uma forma muito simples de, aos poucos, ir trabalhando toda a musculatura da parte vaginal e ânus que estiveram particularmente sobrecarregadas durante a gravidez. As mães poderão ir contraindo estes músculos em curtas sessões de cinco minutos, evitando assim problemas, como a incontinência urinária, que geralmente têm tendência a ocorrer no pós-parto e contribuindo para uma melhoria da circulação sanguínea. Como explica a terapeuta Teresa Garcia, ‘quando as grávidas não trabalham estes músculos, têm tendências a ficar com problemas de incontinência urinária, que é um dos problemas pós-parto mais comum – elas espirram, tossem e vão soltando pequenas perdas de urina. Para tal há a fisioterapia que promove o trabalho desta área que tem de ser ginasticada.”
Mas não queira iniciar o exercício de modo regular e intenso. O seu corpo precisa de tempo para se habituar ao novo ritmo. Faça-o gradualmente.
Ventre liso sem cinta é impossível?
Após a gravidez o seu desejo será o de conseguir enfiar-se dentro das suas calças de ganga favoritas e largar definitivamente a roupa de grávida, mas nem sempre isso acontece como esperado. O colocar-se na balança e deparar-se com o peso extra que ainda permanece no seu corpo poderá provocar-lhe frustração, mas já diz o ditado ‘Roma e Pavia não se fizeram num dia’.
O abdómen leva tempo a recuperar e mesmo passado algumas semanas após ter dado à luz, ainda parecerá que tem ‘barriga de grávida’. Muitas mães preocupadas com as gordurinhas extras que teimar em permanecer nesta zona do corpo, caem no erro de ‘amarrar’ a barriga com a tão temida cinta, repetindo assim um erro crasso que passa de geração em geração há muito tempo.
Está cientificamente provado que o uso da cinta pós-parto deve ser moderado, nunca a utilizando como única garantia para obter um ventre liso após a gravidez. Como refere a terapeuta, “Andar com a cinta, completamente espartilhadas é contra-prejudicial. Há mães que levam a cinta logo para o hospital e acham que sem ela nunca mais voltam ao sítio, e isso é um comportamento que tem de ser combatido porque se tornou do senso-comum” e acrescenta, “ao contrário do que as pessoas pensam, os ossos ‘não saem do sítio’ e quanto mais tempo usarem a cinta, mais tempo demoram a recuperar a forma que tinham”.
Se pensa que está a contribuir para uma melhor recuperação dos músculos abdominais, engana-se. A compressão a que os músculos estão sujeitos é de tal forma, que a mesma ficará ‘preguiçosa’. O uso da cinta deverá ser aconselhado em casos que realmente o necessitem, quando a mãe sente algum desconforto, ou por conselho médico, caso contrário não o faça só porque a sua mãe ou amigas o fizeram.