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Se há uma molécula sobredotada, é o ácido hialurónico. Só para lhe dar uma ideia do seu poder, um grama de AH (como é conhecido abreviadamente) pode reter até 6 litros de água. Mas este super-hidratante tem muitas outras cartas na manga. Produzido naturalmente pelo nosso organismo, está presente um pouco por todo o corpo, nomeadamente nos olhos e nas articulações, mas mais de 50% encontra-se na pele, onde é fabricado maioritariamente pelos fibroblastos da derme e também pelos queratinócitos da epiderme, como nos explicou a cosmetologista Joana Nobre. “Biologicamente, o AH é um glucosaminoglicano, um açúcar, de alto peso molecular e encontramo-lo predominantemente na matriz extracelular do tecido conjuntivo, entre as células. É uma molécula hidrofílica que tem a capacidade de se ligar a uma quantidade de água até mil vezes superior ao seu peso, formando um gel altamente viscoso que não só oferece lubrificação, mas também atua como um amortecedor para os tecidos circundantes.”
A sua ação faz-se sentir a vários níveis: mantém a pele macia, preenchida e compacta, sendo importante na hidratação cutânea, nos processos metabólicos, na reparação da pele, amortecimento, e proteção antioxidante contra radicais livres e danos causados pelos raios UV. “A capacidade de atrair um grande volume de água, que lhe dá a propriedade de preenchimento de espaço, é a base da aparência de pele jovem fornecida pelo ácido hialurónico”, diz a cosmetologista. “Ele mantém a pele jovem e preenchida.”
Infelizmente, também para o ácido hialurónico a idade não perdoa (nem a exposição solar excessiva, que acelera o seu declínio) e essa é uma das razões da desidratação, afinamento e perda de elasticidade da pele que caracterizam a pele envelhecida.
Na cosmética: hidratar e redensificar
As suas propriedades únicas, nomeadamente a sua extraordinária capacidade de captar a humidade do ambiente e retê-la na superfície da pele, e uma tolerância ótima em todos os tipos de pele, fazem do ácido hialurónico um ingrediente perfeito para utilização em cosméticos e a verdade é que ele está em quase todas as fórmulas, sendo incluído em hidratantes como ingrediente humectante, como explica Joana Nobre. “É o humectante mais importante na indústria cosmética atualmente e o ingrediente com melhor notoriedade entre os consumidores.” Mas para além de combater a desidratação, o AH tem muitas outras ações na pele que fazem dele um ingrediente ímpar em fórmulas destinadas a corrigir outros sinais de envelhecimento. “Promove a reconstrução da membrana extracelular, uma vez que interage com outras macromoléculas, como o colagénio – vários estudos parecem indicar que também pode estimular a sua formação –, e com os fibroblastos; promove a proliferação e a migração celular; repara e renova os tecidos; influencia positivamente a cicatrização; e é considerado um posbiótico, o que significa que pode ajudar a nutrir e manter o microbioma da pele.”
O tamanho conta
Sendo uma molécula de alto peso molecular, ou seja, grande, o ácido hialurónico aplicado na pele não consegue penetrar, fica só à superfície a hidratar, por isso a indústria cosmética usa também versões fragmentadas, de menor peso molecular, que têm maior penetração, como explica Joana Nobre. “Todas as moléculas de ácido hialurónico possuem as mesmas propriedades hidratantes e são humectantes, que é basicamente o seu superpoder. No mesmo cosmético podemos usar uma combinação de vários AH e isso é bastante interessante. Na lista de ingredientes surge muitas vezes o hialuronato de sódio, que é a forma salina do ácido hialurónico, muito usado em cosmética pela sua estabilidade, biodisponibilidade pelo menor peso molecular, e capacidade de se combinar com outras moléculas de AH para equilibrar a fórmula e torná-la mais eficaz na hidratação da pele.” Procure na lista de ingredientes sodium hyaluronate crosspolymer, sodium hyaluronate, sodium acetylated hyaluronate ou hydrolysed Sodium hyaluronate.
Outra vantagem do ácido hialurónico é o facto de ser um ativo vegan e sustentável. “O AH começou a ser produzido a partir de cristas de galo, que contêm cerca de 15 vezes mais AH que a pele humana. Contudo, atualmente, a quase totalidade é obtida por biotecnologia, biofermentação feita por bactérias. É então recuperado, purificado e desidratado para formar um pó. Adicionado à água, forma um gel mais ou menos viscoso que é depois introduzido nas fórmulas cosméticas ou usado em injetáveis para medicina estética.”
Na medicina estética: preencher e dar volume
Pelas suas propriedades únicas, o ácido hialurónico é também um ingrediente privilegiado em procedimentos de medicina estética, usado na forma de gel injetável, como explicam Margarida Cerineu e Melanie Ferro, especialistas em medicina estética na Avenue Clinic. “A forma de aplicação é injetável porque queremos colocá-lo em camadas mais profundas, onde precisamos de fazer a reposição de algumas estruturas anatómicas que vamos perdendo com a idade. Há AH de diferentes reticulações e propriedades que podem ser usados consoante o resultado pretendido. O ácido hialurónico usado em medicina estética é biocompatível, apto para ser injetado”, esclarecem as especialistas.
O ácido hialurónico injetável pode ser usado em qualquer área da face, desde procedimentos de rejuvenescimento da arquitetura do rosto a pequenas correções, como um nariz adunco, passando por preenchimento do sulco nasogeniano, maçãs do rosto, mento, lábios ou olheiras, entre outros. “Por norma é usado no tratamento de preenchimento de áreas do rosto onde se perderam algumas estruturas de sustentação da face, nomeadamente gordura e matriz óssea. Com o AH conseguimos preencher levando a que essas áreas sejam reestruturadas novamente”, dizem Margarida Cerineu e Melanie Ferro. Outra das aplicações do ácido hialurónico em medicina estética é o preenchimento labial. “Mediante o objetivo do paciente podemos realizar um preenchimento com efeito de volume ou mais natural, mantendo as proporções do lábio, apenas ‘hidratando’ o mesmo.” Compete ao especialista selecionar o AH e a técnica mais adequada para o procedimento, respeitando sempre o objetivo de cada paciente.
Porque estamos a falar de um procedimento com injetáveis, é muito importante realizá-lo numa clínica onde é feito por profissionais com formação para o fazer com toda a segurança, a começar pela qualidade do ácido hialurónico que é injetado. Com a popularidade destes procedimentos há cada vez mais locais a propô-los a menor custo sem cumprir estes requisitos – o que é um risco. Fazer um preenchimento num cabeleireiro, mesmo que tenha uma salinha para tratamentos de estética, nunca é uma boa ideia: este é um procedimento de medicina estética e não de cosmética e se algo corre mal não saberão corrigir. Se vai fazer o investimento, compensa fazê-lo com um verdadeiro especialista. O resultado será melhor, mais afinado à medida dos seus desejos, e não correrá riscos desnecessários.