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Há uns meses, Ian Robertson, neurocientista e professor de psicologia clínica no Trinity College de Dublin, reencontrou um antigo assistente da época em que presidia ao departamento de pesquisa da sua universidade. Enquanto punham a conversa em dia, o outro disse: ‘Lembras-te de um dia em que me confidenciaste que não eras muito motivado pelo poder? Nessa altura, lembro-me de pensar: Pois eu sou!’. Hoje, o ex-assistente é reitor numa outra instituição académica. É o próprio Robertson que conta a história à plateia quase lotada que se juntou para o ouvir na conferência ‘The Winning Mindset’ (A atitude vencedora), tema deste ano da 6.ª edição da Happy Conference, que decorreu na reitoria da Universidade Nova de Lisboa. 

Um upgrade de nós próprios
Uma das áreas de investigação de Robertson é justamente o sucesso e o efeito que tem na nossa mente, que explorou em livros como ‘The Winner Effect’ (O efeito vencedor’). “Se criarmos sucesso para nós próprios, transformamo-nos física, mental e quimicamente”, disse à audiência durante a palestra. Os nossos cérebros transformam-se e tornam-nos numa versão melhorada de nós próprios sempre que atingimos os nossos objetivos. Vencer, aumenta a produção de testosterona (nos homens os níveis  desta hormona são maiores do que nas mulheres, mas nós também a produzimos) que, por sua vez, aumenta a produção de dopamina, um antidepressivo natural que ativa os centros de bem-estar no cérebro, tornando–nos mais felizes, como explica Ian Robertson. A dopamina também tem uma ação positiva no lobo frontal do cérebro, expandindo-o ligeiramente. “Por isso, o sucesso também nos torna mais inteligentes, ajuda-nos a planear melhor, torna-nos mais confiantes e aumenta a nossa autoestima.” E ainda nos ajuda a combater o cortisol, a hormona do stresse, por isso também melhora a nossa saúde física. A prova disso é uma estatística interessante apresentada por Robertson: em média, os vencedores de Oscars vivem mais quatro anos do que os nomeados.

Tem instinto matador?
Segundo o investigador, os seres humanos são movidos por três grandes forças motivadoras: afiliação – a necessidade de sermos aceites pelos outros –, realização – a necessidade de concretizar projetos, obter bons resultados – e poder – a necessidade de ter controlo sobre os outros. Cada uma delas vem com um medo que lhe é associado: da rejeição, do fracasso e da perda de controlo, respetivamente.
Mas nem todas têm o mesmo peso para cada um de nós: se há quem seja muito motivado em sentir-se aceite pelo grupo, outros não precisam tanto disso, sentindo-se muito mais orientados para o poder.
Se é uma daquelas pessoas para quem a concretização de projetos e os bons resultados são o que a faz saltar da cama de manhã, temos boas notícias: tem um dos elementos essenciais para vencer na vida. Mas se ninguém tem problemas em admitir que gosta de ser aceite ou que é orientado para atingir objetivos, o mesmo já não se pode dizer da motivação para o poder. Primeiro, porque é a mais difícil de reconhecer em nós próprios, por ser mais inconsciente. Depois, porque teríamos de admitir que sentimos um certo prazer em controlar aquilo que os outros querem, precisam ou temem. “O poder é um tabu, um pouco como o sexo ou a morte. Mas é essencial”, observa Robertson.
Para a maior parte dos humanos, um dos maiores motivos de stresse é justamente o medo de ser rejeitado pelos seus pares. O que faz sentido em termos evolutivos: aprendemos e transmitimos conhecimento em grupo; ser expulso de um grupo significava a morte. Mas o medo da rejeição também nos faz hesitar na hora de tomar uma decisão difícil ou pouco popular – e os líderes precisam dessa capacidade. O investigador chama–lhe o ‘instinto matador’: é comum em desportistas de alta competição (boxers, por exemplo) e em homens de negócios. “As pessoas com pouca necessidade de poder não têm instinto matador. O cortisol, a hormona do stresse, aumenta quando ganham. É o sucesso que os stressa! Isto acontece porque estão desconfortáveis, ainda que inconscientemente, com a ideia de dominarem os outros.”
Então não basta ter motivação para a concretização de objetivos para ser um líder? “Por si só não chega. Para se ser um bom líder é preciso um certo apetite pelo poder – não tem de ser muito grande, mas o suficiente para garantir que a liderança não é sabotada pela ansiedade que, de outro modo, o irá afligir sempre que tiver de tomar decisões duras e pouco populares.”

Poder ‘S’ e poder ‘P’
Se já está preocupada porque acha que o poder corrompe – “se é assim prefiro ser uma zé-ninguém, muito obrigada” –, é melhor abrir os seus horizontes. Robertson descobriu duas formas distintas de apetite pelo poder: o poder P (pessoal) e o poder S (social). O primeiro é bem mais primário e egocêntrico, é o puro prazer em ser chefe e ter domínio sobre alguém. Como tudo, em demasia corrompe, distorce-nos o pensamento, as emoções e o comportamento – demasiada testosterona a chegar ao cérebro.
Já o poder S (social) é muito mais orientado para o bem comum do grupo, da equipa de trabalho ou da sociedade e não apenas para fins egoístas. Nas pessoas que conseguem um bom equilíbrio entre estas duas formas de motivação para o poder, os picos de testosterona são menos acentuados. Adivinhe quem é que, em geral, tem níveis mais elevados de poder S? As mulheres. É por isso que a sociedade teria muito a ganhar se existisse mais presença feminina em postos de liderança política e financeira, observa Robertson. “O poder ‘S’ não é uma alternativa ao poder ‘P’, mas uma espécie de ‘irmã’. Não temos poder ‘S’ sem termos também um pouco de poder ‘P’. Mas sim, idealmente um líder teria altas doses de poder ‘S’, que serviriam de antídoto aos efeitos negativos do ‘P’. Será difícil regular os dois poderes de modo a termos uma percentagem de 50% de cada, mas enquanto conceito não seria má ideia.”

O poder também se treina!
Há uma velha máxima muito apreciada pelos aspirantes a líderes e por alguns investigadores de neurociências como Robertson: ‘fake it ‘til you make it’, ou seja, ‘fingir até conseguir’. Pode não acordar todos os dias em modo Merkel, mas há velhos truques que a podem ajudar a entrar no espírito de líder. Ian Robertson chama-lhe ‘power pose’ ou a ‘pose de poder’: assuma uma postura direita, cabeça erguida e olhar em frente. Faça com que o seu corpo ocupe o máximo de espaço e caminhe assim pela sala durante 5 ou 10 minutos – não tem que andar à Hulk, mas nada de se encolher. Por alguma razão, abrir e fechar a mão direita enquanto faz isto também ajuda. “Adotar poses de poder aumenta a produção de testosterona, que por seu lado reduz a ansiedade e aumenta a confiança. Ainda não sabemos se podemos fazer estes efeitos perdurar a longo prazo. Mas se praticarmos bastante no dia a dia, talvez possamos provocar efeitos mais duradouros na nossa motivação para o poder. Quando se sentir tímida e ansiosa ao tomar uma decisão enquanto líder, pode reduzi-la um pouco ao praticá-la antes. Se o fizer vezes suficientes, de forma bem-sucedida, tornar-se-á mais fácil decidir sem tanta ansiedade. Até poderá começar a sentir satisfação em tomar decisões difíceis.” 

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