Antes, quando se comprava um produto de beleza, a grande preocupação era saber o que ele continha: fosse retinol num creme de rosto, cafeína num anticelulite ou óleo de abacate num condicionador para o cabelo, por exemplo, o que contava acima de tudo eram os activos que garantiam a promessa feita pelo produto. A excepção eram os produtos sem perfume e sem álcool.
Mas recentemente surgiu uma outra corrente.
Na senda do desejo de regressar ao que há de mais puro e natural, os ingredientes sintéticos começaram a ser postos em causa – e os da cosmética não foram poupados. Parabenos, ftalatos e muitas outras substâncias usadas há anos na formulação de cosméticos, e por todos consideradas seguras, têm sido acusadas de provocar irritações e alergias, ter actividade carcinogénica ou perturbadora do sistema endócrino, e poluir o ambiente.
Os dados que existem sobre estes alegados efeitos são considerados inconclusivos por muitos especialistas, e a maioria das empresas de cosmética considera que, por enquanto, e à luz do que se sabe actualmente, não há razões científicas para mudarem as suas fórmulas. Além disso, trata-se de ingredientes usados há dezenas de anos, com boas provas dadas de inocuidade, alguns dos quais já foram até ilibados. Mas devido à percepção que os consumidores têm do eventual risco ligado a estas substâncias, muitas marcas, pequenas e grandes, optaram por eliminá-las: nuns casos por conceito de marca, noutros por um princípio de cautela, noutros ainda com o simples propósito de dar uma resposta alternativa aos consumidores apreensivos face a ingredientes mal afamados. O que nem sempre é simples, porque formular um cosmético ‘sem’ é muito mais complicado e mais caro.
Então, em que ficamos face aos cosméticos que continuam a usar essas substâncias? Se são marcas conhecidas e com provas dadas, nada de pânico: “A não utilização de um determinado ingrediente numa fórmula não significa que esse ingrediente não é seguro”, explicam os responsáveis do grupo L’Oréal. E se pensarmos bem, quem se arriscaria numa questão destas? Ter ou não ter os ingredientes em causa é, actualmente, uma questão de filosofia de marca. Em qualquer dos casos, a verdade é que toda esta situação acaba por ser benéfica para quem compra porque aumenta o leque de escolha: convencional, ‘sem’ ou bio, é uma questão de opção.
Convém, no entanto, ter em conta que, quando se retira um ingrediente sintético para o substituir por outro natural, isso não significa que não possa haver riscos de irritação ou alergia: por um lado, não existe nenhuma substância que se possa garantir que nunca provocará nenhuma reacção alérgica a ninguém; por outro lado, as substâncias de substituição nem sempre são sujeitas a controlos de inocuidade tão apertados como as utilizadas nos cosméticos convencionais, portanto, convém optar por marcas que se preocupam em testar a inocuidade dos ingredientes que usam. “Tudo tem de passar pelo crivo da segurança, ser testado e provado, seja natural ou sintético. Até porque nem tudo o que é natural é forçosamente bom e seguro”, explica a Dra. Ana Sofia Amaral, directora científica da L’Oréal Portugal.
Será este movimento apenas uma nova opção, ou o princípio de uma mudança radical na forma como os cosméticos são concebidos e formulados? Neste momento, é tão fácil responder a esta questão como dizer quais serão os números premiados no Euromilhões da próxima semana, mas o mais provável é que as coisas continuem a evoluir com a Ciência, a permitir tirar cada vez mais partido da Natureza, respeitando-a a ela… e a nós.
QUEM É QUEM NA COSMÉTICA ‘SEM’
Além das marcas certificadas bio, que por definição não contêm (ou contêm apenas em quantidades ínfimas) estas substâncias, há outras que, apesar de nem sempre serem bio, porque não usam ingredientes biológicos sistematicamente em todos os seus produtos, tomaram a decisão de não as incluir nas suas formulações, por uma questão de filosofia e valores da marca.
Ren
Marca inglesa fundada por dois amigos, o seu nome significa ‘limpo’ em sueco. “Quando a mulher de um deles ficou grávida e começou a ter reacções adversas aos cosméticos, foi investigar para tentar descobrir a causa. Para a ajudar, o marido e o amigo começaram a interessar-se por cosmética e decidiram criar uma marca isenta de tudo o que pudesse ser potencialmente irritante ou nocivo. “Descobrimos que não existiam produtos puros, eficazes e agradáveis de usar, porque são difíceis de produzir, caros, e ninguém queria fazê-los”, diz um dos fundadores, Robert Calcraft. Sem petroquímicos, sulfatos, parabenos, glicóis, silicones e muitas outras substâncias, a marca caracteriza os seus produtos como puros e bioactivos. “Puros em vez de naturais ou bio, por ser uma terminologia menos confusa, e porque não usamos ingredientes inimigos da pele, e bioactivos, porque os ingredientes activos são 100% naturais.” A marca propõe cuidados para rosto, corpo e banho, 18,89 a 75,55, conforme o produto (F)*, que estão entre os preferidos de famosos como Kate Moss, Jude Law, Sienna Miller ou Uma Thurman.
Caudalíe
Marca francesa fundada por um jovem casal, que foi a primeira a perceber e utilizar as potencialidades dos polifenóis das grainhas de uva e do resveratrol – um dos mais poderosos activos anti-idade actualmente usados em cosmética. “Quando criei a Caudalíe, havia substâncias que eu não queria usar nas fórmulas”, explica a sua fundadora, Mathilde Thomas. “Os parabenos eram uma delas, mas na altura não se sabia como substituí-los, e comecei a usar tubos airless em vez de boiões, para poder diminuir a quantidade de parabenos. A partir de 2005, conseguimos uma boa alternativa aos parabenos, para toda a gama. Suprimi o fenoxietanol, substituí o lauril sulfato de sódio por substâncias à base de aveia e de açúcar de milho ou de coco; sempre que posso uso emulsionantes vegetais, não uso corantes, óleos minerais ou matérias de origem animal. Ainda uso silicones, porque não encontrei uma boa alternativa, mas em quantidades ínfimas. Tentamos fazer produtos o mais naturais possível.” A marca tem cuidados para rosto e corpo, 4 a 89, conforme o produto (F)*.
Pureology
Constituída por champôs, condicionadores e máscaras, esta marca americana é específica para cabelos com coloração. As suas fórmulas 100% vegan, com extractos botânicos bio e essências de aromaterapia, e os seus champôs sem sulfatos estabeleceram um novo padrão de qualidade na cosmética capilar. As embalagens são ecologicamente responsáveis. 22 a 48, conforme o produto (C)*.
Leonor Greyl
Marca francesa que é uma referência no cuidado do cabelo, com fãs famosos entre actrizes e cabeleireiros internacionais. Os seus produtos são formulados à base de ingredientes naturais usados em altas concentrações e isentos de silicone, lauril sulfato de sódio, alcatrão e parabenos. Informações sobre pontos de venda (F)* pelo tel.: 808 202 534 ou
info@sanosenses.pt.
Para além destas marcas, há outras que têm vindo a estender o conceito ‘sem’ a todos os seus produtos: é o caso da Nuxe (F)* e da L’Occitane (LP)*. Outras propõem alguns produtos ‘sem’ pontuais. É o caso de:
• Linha de limpeza do rosto Green Paradise (M. Jeanne Piaubert), com 100% de activos naturais, sem parabenos e sem perfume, 29 a 42 (P)*.
• Creme de rosto hidratante Hydra-Floral (Decléor), com 85% de ingredientes de origem natural e sem parabenos, 55,34 (P)*.
• Gama Riqueza da linha capilar Série Nature (L’Oréal Professionnel), com champô sem sulfatos, máscara sem tensioactivos catiónicos, óleo sem silicones, e perfume 100% natural, 14,50 a 22,30 (C)*.
• De La Roche-Posay, creme antiborbulhas e pontos negros Effaclar Duo, sem álcool, corantes e parabenos, 13,90 (F)*; creme antivermelhidões Rosaliac XL, sem parabenos, 17,60 (F)*.
• Alguns produtos das marcas Oriflame (CT)*, Kiehl’s (LP)*, Phyto (F)* e a linha capilar Essencity (Schwarzkopf) (C)*.