*artigo publicado na revista ACTIVA de março de 2017
O pediatra Marisol Anselmo começou a ‘socorrer-se’ da homeopatia há vários anos com o objetivo de diminuir a administração de medicamentos alopáticos (como antibióticos ou corticóides inalantes), que têm vários efeitos adversos.
Quando começou a sugerir medicamentos homeopáticosàs crianças os pais aceitaram ou ficaram desconfiados?
Muitas vezes, os pais já vêm ter comigo para saber se é possível reduzir a quantidade de medicação química que é dada aos filhos, sobretudo em alergologia, que usa muitos medicamentos – algumas vezes absolutamente necessários, claro – mas que outras vezes podem ser reduzidos com a ajuda da homeopatia.
Quando não me procuram com essa intenção, mas vejo que há uma janela de oportunidade e há vontade de experimentar a terapia homeopática – nunca fazendo isenção total da medicação que está a tomar – também a sugiro. O que acontece é que oferecemos aos pais uma outra oportunidade de tratamento, tentando aliviar alguma medicação química e fazendo depois um controle apertado.
Aplica a terapia homeopática em que doenças infantis?
Atualmente recorro à homeopatia em tratamento agudo de doenças frequentes, como as amigdalites, as virais, porque até aos 3 anos muitas amigdalites são de causa viral e muitas vezes são prescritos antibióticos de forma errada. Também prescrevo no caso de otites, mas em crianças um bocadinho maiores. E aqui as crianças devem ser observadas novamente passados 2-3 dias para ver se estão melhores ou não.
A homeopatia também se revelou benéfica no caso de bronquiolites de repetição, na rinite ou asma alérgica, e nas otites serosas, que são complexas, porque não existe alternativa dirigida do ponto de vista alopático [medicina convencional], ou seja, não existe um tratamento dirigido, e muitas vezes os miúdos são reconduzidos a cirurgias que acabam por repetir mais tarde. Com a homeopatia é possível melhorar o timpanograma e evitar ou atrasar a cirurgia. E depois há outras patologias que são menos comuns e que também beneficiam da homeopatia, como os eczemas tópicos, alterações de comportamento, concentração, problemas escolares…
Não tem reações adversas?
Nenhuma, o que é para mim a grande vantagem da homeopatia, isso e a possibilidade de conjugar com medicação alopática, ou seja, fazer um tratamento misto. Por exemplo, no caso de meninos com asma, associo à prescrição de Singular, que é um medicamento que não tem grandes efeitos adversos e tem boa resposta, a homeopatia. Reduzindo assim a administração persistente do anti-histamínico, que esse sim pode ter efeitos adversos tomado ao longo do tempo.
Outro factor positivo da homeopatia é poder administrar um esquema preventivo antes do início da época das alergias. Nestes casos, os pais procuram consulta entre fevereiro e março no sentido de podermos fazer alguma prevenção dirigida. Quando são doentes já conhecidos, marcam sempre para essa altura, e marcam também para setembro-outubro no caso das alergias de inverno/infeções de repetição e percebem que o número de episódios agudos reduz.
Mas não se pense que a homeopatia cura as alergias. Uma alergia de alto grau a ácaros ou gramíneas é difícil dizer que vai desaparecer. Não quero criar falsas expectativas aos pais nem que eles fiquem a pensar que a criança vai ficar curada e nunca mais vai ter nada. Isso é errado. Vamos ver o que é melhor para aquela criança: reduzir o número de episódios, espaçá-los no tempo, reduzir a sua intensidade, reduzir a medicação, isso é possível. Em algumas crianças efetivamente melhoram e desaparece quando crescem, mas isso também tem a ver com a história natural da própria doença.
Os tratamentos homeopáticos funcionam mais como prevenção ou como tratamento?
Funcionam nos dois sentidos, dependendo da forma como são aplicados podem ser feitos nas duas vertentes, de forma preventiva e quando há agudização dos sintomas também. E muitas vezes consegue-se não ir ao anti-histamínico porque, como já iniciaram a prevenção, o episódio agudo não é tão grave e às vezes consegue-se só com homeopatia aguda fazer alguma melhoria.
Quanto tempo demoram a fazer efeito?
Demoram alguns dias, uma semana, geralmente, até percebermos que a criança fica com menos ranho, um bocadinho mais seca. Não é tão rápida como a medicação alopática. Com um antibiótico ou um antialérgico, uma hora depois percebe-se logo que a criança está melhor, a homeopatia não é assim tão rápida.
E quanto tempo dura o tratamento?
Na prevenção de infeções de inverno, eu costumo sugerir fazer de outubro até fevereiro, que é a época do frio. Quando são alergias de primavera, a época mais crítica é a que vai de março a maio. Aqui, no Algarve, por exemplo, o calor começa cedo e os sintomas de rinite começam a aliviar em junho, dependendo da atmosfera e densidade polínica.
Como se apresentam os medicamentos para crianças?
São em grânulos e glóbulos, podem ser diluídos diretamente na boca, ou no caso dos bebés diluídos em água. Os grânulos são esferas com 3-4mm de diâmetro, quanto aos glóbulos, estes têm 2-3mm, são mais pequenos. Mas também há pomadas e xaropes, vendidos em farmácia.