Às vezes, a decisão de mudar de vida passa por coisas tão simples como… não conseguir apertar um cinto. Foi o que aconteceu a Joaquim Gabriel, 37 anos, técnico de telecomunicações, numa visita à Isla Mágica de Sevilha com os filhos. “Quando me quis sentar na cadeira da montanha-russa, nem conseguia apertar o cinto. Tive de sair. Foi mesmo humilhante.” Na altura, pesava 147 quilos. Da humilhação ao susto, foi um passo: “Sempre fui gordinho, mas não me apercebi realmente do perigo da situação até uma visita de rotina ao médico do trabalho. Assustei-me quando o vi tão preocupado. Mediu-me a tensão 5 vezes, e finalmente disse-me: ‘Você tem uma arma apontada à cabeça, só falta disparar’.”
O terceiro fator apareceu por acaso: numa visita a uma exposição no Parque das Nações, foi abordado por uma Personal Trainer do Holmes Place, que lhe deu a conhecer o programa Peso Vital. “Combinámos uma visita ao ginásio, e decidi tentar. Isto foi há três meses. Já vou com 16 quilos a menos.”
Criado pelo Holmes Place, ‘Peso Vital’ é um programa pioneiro em Portugal que aproveitou o ‘empurrãozinho’ do programa ‘Peso Pesado’ para trazer ao ginásio as pessoas que mais precisam. “Dantes havia uma ideia contraditória: ‘eu tenho de perder peso antes de ir para o ginásio’”, nota Marco Graça, coordenador geral do programa. “Isso não fazia sentido, mas é compreensível que as pessoas com excesso de peso se sentissem desenquadradas e pouco à vontade. E percebemos que precisavam de mais atenção do que aquela que estavam a receber.”
A IMPORTÂNCIA DE TREINAR EM GRUPO
‘The Biggest Loser’ mudou hábitos de vida e trouxe para a rua pessoas que até então sentiam vergonha de sair de casa. “Foi um grande incentivo porque perceberam que não eram as únicas com aquele problema”, afirma Marco. “Até aqui, limitavam-se a fazer dieta – quando faziam – mas não faziam exercício, que é imprescindível para quem quer perder peso. Essas pessoas têm de ter acompanhamento no ginásio, têm de ter treino específico, senão desistem com facilidade.”
Assim nasceu o ‘Peso Vital’, um plano completo de treino e nutrição que aposta na recuperação da qualidade de vida a quem luta contra a obesidade. “O ‘Peso Pesado’ tem uma estrutura diferente: é um programa de televisão com um tempo específico. Aqui, trabalhamos a longo prazo, para que depois as pessoas não ganhem todo o peso que perderam”, explica Marco. O programa é de 12 meses. Os primeiros 6 são pura perda de peso, os seguintes de manutenção. Por 149 euros mensais, inclui plano alimentar, acompanhamento médico (pela mesma equipa que acompanha o ‘Peso Pesado’) e Personal Trainer.
A complexidade do programa parte logo dos seus ‘alvos’: estes atletas são pessoas que não têm apenas uns quilos a mais, mas já vêm com obesidade verdadeira, que tem de ser encarada como uma patologia. “A obesidade tem a ver com vários fatores: genéticos, alimentares, psicológicos, sociais, e vencer estas etapas todas é muito complicado!”, nota Marco. Essas áreas estavam até agora separadas. Este programa junta todas elas para trabalharem em sinergia.
‘ANDE A PÉ’ NÃO FUNCIONA…
Então imaginemos que decido mudar de vida e me inscrevo no programa. O que é que acontece? “Todas as segundas- -feiras, tem uma conversa individual com o PT que a está a seguir, para avaliar o seu estado, fazer pesagens e medições, fazer acompanhamento psicológico, e ver se há alguma modificação a fazer nos planos alimentares ( todos os PTs têm formação nutricional na Clínica Metabólica) ou de treino”, esclarece Marco. Apesar de trabalhar em grupo, cada pessoa tem o seu plano específico. Durante a semana têm treinos de ginásio, de cardio e musculação, e aulas de grupo exclusivas só para o grupo do programa ‘Peso Vital’. Numa fase inicial só fazem dois treinos, depois passam para três treinos e duas aulas de grupo, e depois têm atividades outdoor. As aulas têm componentes técnicas especiais. Por exemplo, numa fase inicial só trabalhamos grupos musculares grandes, pernas, peito e costas, para haver logo grandes gastos calóricos. Não vamos fazer agachamentos com grande amplitude, por exemplo, mas há muito que eles podem fazer.”
Vantagens: o acompanhamento faz com que as pessoas se sintam… bem, acompanhadas, contribuindo para o sucesso da mudança. “Não acredito que uma pessoa nestas condições consiga perder peso sem acompanhamento específico e sem treino fora do ginásio”, explica Marco. “É como ir ao médico e ouvir ‘Ande a pé, que isso passa’. Isto não ‘passa’ assim. Toda a gente sabe que deve sair do sofá, usar as escadas, estacionar o carro mais longe, dar uma caminhada de 30 minutos por dia, mas isso não tem impacto nenhum nas suas vidas!”
Claro que a pessoa pode afastar o sofá e fazer agachamentos em casa: “Mas isso não é efetivo! Ir ao ginásio faz parte do compromisso da pessoa com o seu objetivo. Às vezes, só dizer ‘bom dia’ a quem os recebe à entrada basta para os incentivar. Mesmo para quem já treina todos os dias, a parte mais difícil é o caminho de casa até ao ginásio (risos).”
UM PAI MAIS ‘MARGUINHO’
O caminho de casa até ao ginásio foi o que Joaquim Gabriel aprendeu a fazer sem falta. “Encaro o meu treino como uma obrigação,” conta. “Aquilo que aprendi nestes meses é que temos que pensar mais em nós, temos de deixar de pôr o exercício no fim da nossa lista de prioridades. Já vim da margem sul para Miraflores às oito da noite para treinar. Mas adoro. Os PTs são muito motivadores, acarinham-nos, encorajam-nos, ligam-nos quando faltamos a um treino, e isso faz toda a diferença para quem tem de batalhar à séria. Estou no ginásio para dar o meu máximo, não para me lamentar, e é muito compensador. Molho mesmo a camisola. Quando lá cheguei, corria 30 segundos. Agora, corro meia hora. E ainda carrego 130 quilos…”
Só se fala no esforço, mas as recompensas são às dezenas. “Então não são! As coisas mais simples, como ser capaz de subir escadas, atar os atacadores, brincar com os meus filhos, tornaram–se preciosas. O meu filho diz que o pai está mais ‘marguinho’… A maioria das pessoas não tem noção do que isto significa para nós…”
Quanto à alimentação, mudou alguma coisa, mas nada radical. “Basicamente, dantes comia aquilo que me apetecia, agora penso duas vezes antes de pôr qualquer coisa à boca.” O seu objetivo é chegar a um peso de dois dígitos… Temos que nos responsabilizar pela nossa vida. Se nos esforçamos por atingir um peso e depois voltamos à vida que tínhamos dantes, todo o trabalho foi em vão…”
NÃO PODE SER UMA OBSESSÃO
Se já estão a dizer ‘ah é fácil emagrecer para um homem, haviam de passar por duas gravidezes e já me diziam se é fácil’, também pensámos no vosso caso. Perder muito peso pode ser desmotivante para as mulheres, que passam por mudanças hormonais complicadas. Foi o caso de Sylvie Martins, 35 anos, técnica de cobrança: depois de dois filhos seguidos, os quilos recusaram-se a deixá-la. “Acumulei o peso das duas gravidezes”, conta. “Na primeira fiquei com 100 quilos, na segunda estive lá quase. Um dia, uma colega de trabalho arrasta-me ao Holmes Place, e eu fui porque sabia que era mais fácil treinar em conjunto.”
Já tinha treinado antes, e hoje recuperou a rotina do exercício diário. “Esforço-
-me por explicar às pessoas que não é um sacrifício, ganha-se o gosto por treinar. É óbvio que na primeira semana a pessoa anda moída, mas devemos continuar a treinar.”
Confessa que até agora só perdeu quatro quilos dos 85 com que chegou (“era suposto cumprir os mandamentos nutricionais deles mas não cumpro nada!”, ri) mas notou imensas mudanças no corpo: “Perdi volume, sinto a roupa muito mais larga, tenho o corpo muito mais definido. E sobretudo tenho muito mais resistência. É diferente treinar sozinha e ser acompanhada por alguém que puxa por nós. Cansa, pois claro que cansa. Mas estamos lá para isso. E é uma vitória já termos capacidade para ir a uma aula de bicicleta fixa, por exemplo.”
O que a motiva é acima de tudo a saúde. “Dantes, ia jogar à bola com o meu filho, dava dois chutos e ficava KO. Hoje, carrego com ele e com os sacos de compras e não me custa.”
Claro que há dias piores: “Às vezes é desmotivante porque há pessoas que emagrecem mais, mas as pessoas mais pesadas também perdem peso mais depressa. Uma colega minha entrou em depressão porque o peso se tornou uma obsessão na vida dela. Também não podemos viver só para isto, mas transformá-lo num instrumento a nosso favor.”
Então e o ‘Peso Pesado’, costuma ver? “Por acaso não”, ri. “Lá em casa é mais o Canal Panda…”