– Qual é o seu maior defeito – ‘Sou muito teimosa’.
Como quem diz, eu bem queria controlar-me mas tenho um carácter muito forte (suspiro). Ser teimoso é daqueles defeitos que não são defeitos nenhuns. Nunca ninguém responde um defeito de verdade, como ‘sou verde de inveja’ ou ‘costumo bater nos meus filhos e também trato mal o cão’, ou ‘não mexo uma palha o dia todo ‘, ‘cuspo no passeio’, ‘faço desfalques na Bolsa’, ou ‘não se pode contar comigo para nada’.
– A sua maior qualidade – ‘Sou muito amiga dos meus amigos’.
Tem de ser uma qualidade caseira, convém não dizer ‘tenho um Q.I. de 160 como a Sharon Stone’.
– O que mais lamenta no mundo – ‘A falta de valores.’
A fome já era, e desejar imenso a cura do cancro também. O que está na moda agora lamentar é a falta de valores.
– O que mais aprecia num homem – ‘Beleza interior, sentido de humor e sensibilidade.’
Fica sempre bem e eles todos acham que são exactamente assim.
– Dieta – ‘Evito os doces e os fritos’
(para mostrar que conhece a pirâmide alimentar e é frequentadora habitual do site do Instituto Português de Cardiologia) ‘mas como de tudo. Se me apetece um chocolate, também como’, para dar aquela pala que é uma pessoa ‘como as outras’.
– Plásticas – ‘Não condeno, mas não faria’.
Ninguém sabe é das dez que já têm em cima. E será que Botox conta como cirurgia plástica? Além disso, geralmente, ninguém faz estas perguntas a quem precisa de plásticas.
– Quer ter filhos – ‘Sim, mas não para já.’
Ter filhos é ser-se elevada automaticamente à condição de cota.
– Ser mãe mudou a sua vida? (se já tem filhos) – ‘Absolutamente. A Carolina (ou o Tomás) foi a melhor coisa que já me aconteceu.’
– Acha-se bonita? – ‘Sinceramente, nunca me achei bonita. Sempre fui Maria-rapaz.’
– Quem é o seu ídolo – ‘A minha mãe’.
Também pode dizer ‘a minha mãe e Jesus Cristo’.
– Que é que faz nos tempos livres – ‘Ler, ir ao cinema e ouvir música’.
Nem pense em dizer que passa o tempo esparramada no sofá a cortar as unhas dos pés, ou que não faz basicamente nada de interessante. Por outro lado, se disser que faz fotografia subaquática, leva o jantar a velhinhos, participa num grupo de danças búlgaras ou monta a cavalo na modalidade de ‘dressage’, vão achar que é snobe e não se quer misturar com o povo.
– Os seus autores preferidos – É pouco provável que lhe perguntem isto, mas no caso diga ‘Autores portugueses’. Ou ‘romances e biografias’.
O melhor é não generalizar. Não se ponha a dizer que adorou Nietzshe, os primeiros contos de Puskin e os existencialistas franceses da segunda metade do século XX.
– É verdade que acabou tudo com o João Ricardo? – ‘Não falo sobre a minha vida privada’.
Também não é preciso, eles vão descobrir de qualquer maneira.
– Qual é o sonho da sua vida – ‘Ser feliz’.
Nada de responder qualquer coisa demasiado original, ambiciosa ou honesta, como sacar o Paulo Jorge à Vanessa Patrícia, encontrar alguém que me ponha por conta e não fazer absolutamente nada o resto da vida, tirar um mestrado em física nuclear ou emigrar para a Califórnia.
** Este artigo foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico **
Assine a ACTIVA em formato DIGITAL!